Peso e Consequência - Justiça com as próprias mãos - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Dica de Filme

Peso e Consequência – Justiça com as próprias mãos

Até onde vai a Justiça e começa a Vingança??

Shakespeare cravou que toda história contada no mundo tem como base: o Amor, o Poder ou Vingança. E existem inúmeros filmes nos quais abordam este terceiro ponto, a vingança. Desde filmes pipoca com tiroteios espalhafatosos protagonizados com algum brucutu dos anos 80 ou então mais geniais e completamente improváveis forçando toda a sua suspensão de crenças como em Código de Conduta com Gerard Butler, onde monta-se um ataque a todos os seus alvos de dentro da prisão. Tem também os filmes na já famosa fórmula da trilogia do Lian Neeson, Busca Implacável em que um agente/militar tem que ir atrás de matar meio mundo por causa dos vacilos e sua família – ou no caso de John Wick, o seu cachorro – Fomos apresentados também a pérolas mais lúdicas e violentas como em A Pele que Habitodo exagero a maravilha que encontramos na vingança de Uma Thurman nos dois volumes de Kill Bill, e o ato de vingança também é encontrada contra o protagonista em questão, como ocorrera em Oldboy.

Mas as dicas que trago aqui são completamente diferentes disso. A proposta é trazer algo mais pé no chão, com a realidade sufocante de que cada passo ali na ficção possa te trazer consequências massacrantes. Que faça levantar mais a questão de onde termina a ”Justiça” – com as próprias mãos – e se torna apenas uma ”vingança” sem pudor algum.

Infelizmente vivemos em uma era de extremos, onde a sociedade está completamente dividida, enquanto alguns assistem pessoas serem severamente punidas por pouca coisa como ganhar uma ”tatuagem na testa”, outras apenas não conseguem engolir a estupradores e homicidas saindo pela porta da frente das delegacias sem experimentar o devido rigor da Lei. E a cada vez que algo assim acontece enfurece ainda mais ambos os lados deixando cada pólo mais distante e com uma ótica mais distinta do outro.

As dicas de filme aqui, trazem consigo pequenas amostras de qual consequência cada ação pode trazer, das bem amargas e impregnantes até raras sensações cítricas que procuramos, mas quase sempre, agridoces. AVISO: Nenhum dos Filmes abaixo são para pessoas de estômago fraco. Então, vamos a eles:

 

TIME TO KILL

(ou ”Tempo de Matar” no Brasil)

Ficha técnica:

Direção: Joel Schumacher
Roteiro: Akiva Goldsman
Elenco: Matthew McConaughey, Samuel L. Jackson, Sandra Bullock, Kevin Spacey e Kiefer Sutherland
Nacionalidade e lançamento: EUA, Julho de 1996

Sinopse: Jake Tyler (McConaughey) é o advogado contratado por Carl Lee (L. Jackson) ao descobrir que sua filha tinha sido brutalmente estuprada por dois alcoólatras racistas, mas sem esperar o trabalho da Lei, faz Justiça por si só ao entrar atirando em pleno julgamento e matando não só os dois criminosos como aleijando um Policial. Cabe então a Jake Tyler e sua parceira Ellen Roark (Bullock) lidar com a defesa de Lee e os com os ataques da Ku Klux Klan.

Tecnicamente falando: Por que assistir??

Existem algumas críticas dizendo que este Longa é muito ”longo”, mas ainda assim não deixa de ser um filme espetacular, Schumacher sabe bem como tratá-lo e incentiva-lo a ser o que é. Para quem gosta de julgamentos, discussões, provas, delações e reviravoltas é um prato cheio. Temos grandes atuações, como a revelação Matthew McConaughey, o sempre incrível Kevin Spacey como um ótimo promotor antagonista e Samuel L. Jackson levando uma Indicação no Globo de Ouro em 1997 como melhor Ator Coadjuvante.

Aqui somos sufocados por questionamentos de tudo quanto é índole em um Roteiro muito bem feito por Akiva Goldsman que sabe bem como trabalhar em adaptações – como fez em Eu Sou a Lenda Código da Vinci – e aqui tem em mãos uma das obras mais incríveis do consagrado autor John Grisham. Na minha humilde opinião, a melhor obra dele, ficando à frente de Filmes como: O Cliente – também do Joel Schumacker – A Firma – de Sydney Pollack – e O Homem que Fazia Chover – do incrível Francis Ford Coppola.

Pela proposta do tópico: Por que assistir??

Com um tom agressivo que te instala um perigo desde o começo, não sabendo o que esperar da próxima cena, tendo um cotexto pesado que faz a sua cabeça borbulhar, não só por falar sobre estupro, pedofilia e homicídio na sua mais limpa descrição, também é levantado o racismo, uma das coisas mais estúpidas que a humanidade teve a capacidade de criar ao longo de sua história para nos dividir.

Mas focando na ”vingança”, que aqui encontramos já descrita na sinopse, temos um homem negro pedindo para que a justiça prendam homens brancos, o que já mostra um desafio, uma vez que no próprio filme, eles citam que alguns dias antes do atentado a sua filha, existiu um outro abuso sexual com uma mulher negra e quatro homens brancos dos quais, nenhum ficou preso. Com medo de dar na mesma, e nunca mais encontrar com os homens que não só acabaram com a inocência de sua pequenina filha, como a espancaram e a humilharam, chegando a urina no corpo da garota, ele não pensou duas vezes e os fuzilou em frente as autoridades. E aí vem as consequências.

