Biografia: Fernanda Montenegro Pt. 3: “Depois de Central do Brasil”
Será que existe vida depois de Central do Brasil? Saiba o que aconteceu após o boom Central do Brasil
Central do Brasil levou Fernanda Montenegro de novo para os holofortes. A carreira da atriz renasceu, deu uma guinada, e o grande público redescobriu a atriz. Mas será que existe vida após Central do Brasil? Vamos ver como foi a carreira de Fernanda Montenegro, que mostra que nunca é tarde para dar um up nas nossas vidas.
A vida pós Central do Brasil
Após o fenômeno Central do Brasil, a atriz recebeu inúmeros convites para atuar no cinema. E sempre papéis étnicos, ofereceram papéis de chilena, madrilena, salvadorenha e até iraniana. E sempre participações. A atriz recusou-os afinal não eram papéis interessantes, nada que realmente a motivasse. Outra coisa que pesou para recusar esses papéis era o fato de ter de sair do Brasil, algo que a atriz não tinha interesse.
Ela preferiu a nossa terrinha, onde fez ainda em 1998 o primeiro filme de seu filho Cláudio Torres, Traição. No filme, Fernanda novamente viria a fazer um texto de Nelson Rodrigues. O filme, baseado em crônicas de Nelson, mostra de forma tragicômica três visões em tempos diferentes do adultério. Cláudio ficou responsável pelo segmento Diabólica onde dirigiu a mãe e a irmã, na história de um casal apaixonado e da irmã da noiva, de apenas 13 anos, que tenta conquistar o noivo de qualquer maneira.
Em 1999 Fernanda Montenegro voltou a trabalhar em família. Dessa vez com o seu genro Andrucha Waddington e sua filha Fernanda Torres no filme Gêmeas. No premiado filme ambientada no inicio da década de 80 e se passa em um bairro de classe-média do Rio de Janeiro: as irmãs gêmeas idênticas Iara e Marilena (Fernanda Torres) vivem pregando peças nos homens, fazendo-se passar uma pela outra, para desespero de seu pai, Dr. Jorge (Francisco Cuoco). Marilena é bióloga. Iara, como sua mãe (Fernanda Montenegro), é costureira. Um dia Marilena conhece Osmar (Evandro Mesquita), dono de uma auto-escola, por quem se apaixona à primeira vista. O mesmo, entretanto, acontece com Iara, que decide seduzir o namorado da irmã sem que este (e esta) saiba. Tem início uma intensa rivalidade entre as irmãs, em busca do amor de Osmar.
Ainda em 1999 Fernanda Montenegro fez a Compadecida na microssérie e posteriormente filme O Auto da Compadecida de Guel Arraes. A adaptação mais famosa da peça de Ariano Suassuna foi levada para a telinha em formato de microssérie em 3 episódios. Com o enorme sucesso da saga de Chicó e João Grilo, a microssérie foi reeditada e lançada nos cinemas de todo o Brasil em 2000.
Em 2001 Fernanda fez a novela As Filhas da Mãe, onde ela fez Lulu de Luxemburgo uma diretora de arte premiada oito vezes com o Oscar. A novela não foi um sucesso e nem um dos grandes papéis da vida de Fernanda, mas vale a curiosidade de sua personagem ter sido premiada com o Oscar, e não 1 mas 8 vezes.
Voltando ao cinema, em 2004 Fernanda Montenegro voltou a ser destaque no cinema nacional e internacional. Nessa ano ela fez um ”par romântico” o saudoso Raul Cortez em O Outro Lado da Rua, de Marcos Bernstein, que ainda trazia no elenco outra grande atriz Laura Cardoso. No filme Ferananda é Regina, uma mulher de 65 anos que vive em Copacabana com sua cachorrinha vira-lata. Para esquecer a solidão e se distrair, ela participa de um serviço da polícia, no qual aposentados denunciam pequenos delitos. Em uma noite ela vê através de seu binóculo o que acontece nos edifícios do outro lado da rua, e presencia o que lhe parece ser um homem (Raul Cortez) matando sua mulher com uma injeção mortal. Ela chama a polícia, mas o óbito é dado como morte natural. Desmoralizada, Regina resolve provar que estava certa e acaba se envolvendo com o suposto assassino. O filme, que foi o primeiro trabalho de Bernstein, roteirista de Central do Brasil, na direção ganhou inúmeros prêmios nacionais e internacionais. Entre eles o prêmio de melhor atriz para Fernanda no Festival de Tribeca, de San Sebastian e no Festival de Cinema de Nova York.
Ainda em 2004 Fernanda ainda fez Dona Leocádia Prestes, mãe de Luiz Carlos Prestes, na cinebiografia de Olga Benário, dirigida por Jayme Monjardim. Também em 2004 a atriz trabalhou novamente com seu filho Cláudio Torres em Redentor, que foi um trabalho praticamente em família, já que ela trabalhou com seu marido Fernando Torres e sua filha Fernanda Torres. Que inclusive foi o último trabalho de Fernanda Montenegro com seu parceiro de mais de 50 anos. Redentor foi o último trabalho de Fernando Torres que faleceu em 2008. Ainda em 2004, Fernanda emprestou sua voz para a animação da Disney Nem Que a Vaca Tussa.
