Biografia: Fernanda Montenegro Pt. 2: “O Cinema e Central do Brasil”
Conheça o início da trajetória de Fernanda Montenegro nos Cinemas
Na primeira parte da biografia de Fernanda Montenegro, conhecemos os seus primeiros passos na vida artística. Seu nascimento, sua estreia na rádio MEC, a TV e os palcos é claro. Agora vamos conhecer um pouco da trajetória da atriz nas telonas. E descobrir mais curiosidades sobre essa carreira de sucesso. E, é claro, continuar conhecendo a Dama da Dramaturgia Brasileira.
Finalmente “O Cinema”
Em 1965 Fernanda Montenegro estreava no cinema. Um pouco a contragosto, porque a própria atriz diz nunca ter se interessado por cinema por acha-lo chato, lento e devagar de se fazer, embora ela ame ir ao cinema. Seu primeiro filme foi A Falecida, dirigido por Leon Hirszman. Baseado na obra de Nelson Rodrigues, o filme conta a história de Zulmira (Fernanda Montenegro) que após a visita a uma cartomante é informada que uma loira pode ameaçar sua paz. Ao conversar com seu marido Toninho (Ivan Cândido), ela desconfia que a prima Glorinha pode ser a tal loira. Mal de saúde, Zulmira faz todos os preparativos para o dia de sua morte e pede ao marido desempregado que trate dos custos do caixão e funeral com um homem chamado João Guimarães Pimentel (Paulo Gracindo). O que Toninho não sabe é que Zulmira e este homem escondem alguns segredos que ele jamais poderia imaginar. O filme foi um grande sucesso e deu a Fernanda diversos prêmios entre eles o de Melhor Atriz no Festival de Brasília.
Em 1965, Fernanda ainda filmaria Em Família, de Paulo Porto. Baseado na peça de Sergio Brito, que seria encenada pela primeira vez em 1970. O filme, que chegou aos cinemas em 1971, conta a história de um velho casal que é despejado e recorrem aos seus cinco filhos para pedir ajuda. Uma vez que ninguém pode acomodar os dois juntos, os filhos decidiram separar o casal. O filme foi Medalha de Prata no Festival de Moscou em 1971.
Em 1970 Fernanda filmou Pecado Mortal, de Miguel Faria Jr. O filme conta a história de Renato que ao voltar ao seio de sua família, ao lar de sua infância, as fundações de seu clã são abaladas. A tradicional família burguesa de Petropólis, que vivia aparentemente em uma atmosfera de tranquilidade e harmonia, passa, então, a revelar seus podres segredos mais escondidos, fazendo com que as tensões entre os familiares concretizem-se violentamente. O filme é considerado pela atriz como experimental, e foi exibido no Festival de Veneza onde foi muito bem recebido.
O próximo trabalho de Fernanda foi Marília e Marina, de Luiz Fernando Goulart. Inspirado pelo poema de Vinicius de Moraes, Balada das duas mocinhas de Botafogo. O filme conta a história de Marília e Marina que estão infelizes em suas vidas amorosas. Nem Marcelo, amante de Marília e nem Júlio, noivo de Marina, prestam para alguma coisa. As duas mulheres, então, iniciam uma aproximação dolorosa, identificando-se uma com a outra cada vez mais com o passar do tempo, criando um forte, porém incerto laço.
Em 1978, Fernanda Montenegro “apareceu para o mundo” pela primeira vez. O filme Tudo Bem, de Arnaldo Jabor, ganhou Prêmio Internacional em Taormina (Itália) de melhor atriz para Fernanda. O primeiro prêmio internacional de sua carreira. O filme conta a divertida história de Juarez (Paulo Gracindo). Ele é o chefe de uma família de classe média, que está às voltas com uma obra no apartamento. Aposentado, ele está sempre cercado pelos fantasmas de seus amigos já falecidos. Elvira (Fernanda Montenegro), sua esposa, fica revoltada com a impotência de Juarez, o que faz com que acredite que ele tenha uma amante. Zé Roberto (Luiz Fernando Guimarães) e Vera Lúcia (Regina Casé) são os filhos do casal, ele um executivo oportunista e ela preocupada apenas em encontrar um marido. Junto com eles vivem duas empregadas: Aparecida de Fátima (Maria Sílvia), mística fervorosa, e Zezé (Zezé Motta), que trabalha como prostituta nas horas vagas. Juntos eles precisam lidar com as dificuldades da vida e os operários da obra, que estão sempre no apartamento.
Em 1981, Fernanda Montenegro fez um dos filmes mais icônicos da década de 80 Eles Não Usam Black-Tie, nova parceria de Fernanda com Leon Hirszman. Baseado na peça de Gianfracesco Guarniere, o filme se passa na São Paulo de 1980 quando o jovem operário Tião (Carlos Alberto Riccelli) e sua namorada Maria (Bete Mendes) decidem casar-se ao saber que a moça está grávida. Ao mesmo tempo, eclode um movimento grevista que divide a categoria metalúrgica. Preocupado com o casamento e temendo perder o emprego, Tião fura a greve, entrando em conflito com o pai, Otávio (Gianfrancesco Guarnieri), um velho militante sindical que passou três anos na cadeia durante o regime militar. O filme ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival de Veneza, e se tornou um clássico do cinema nacional. E quase 40 anos depois ainda permanece atual e relevante.
