Entrevista: Samuel Galli Diretor e Roteirista do Longa: ''Mal Nosso'' - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Cinema Nacional

Entrevista: Samuel Galli Diretor e Roteirista do Longa: ”Mal Nosso”

Um grande nome brota como um esfomeado zumbi de Romero no árido chão do Cenário Independente do nosso País, e a cada passo que dá chega mais perto de se tornar um titã no terror nacional, Samuel Galli, advogado por formação e dono de restaurante, largou tudo para enxertar mais ânimo na sua vida indo estudar Cinema fora do país.

Diretor, Produtor, Editor e é claro, um grande Roteirista, já ganhou diversos prêmios e teve o seu Longa exibido em Cannes, logo após se tornar aclamado na Espanha, Holanda, EUA, Rússia, Inglaterra, Austrália, México, Holanda e até na Eslovênia.

Agradeço aqui o tempo cedido pelo cineasta. Seja bem-vindo ao espaço do Cinem(ação).

Agora que sabemos quem é o ‘’Samuel’’, nos apresente o Mal Nosso e fale um pouco do que se trata o seu Longa.

Samuel Galli: O longa é sobre um homem que possui poderes mediúnicos, e em certo momento de sua vida, ele recebe a notícia de seu mentor espiritual que uma entidade demoníaca pretende destruir a alma de sua filha. Para que isso não aconteça, ele é obrigado a tomar medidas drásticas e inusitadas. Acho que no fundo o filme é sobre a descoberta de o porque estamos aqui e as consequências dessa descoberta.

E se trata realmente de um filme completamente independente?? Não contou com nenhuma Lei de incentivo ou Editais?? Não chegaram a apelar nem para o sempre bem-vindo Catarse??

Samuel Galli: O filme é completamente independente e produzido com recursos dos próprios realizadores. Não que eu seja contra a qualquer lei de incentivo, patrocínio e crowdfunding. Pelo contrario, sou 100% a favor. Qualquer fonte de dinheiro, sendo legal, para realização de uma obra, é totalmente válida e bem vinda. Mas como era nossa primeira obra, achei que era de bom tom provarmos algo por nós mesmos e a partir de um segundo momento ou filme pleitear recursos externos

Entendo, e foi você que optou por começar pelo terror estrategicamente como alguns Diretores hoje renomados em outros gêneros, fora culpa da ideia que realmente veio e ao lapidar ficou muito boa e não dava pra deixar escapar ou realmente é o que você e a Kauzare Filmes gostam e querem produzir??

Samuel Galli: Minha ideia sempre foi fazer terror, mas com elementos que trouxessem um frescor dentro das convenções do gênero e doses dramáticas dentro de uma narrativa diferente. O futuro, eu não sei, mas o certo é que não gosto de nada ”água com açúcar”, então mais coisas sombrias vem por aí.

Temos aqui um gênero que muda bastante de tempos em tempos. A cada década temos um horror que se atualiza, desde os monstros aos seriais killers, dos desconhecidos extraterrestres às possessões infernais. Até mesmo o formato de ser gravado se molda, como a ofegante ‘’câmera na mão’’. No Brasil, infelizmente não temos tantas obras dentro dessa área, incentivo zero para isso, nem se quer temos uma identidade de fato mesmo possuindo um público enorme e um ícone do terror – o saudoso Zé do Caixão. Com tantas religiões, mitos, crenças e um folclore tão rico, não é um grande desperdício isso ocorrer??

Samuel Galli: É uma  junção de coisas. No meu modo de ver, o cinema brasileiro é muito polarizado, de um lado obras extremamente comerciais e de outro “intelectuais/artísticas” O meio termo, onde o o terror se encaixa, os filmes produzidos fora do Brasil dominam, devido a qualidade de produção, a tradição e knowhow do entretenimento e etc. Mas acho que estamos em um momento de transição e tanto produtores, distribuidoras e público, estão mais engajados no equilíbrio.

Estamos falando de um roteiro interessantíssimo, de uma trilha sonora marcante e de personalidades distintas e sedutoras, que não vemos tanto por aqui. Seus personagens são muito bem definidos e ainda assim cheios de margens, temos ainda um ótimo final – pecado sempre cometidos em filmes assim. Aqui você tem um trabalho pesado com um plot amalgamado doentio!! Isso é demais!! Qual foi a fonte de tamanha inspiração??

Samuel Galli: Não tenho uma forma pragmática de escrever. Eu coloco milhares de ideias no papel. Ideias que as vezes param em apenas uma linha ou outras que se transformam em cenas, sequências e etc. Quando tudo isso toma forma, vejo todo material distante e coloco dentro de uma estrutura narrativa lapidada.

Quem conhece Rodrigo Aragão sabe os seus feitos absurdos, um verdadeiro mago que mostra o seu poder em cima de qualquer orçamento. Como conheceu o seu trabalho e qual foi a abordagem para traze-lo ao seu projeto??
Samuel Galli: Eu vi o trailer do Mar Negro e fiquei impressionado pelos efeitos práticos. Nós conversamos e ele estava em um período que não queria fazer mais trabalhos em outras obras. Eu  peguei um avião e bati na porta da casa dele rs. Passei uns dias com ele e a família e rolou uma química muito bonita e felizmente fechamos a participação dele!

