Não dê ouvido às Lhamas! – “Onde Os Velhos Não Tem Vez”
Confesso que sou influenciado negativamente quando ouço alguma crítica ruim sobre algum filme/seriado.
Este filme está na minha lista “para assistir” desde seu lançamento em 2007, mas eu o adiava constantemente. O motivo? Muita gente falou extremamente mal e poucos falaram bem, mesmo tendo sido vencedor de quatro Oscars, incluindo melhor Filme, melhor diretor, melhor roteiro adaptado e melhor ator coadjuvante. Pois bem. Ontem eu estava zapeando (sim, eu uso esse termo, rs) programas na Netflix até que surge ele. O dito cujo que eu adiava. Depois de refletir por alguns segundos, me perguntei: “Por que não?” Apertei o play e finalmente assisti “No country for old men”.
Esse é mais um dos filmes que sofrem com a precária tradução para o português, onde o sentido do título é totalmente alterado. Enfim, esse não é o assunto a ser abordado. Seu nome no Brasil? “Onde os fracos não têm vez”. (SIM, eu nunca havia assistido a esse filme!).
Eu estou cansado da mesmice das salas de cinema convencionais, que em sua maioria passam filmes de Hollywood, alguns ingleses, franceses (raramente) e só. Todos compartilham de uma fórmula parecida, a qual o mocinho tem um drama a ser resolvido, as vezes algumas questões morais e no final ele se dá bem. Pergunto-me o porquê de os filmes “populares” ainda serem aqueles onde as coisas acabam bem. Afinal, a realidade não é assim. Eu entendo que é mais prazeroso/relaxante/reconfortante, o adjetivo não importa, assistir esse estilo de filme a outros “mais realistas”, no entanto, acho que doses de fantasia e realidade devem ser medidas e equilibradas. Gosto de buscar fugir do lugar comum e foi exatamente o que encontrei em “No country for old men”.
O enredo é simples. A trama gira em torno de um assassino sangue-frio, que parece não entender relações humanas de afeto, empatia, pena e até raiva. Javier Bardem – um ator maravilhoso em minha opinião – entrega um personagem icônico, pouco visto em cinemas “convencionais”, que busca uma maleta de dinheiro “abandonada” por traficantes mexicanos. Josh Brolin é quem faz o papel do mocinho – pobre, veterano da guerra do Vietnã e soldador – que, por sua vez, acha a tal maleta. Se não fosse o ar bizarro do personagem de Bardem eu teria parado de assistir, pois veio à cabeça a dita fórmula. Pensei comigo: “Eu já sei o final. Não tem mais graça”. Bem, eu adoro quando estou errado!
Eis que entra Tommy Lee Jones no papel do xerife. Sabe aquelas pessoas que já passaram muito da hora de se aposentar, mas não o fazem por amor à profissão? É esse o caso. Seu passado não é muito explorado, muito menos seus feitos, todavia, o personagem vai se mostrando muito profundo.
Conforme o decorrer da estória e o rastro de morte à lá Tarantino no caminho por onde passa nosso “querido” assassino, Tommy mostra seu brilhantismo como ator. Poucos diálogos e nenhuma ação por parte de seu personagem são suficientes para mostrar o peso da idade e o cansaço de presenciar os horrores da vida. O nome “No country for old men” (O país não é para velhos ou Onde os velhos não têm vez em tradução livre) se justifica nesse momento. Na verdade, acho que o filme todo é feito para mostrar essa cena, esse diálogo:
“Me sinto incapaz […] Sempre achei que quando envelhecesse, Deus ficaria mais evidente na minha vida. Não ficou”.
PUT&#*$ QUE P%#$&*. Essa fala é de arrepiar! Imagino que a vida de um policial seja, no mínimo, 10 vezes mais desgastante que a de um cidadão comum. É de se esperar que depois de testemunhar tanta violência e atrocidade – às vezes a troco de nada – queira-se jogar a toalha. O final completamente inesperado, é simplesmente sensacional e justifica o nome em inglês. Na tradução, praticamente diz que TOMMY LEE JONES é fraco. Eu não consigo sequer imaginá-lo fazendo o papel de um cara fraco. É inconcebível.
O final era exatamente o que eu vinha buscando, pois mostra que o ser humano tem limites, não é super-herói e possui falhas, fraquezas e frequentemente, não tem a resposta para nossos problemas ou o porquê de termos vivido.
Percebi que as pessoas que não gostaram do longa são as mesmas que vão aos cinemas buscando sempre a fantasia, finais felizes e romantizados. Como minha namorada costuma dizer: “Algumas pessoas são Lhamas, elas não falam, mas cospem”.