O Prazer de se fazer cinema
Como disse antes nessa biografia, Fernanda Montenegro disse não gostar de fazer cinema. Mas a atriz descobriu o prazer de se fazer cinema, de trabalhar com as equipes de produção. Isso muito se deve aos projetos que foram aparecendo para atriz, conforme ela mesma afirmou em sua biografia.
Um desses projetos foi o nacional Casa de Areia, de Andrucha Waddington. O filme, que na opinião da atriz é um dos dez melhores filmes já feitos, conta a história de Auréa (Fernanda Torres) e sua mãe Dona Maria (Fernanda Montenegro), que são levadas por Vasco (Ruy Guerra) para as terras prósperas compradas por ele. A viagem se transforma em pesadelo quando, após uma longa e cansativa viagem junto a uma caravana, o trio descobre que as terras estão em um lugar totalmente inóspito, rodeado de areia por todos os lados e sem nenhum indício de civilização por perto. Após a morte de Vasco em um acidente Áurea e Dona Maria ficam completamente sozinhas. Elas partem em busca de ajuda e terminam por encontrar Massu (Seu Jorge), um homem que nunca deixou o local. Massu passa a ajudá-las, levando comida e sal para que Áurea e Dona Maria possam sobreviver na casa recém-construída. Enquanto isso Áurea e Dona Maria precisam lidar também com a instabilidade do local em que vivem, já que a areia pode soterrar a casa em que vivem a qualquer momento. O filme foi um grande sucesso de crítica e ganhou vários prêmios internacionais incluindo um prêmio especial no Festival Sundance, além de ter sido ovacionado na Mostra Panorama no Festival de Berlim.
Outro projeto que dá orgulho a Fernanda é O Amor nos Tempos do Cólera, de Mike Newell. Baseado no livro de Gabriel García Márquez, o filme a história do triângulo amoroso formado por Fermina Daza e seus dois pretendentes, Florentino Ariza e Juvenal Urbino, que dura cinquenta anos, de 1880 até 1930. Florentino Ariza ainda jovem se apaixonou perdidamente por Fermina Daza. Entretanto, como Florentino apenas trabalha numa agência dos Correios, ele não é visto como um bom partido por Lorenzo Daza, pai de Fermina. Florentino pede Fermina em casamento, e ela aceita. Ao saber disto Lorenzo a envia para a fazenda de sua prima Hildebranda Sanchez, onde fica alguns anos. Florentino aguarda o retorno de sua amada mas, quando a reencontra, ela diz que nada quer com ele. Fermina passa a ser cortejada por Juvenal Urbino, um médico que luta para evitar a disseminação da cólera. De início ela não se interessa, mas posteriormente eles se casam e constituem família. Simultaneamente Florentino aguarda que Juvenal morra, para que possa enfim se casar com seu grande amor.
No filme Fernanda faz Tránsito Arisa, a mãe do herói Florentino Ari vivido por Javier Bardem. Esse foi o primeiro papel de Fernanda falando em uma língua não latina, o que se tornou algo difícil para ela. Mas a atriz tirou de letra. O papel é pequeno mas de grande importância. Como a própria atriz admite, o cinema foi uma guinada na sua carreira.
Após o lançamento de seu último filme em 2007, a atriz passou por um grande baque em sua vida. Em 2008 ela perdeu seu parceiro de mais de 50 anos. Fernando Torres o marido e parceiro da atriz faleceu no dia 04/09/2008 aos 80 anos devido a insuficiência respiratória. Mas ao invés de parar a atriz mergulhou na arte que a lançou, o teatro. Em 2010 Fernanda encenou Viver Sem Tempos Mortos inspirado nos textos da filósofa Simone de Beauvoir. A peça foi um sucesso e a atriz encenou ela até 2012.
Nesse período a atriz se manteve distante das telonas, voltando a aparecer no curta A Dama do Estácio, de Eduardo Ades, em 2012. No filme Fernanda faz Zulmira. Ela é uma velha prostituta. Um dia ela acorda obcecada com a ideia de que vai morrer. O filme foi lançado no Festival Internacional de Cine Huesca, e conseguiu uma carreira respeitável, ganhando vários prêmios em festivais pelo mundo, incluindo é claro Melhor Atriz em vários deles para Fernanda. Em 2012 ainda a atriz participou de um dos piores filmes nacionais dos últimos anos As Aventuras de Agamenon, o Repórter. No filme a atriz fez a narradora do filme. Como muitos dizem ela provavelmente a atriz precisava pagar o Aluguel para participar de Agamenon. Mas quem não tem esqueletos no armário, não é verdade?
Premiada no cinema, no teatro. Com grandes papéis na TV, no Teatro e no Cinema. Será que isso basta? Não, nem a morte do marido, nem a idade, nada fez Fernanda diminuir o ritmo. Na verdade ela aumentou e ainda foi premiada internacionalmente. Quer saber mais? Confira então a quarta parte da biografia de Fernanda Montenegro.
Para ler a 1ª parte da Biografia de Fernanda clique aqui
Para ler a 2ª parte da Biografia de Fernanda clique aqui
Fonte de Pesquisa: Coleção Aplauso – Fernanda Montenegro