HAHAHAHA!! Não adianta, quando tem que ser, é!! Quanto tempo demorou para vocês terem alcançado o ápice do projeto, desde a pré-produção até a pós??

Samuel Galli: 2 anos

E como sustentaram a gana de não desistirem até o final?? Como você alimentou tanta garra da equipe??

Samuel Galli: Primeiro achamos pessoas bem intencionadas e de psicologia forte.

Com as suas palavras, qual é a maior dificuldade em se fazer Cinema no Brasil??

Samuel Galli: Fizemos o filme um pouco a parte do esquema tradicional, mas pelo que vejo de fora, é pouco dinheiro, e esse pouco dinheiro fica na mão de poucas pessoas, e essas poucas pessoas fazem sempre as mesmas coisas.

Se vocês pudessem contar com um budget maior para esta Produção, no que gostaria de ter investido??

Samuel Galli: Nada na pré e nada na pós, mas em algumas coisas na produção. Mas não olho para trás e também não sei em que especificamente.

Você tem como referência quais diretores?? Quais obras mais o inspiram como profissional??

Samuel Galli: David Lynch, Dario Argento e o pessoal do terror extremo francês. Fora do gênero gosto muito do Alexander Payne.

 

A pergunta que todos queremos saber. Por que optaram por lançar o Filme primeiro lá fora para depois investir aqui??

Samuel Galli: O gênero é muito bem aceito lá fora e aqui ainda estamos engatinhando. Então, por incrível que pareça, é mais fácil fazer o caminho reverso.

Só para termos uma noção desta conquista, estamos falando de quantos prêmios até agora??

Samuel Galli: Acho que os maiores prêmios são as seleções para os festivais que participamos. Exibir o filme em Moscou, Frightfest, Sitges, New York ao lado de filmes grandes e de diretores consagrados é motivo de muito honra. Mas também ganhamos como ”Melhor Filme” de Horror da América Latina no Macabro Film Festival no México, e ”Melhor Diretor” e ”Melhor Ator” no A Night Of Horror, na Austrália, que é um dos melhores festivais no mundo de gênero.

Verdade que além de premiados também quebraram barreiras?? Nos conte um pouco de como foi ter o filme rodando no Festival de Moscou.

Samuel Galli: Foi tenso. Primeiro que o filme teve um problema técnico para exibir e só solucionamos 2 horas antes da premiere. Eu quase fiquei louco, pois fui para o outro lado do mundo e quase deu zebra. Segundo, o MAL NOSSO foi o primeiro filme de terror a passar na história do festival. Mas no final foi lindo e recompensador.

Agora que você tem as portas abertas, e entre aspas, ‘’o pior já passou’’, podendo levantar algum patrocínio com mais facilidade e eventuais parcerias e co-produções, existirá uma continuação para o Mal Nosso?? Ainda pretendem explorar este universo criado com algum spin-off??

Samuel Galli: Existe várias possibilidades, mas ainda tá um pouco cedo para falar do futuro. Vamos primeiro estrear nos cinemas no segundo semestre e depois, qualquer coisa pode acontecer.

Só a forma que você fala, já prova a sua paixão pelo cinema de gênero, então o que podemos esperar do horror imprevisível e desesperador do Diretor Samuel Galli?? Ou tem planos para mudar de ares??

Samuel Galli: Acho que posso transitar por vários gêneros que tenha uma pegada sombria, mas nunca algo água com açúcar ou comédia rs

Com certeza todo o caminho é cheio de pedras, não há facilidade na arte, mas qual a maior dica que você pode dar para quem está começando?

Samuel Galli: Pode parecer clichê, mas o que posso dizer é ter muita persistência, ser realista com o que você pode produzir, saber ouvir ”não” e ser resistente a frustrações.

Queria primeiramente parabenizá-lo por tamanha dedicação e competência, conseguir que um Longa de terror nacional ganhe o Mundo dessa forma, chocando e surpreendendo positivamente os fãs chatos do gênero não é para qualquer um. Algo realmente a se inspirar. Parabéns pelo esforço. Agora para encerrar a entrevista, te presenteamos com este espaço para que convoque o público para assistir Mal Nosso e deixe uma mensagem para o pessoal do Cinem(ação).

Samuel Galli: Foi um prazer falar com vocês e passar um pouco da minha experiência. No segundo semestre o filme vai para o cinema e todas outras janelas. Aguardo vocês e vida longa ao cinema de gênero!

Ficha técnica:

MAL NOSSO

DIREÇÃO– Samuel Galli

ROTEIRO – Samuel Galli

EDIÇÃO – Samuel Galli

PRODUÇÃO – Samuel Galli, Victor Molin, Tato Siansi

MÚSICA COMPOSTA POR – Gustavo Garbato, Guilherme Garbato

ESTRELANDO – Walderrama dos Santos, Ademir Esteves, Luara Pepita, Maysa Pettes e Reinaldo Colmanetti

Deixe seu comentário