Grandes Mestres do Cinema: Alfred Hitchcock
Nascido em Londres em 13 de agosto de 1899, Alfred Hitchcock, no início de sua carreira como letrista em filmes ingleses, com certeza não imaginava que se tornaria um dos maiores diretores da história do cinema mundial. Tudo começou ainda no começo dos anos 20, quando, em pouco tempo, ele passaria a dirigir alguns filmes mudos em seu país natal.
Seu primeiro filme de destaque, ainda durante o cinema mudo, foi “O Inquilino” (1927), uma criativa história sobre um assassino que lembra Jack, o Estripador. Outros de seus trabalhos durante o período mudo são: “O Jardim dos Prazeres” (1925), “O Ringue” (1927), “A Mulher do Fazendeiro” (1928) e “O Ilhéu” (1929).
No cinema sonoro, seu primeiro filme foi “Chantagem e Confissão” (1929), uma interessante história sobre culpa e lealdade (ou a falta dela). “O Homem Que Sabia Demais” (1934) traz a primeira versão hitckcokiana da trama de espionagem envolvendo uma família em férias, com destaque para a figura sinistra do ator Peter Lorre (revelado no clássico alemão “M, O Vampiro de Dusseldorf” (1931). “Os 39 Degraus” é seu melhor filme da fase inglesa, com Robert Donat muito bem como o homem errado no lugar errado (tema tão recorrente na filmografia do diretor).
“Sabotagem” (1936) é um polêmico trabalho que trata de temas como o terrorismo, com uma polêmica sequência onde um menino anda, sem saber, com uma bomba pelas ruas. “A Dama Oculta” (1936) lembra algumas histórias de Agatha Christie, enquanto “A Estalagem Maldita” (1939) é o primeiro dos três textos que Hitchcock adaptou da escritora Daphne du Maurier.
Em 1940, o produtor David O. Selznick (do mega sucesso “E o Vento Levou”) convidou Hitchcock a filmar em Hollywood. O filme de estreia do diretor na terra do Tio Sam foi “Rebecca, a Mulher Inesquecível” (1940). Baseado na obra de Maurier, a obra é sobre uma jovem mulher (Joan Fontaine) que se casa com um milionário (Laurence Olivier) e vai viver com ele em uma mansão; lá, ela é vítima de uma governanta que insiste em reviver, através de palavras e lembranças, a antiga dona do lugar. A produção venceu os Oscars de filme e fotografia. No mesmo ano, Hitchcock dirigiu também o bom “Correspondente Estrangeiro”, estrelado por Joel McCrea.
Fontaine foi dirigida novamente (e ganhou o Oscar) por Hitchcock em “Suspeita”, fazendo par com Cary Grant, um dos atores preferidos do Mestre do Suspense. “Sr. e Sra. Smith, um casal do barulho” (1941) foi um dos últimos trabalhos da estrela Carole Lombard (que faleceu no ano seguinte, vítima de um trágico acidente aéreo).
“Sabotador” (1942) é outro exemplar do “homem errado na hora errada que é injustiçado e perseguido”. “A Sombra de uma Dúvida” (1943) é um dos seus trabalhos mais queridos pelo público, trazendo Joseph Cotten como um marcante vilão e a adorável Teresa Wright. “Um Barco e Nove Destinos” (1945) é uma intrigante história sobre sobreviventes em um barco após um bombardeio alemão durante a Segunda Guerra.
Gregory Peck e Ingrid Bergman estrelam “Quando Fala o Coração” (1945), trabalho marcante sobre psiquiatria, com a colaboração, em algumas sequências, do pintor surrealista Salvador Dali. Com o ótimo “Interlúdio” (1946), Hitchcock dirige novamente Cary Grant e Ingrid Bergman. A história gira em torno de espionagem (outro tema preferido do diretor). “Agonia de Amor” (1947), com Peck e a Alida Valli, não está entre seus melhores trabalhos.
“Festim Diabólico” (1948) é um de seus filmes mais marcantes da década de 40. A obra, com 80 minutos de duração, é mostrada em um único plano-sequência (claro que há um truque que aparece a cada 10 minutos, para tornar a ilusão mais “real”). O filme também marca a primeira parceria com o ator James Stewart.