Após o sucesso arrebatador de Eles não usam Black-Tie, Fernanda fez poucos filmes. A atriz teve uma participação em A Hora da Estrela, da Suzana Amaral, como a cartomante que lê a sorte de Macabéa, fez dois curtas, Fogo e Paixão e Trancados por Dentro, a primeira direção de Arthur Fontes. A atriz ainda participou de O Que é Isso, Companheiro? de Bruno Barreto e Veja Esta Canção, de Cacá Diegues.
Na verdade após 81, quando filmou Eles Não Usam Black-Tie, e participar das novelas Baila Comigo e Brilhante, Fernanda Montenegro e Fernando Torres começaram a se dedicar mais ao Teatro, em uma época difícil para as artes cênicas no Brasil. Mas nem por isso ela deixou de fazer um de seus papéis mais marcantes na TV a Charlô de Guerra dos Sexos. Mas sua prioridades era o Teatro que estava em crise, e só começou a melhorar no governo Itamar Franco, como diz a própria atriz em sua biografia.
“Aí veio Central do Brasil”
Em 1996, Walter Salles ligou para Fernanda e disse que tinha um roteiro e que gostaria que ela lesse. Antes disso eles até já haviam conversado sobre fazer um filme sobre Zuzu Angel, mas não foi para frente. Mas eis que em 1996 finalmente ele entra em contato novamente com ela. E assim nascia Central do Brasil.
Na história, se incrivelmente você não conhecer, Dora (Fernanda Montenegro) é uma mulher que trabalha escrevendo cartas para analfabetos na estação Central do Brasil, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Ainda que a escrivã não envie todas as cartas que escreve, já que as cartas que considera inúteis ou fantasiosas demais vão para o lixo, ela decide ajudar um menino (Vinícius de Oliveira), após sua mãe ser atropelada, a tentar encontrar o pai que nunca conheceu, no interior do Nordeste.
Essa história conquistou o Brasil e o mundo. Só no Brasil o filme levou aproximadamente 1,6 milhões de pessoas as salas de cinema. Mundialmente o filme levou mais de 5 milhões de pessoas as salas de cinema, e faturou mais de US$ 22 milhões no mundo todo. O filme foi um sucesso de público e também de crítica. Central do Brasil foi exibido na mostra competitiva no Festival de Berlim onde foi premiado três vezes: Melhor Filme, Melhor Atriz e Prêmio Especial do Juri. Além de Berlim, o filme foi premiado em Havana como melhor Filme e Atriz. Nos Estados Unidos o filme ganhou o National Board of Review de Melhor Atriz, onde Fernanda se tornou a terceira estrangeira a ser premiada com o prêmio. Além de ter ganhado o Prêmio dos Críticos e Nova York e Los Angeles de melhor atriz para Fernanda. Na Inglaterra o filme ganhou o Bafta de Melhor Filme Estrangeiro.
Mas talvez o grande destaque de Central do Brasil foram as duas indicações no Globo de Ouro e no Oscar. Em ambas o filme foi indicado aos prêmios de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz para Fernanda. No Globo de Ouro o filme ganhou o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro, mas Fernanda perdeu o prêmio para Cate Blanchet em Elizabeth, até aí tudo bem né. Mas no Oscar a tristeza foi maior, e também a revolta. Central do Brasil perdeu o prêmio de Filme Estrangeiro para A vida é Bela e Fernanda Montenegro perdeu para Gwyneth Paltrow por Shakespeare Apaixonado. Talvez a maior revolta de todos os tempos para os brasileiros quando se fala de Oscar. Mas para Fernanda não foi bem assim, em sua biografia a atriz disse:
Claro que foi uma grande emoção para mim estar ali. Sentada na primeira fila, ao lado de Ian MacKellen, Lynn Redgrave, Meryl Streep, cruzando com todo esse mundo. Eu me assistia um pouco também. Eu assistia e me assistia ali. Uma coisa que eu não sou é alienada, portanto, eu sabia que não ganharia nada. Imagina. Eu estar ali já era um fenômeno. Chegar ali já foi o barato do barato. A minha indicação entre as cinco candidatas, das quais três eram ótimas, ótimas atrizes, louras, altas, jovens e lindas, eu ali já era um milagre. Mas eu, filha de minha mãe, de absoluto pé-no-chão, sabia que, ali, eu não tinha futuro. Só a alegria e a surpresa daquele momento. E também a minha estranheza.
Após Central do Brasil, Fernanda Montenegro foi redescoberta pelo Brasil e pelo Mundo. A atriz que até aquele momento estava ‘esquecida’ pelo grande público, ressurgiu e voltou ao seu posto de grande atriz brasileira. Mas será que existe vida após Central do Brasil? Na próxima parte da Biografia de Fernanda Montenegro iremos ver como foi a vida da atriz após o boom que foi Central.
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Para ler a 3ª parte da Biografia de Fernanda clique aqui
Fontes de Pesquisa: Coleção Aplauso – Fernanda Montenegro