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Maré Nostrum
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Crítica: Mare Nostrum (2018)

Mare Nostrum atira para vários lados e só acerta o próprio pé.

Ficha técnica: 
Direção e roteiro: Ricardo Elias
Elenco: Silvio Guindane, Lívia Santos, Carlos Meceni
Nacionalidade e lançamento: Brasil, 4 de outubro de 2018
Sinopse: Roberto (Silvio Guindane) e Mitsuo (Ricardo Oshiro) são dois desconhecidos que, após uma série de coincidências, voltam para o Brasil no mesmo dia, depois de um longo tempo no exterior. Eles se encontram devido a um terreno que foi negociado pelos pais décadas atrás e decidem tentar ganhar dinheiro em cima do local.

Maré Nostrum

Mare Nostrum trata de uma pendenga imobiliária. Mare Nostrum fala de dramas familiares. Mare Nostrum nos remete à copa de 82, especialmente Sócrates e o não convocado Zé Carlos. Mare Nostrum tem os dois pés na fantasia (e nenhum deles ao mesmo tempo).  Mare Nostrum traz mais uma vez o dilema de um escritor frustado. Mare Nostrum é ainda um retrato de alguns tipos sociais do nosso tempo.

A repetição do título pareceu incomodar, pois é… o filme também. Sim, o longa vai por todos esses caminhos e a consequência quase que natural e não dar conta de todos eles e acabar sem aprofundamento.

Esta falta de rumo evidencia um problema macro, mas que poderia ser amenizado por micro situações bem feitas. Infelizmente não é o que ocorre aqui. Até tentamos nos engajar no drama do protagonista Roberto (Silvio Guindane), um homem que regressa ao Brasil após não ter sucesso profissional na Espanha, ele tem que cuidar da filha e de um terreno do pai. Contudo, diversas ações são incoerentes com o que foi apresentado.

Vamos aos exemplos: ele recebe um presente que desejava muito e simplesmente trata o objeto como algo qualquer. A mãe da filha dele, que aparentava um certo zelo, simplesmente sai de cena. As várias personagens que estão ligadas aos passado do pai de Roberto promovem encontros burocráticos e convenientes.

O elemento fantástico, surge do nada (mesmo tendo uma pista aqui, acolá). E o uso desse poder incorre em várias soluções “amigas do roteirista” ou sem sentido mesmo. Grosso modo é você ter um gênio da lâmpada com três pedidos e solicitar três balas juquinha.

Se o primeiro e terceiro atos têm uma velocidade acelerada (até demais), o segundo, e maior, vai na linha oposta. Cheio de idas e vindas, a barriga é evidente. Seja na construção do mito que foi o pai, seja nos momentos escolares da filha, ou até em movimentos inexplicáveis que envolvem uma assinatura.

Maré Nostrum

Mare Nostrum peca justamente em aspectos fundamentais: direção, montagem e roteiro. Ressalva seja feita: os atores estão honestos. Em especial a adolescente Lívia Santos, que a faz a Beatriz. A personagem extrapola em alguns momentos e também é incoerente (até para uma jovem), mas a atriz consegue passar tédio, ternura e curiosidade com eficácia.

A geografia e cronologia parecem estranhas aqui também. A marca temporal surge para delimitar uma questão futebolística, mas não parece compatível com o que foi apresentado. E as distâncias percorridas também são um tanto questionáveis.

Mare Nostrum é um terreno de ideias. Falta um desejo sincero para que elas floresçam.

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