Em 1949, filmou “Sob o Signo de Capricórnio”, seguido de “Pavor nos Bastidores” (1950); dois trabalhos que não estão entre os melhores do mestre. Mas em 1951 ele retorna com força com o ótimo “Pacto Sinistro”, uma obra-prima de composição, com um vilão arrasador feito por Robert Walker (que rouba as cenas do fraco casal de protagonistas). “A Tortura do Silêncio” (1953) traz a única colaboração do diretor com o ótimo ator Montgomery Clift.
O tenso suspense “Disque M para Matar” (1954) é o primeiro dos 3 filmes de Hitchcock com a estrela Grace Kelly (sua loira favorita). No mesmo ano, ele faria aquele que é seu trabalho mais estudado e imitado: “Janela Indiscreta”. É indiscutivelmente um dos pontos altos de sua carreira. No elenco, James Stewart e Grace Kelly, brilhando como sempre. O último de seus filmes com Kelly viria no ano seguinte com “Ladrão de Casaca”, estrelado por Cary Grant. O humor negro está bastante presente em “O Terceiro Tiro” (1955), primeiro filme estrelado por Shirley MacLaine.
“O Homem que Sabia Demais” (1956), estrelado por Stewart e Doris Day, é uma refilmagem que saiu melhor que o original dos anos 30, do próprio Hitchcock. “O Homem Errado” (1957) traz o excelente Henry Fonda no papel de um músico que é preso após ser confundido com um ladrão. A obra mais elogiada de Hitchcock é “Um Corpo que Cai” (1958), um perfeito estudo sobre a obsessão e o medo. É um trabalho primoroso do mestre, protagonizado por James Stewart e Kim Novak.
Cary Grant está ótimo em “Intriga Internacional” (1959), o melhor (e mais alucinante) trabalho de Hitchcock sobre o falso culpado”. “Psicose” (1960) é seu maior sucesso, trazendo o lendário personagem Norman Bates (feito por Anthony Perkins), aterrorizando a vida de Marion Crane (Janet Leigh). Nem é preciso dizer que a cena do assassinato no chuveiro é a mais imitada em todos os tempos.
“Os Pássaros” (1963), sobre uma terrível invasão de aves a uma pequena cidade, é o último grande filme da carreira de Hitchcock. Aqui, o diretor se esbalda em truques, experimentalismos e muita técnica para criar uma sucessão de medo e loucura. Tippi Hedren, protagonista deste filme, volta a trabalhar com Hitchcock em seu próximo projeto: “Marnie – Confissões de uma Ladra” (1964), também estrelado por Sean Connery.
“Cortina Rasgada” (1966), estrelado por Paul Newman e Julie Andrews, e “Topázio” (1969) não estão entre as obras mais memoráveis do diretor. “Frenesi” (1972) é o retorno de Hitchcock à Inglaterra, e é também seu último filme digno de seu talento. É uma história sobre um serial killer (tema não muito utilizado pelo cinema na década de 70). O último trabalho do mestre foi “Trama Macabra” (1976), filme irregular, onde ele mistura humor e algumas doses de suspense. Uma das marcas registradas de Hitchcock era fazer rápidas aparições em seus filmes.
Há dois filmes feitos nos últimos anos sobre o diretor: “Hitchcock” (2012), dirigido por Sacha Gervasi e estrelado por Anthony Hopkins e Helen Mirren, e “A Garota” (2012), dirigido por Julian Jarrold e estrelado por Toby Jones e Sienna Miller. Mas são filmes fracos, pouco expressivos. Se você deseja conhecer melhor o Mestre do Suspense, assista documentários sobre sua vida, ou leia o excelente livro “Hitchcock/Truffaut: Entrevistas” (Companhia das Letras, 2004. 368 páginas). Porém, a melhor forma de conhecer a genialidade do grande diretor inglês é assistindo a seus filmes.
Alfred Hitchcock faleceu em Los Angeles em 29 de abril de 1980, deixando uma excepcional e invejada filmografia.