Acompanhamos todo o processo de encaramento do personagem que jura ter feito justiça com as suas próprias mãos, mas aí nascem todas as ameaças, desde dentro e fora da corporação, na cadeia vindo de outras celas, nas ruas e no Júri, até que começou a assistir dolorosamente tudo que acontecia dia após dia com a vida daqueles que o ajudava. Valeu a pena?? Foi o certo a se fazer?? Não existia outra forma de julga-lo, condena-los e puni-los?? A sua atitude de fato acabou com a Justiça ou a cumpriu ao pé da letra?? Aqueles homens deviam ter uma segunda chance como qualquer ser humano?? Poderiam ser reabilitados e recolocados para viver em sociedade?? Carl Lee agiu por impulso o que é algo de muito calor, completamente o contrário da frieza da verdadeira Justiça, e qual a temperatura certa para este caso?? São perguntas que você deve se fazer vendo este ótimo Filme. Recomendo.

 

MYSTIC RIVER

(Abrasileirado para ”Sobre Meninos e Lobos”)

Ficha técnica:

Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Brian Helgeland
Elenco: Sean Penn, Tim Robbins, Kevin Bacon, Emmy Rossum e Laurence Fishburne
Nacionalidade e lançamento: EUA, outubro de 2003

Sinopse: Jimmy Marcus (Penn) descobre que a sua filha fora assassinada e resolve ir atrás de quem a matou, e no meio desta caçada há dois de seus amigos de infância envolvidos. De um lado Sean Devine (Bacon) o investigador encarregado do caso e do outro Dave Boyle (Robbins), um homem que guarda pesados segredos da época em que ainda eram crianças.

Tecnicamente falando: Por que assistir??

Antes de falar qualquer coisa sobre o bom roteiro e a direção objetiva, temos o grande atação do trio de protagonistas. Kevin Bacon sempre leve mas não genérico, com o personagem completamente em seu controle, Tim Robbins trazendo um trabalho de muita dedicação e surpreendendo bastante no papel, e claro, Sean Penn impecável como sempre, demonstrando mais uma vez o porque de ser considerado um dos melhores atores de todos os tempos.

O roteiro vem pelas mãos de Brian Helgeland – Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado de 1998 por Los Angeles – Cidade  Proibida – adaptou a grande obra de um dos melhores autores de romances policiais dos últimos anos, Dennis Lehane. Trabalhou muito bem com o emocional de seus personagens, que mal agem com a razão em um ambiente cruel e realista. A direção fica por conta do pulso firme de Clint Eastwood, que sempre trabalha em enredos duros onde quer passar uma mensagem e aqui não é diferente, como sempre um ótimo manipulador que influencia da melhor forma possível deixando sempre tudo com mais de uma interpretação, fora que ele criou algumas cenas que realmente marcam quem assiste e ficam eternizadas na história do Cinema.

Pela proposta do tópico: Por que assistir??

A realidade preocupante de Filmes assim são estonteantes para todos os lados possíveis. Temos a fase das crianças logo no começo o que já te choca e te preocupa quanto a todos pequeninos que já passaram por isso, tendo um futuro perturbado e por todas as crianças que você conhece e teme que as conheçam algo assim. Depois vem os adultos, amigos, que a vida como sempre separa, seja por interesses, excesso de trabalho, amores, entre outras coisas mesmo que crescendo em um mesmo estado, cidade ou bairro.

Eu diria que é o típico Longa do Eastwood, que te choca e faz pensar. Caso não tenha intimidade com as suas obras, talvez esta seja a melhor porta de entrada. Aqui acabamos procurando pela mesma Justiça que os protagonistas e ficamos preso em um angustiante looping na fonte da incerteza, principalmente para quem cresceu lendo as páginas de Agatha Christie. Forrado de erros e pressa, o filme nos mostra personagens com atitudes desesperadas que só quem esta passado por aquilo sabe explicar.

As Investigações começam levar a um suspeito, mas ”começar” não concretiza nada e isso só pressiona todos que tem pressa. A Pressa é forjada na oportunidade o que consequentemente faz com os apressados pressionem as autoridades a tomar uma atitude o quanto antes se não eles mesmo irão tomar as devidas e frias providências. Mas isso é o certo a se fazer?? Assistam.

 

THE PRISIONERS

(Por aqui ficou pifiamente como: ”Os Suspeitos”)

Ficha técnica:

Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Aaron Guzikowski
Elenco: Hugh Jackman, Jake Gyllenhaal, Paul Dano, Viola Davis, Maria Bello e Terrence Howard
Nacionalidade e lançamento: EUA, outubro de 2013

Sinopse: Duas garotas de apenas 6 anos são sequestradas e o Detetive Loki (Gyllenhaal) fica com a responsabilidade de resolver o caso e com o problema de lidar com um dos pais delas. Um deles, Keller Dover (Jackman), um carpinteiro enfurecido que decide ir atrás da própria Justiça ao não ver muito movimento por parte da Lei.

Tecnicamente falando: Por que assistir??

Primeiramente é um filme de Denis Villeneuve, e isso já é sinônimo de coisa boa, e neste caso, muito boa. A sua construção quando o assunto é tensão, é primoroso, desde o enquadramento, um simples zoom e a carga que ele traz em suas trilhas, temos um suspense na melhor forma possível – que depois ele repete em Sicário A Chegada. Villeneuve é simplesmente um dos melhores Diretores da última década.

O protagonismo dessa dura batalha fica nas mãos de Hugh Jackman que – na minha opinião – tem o melhor empenho da sua carreira. Muitos vão ver Os Miseráveis e dizer o contrário, mas é o ápice de um de seus dons, cantar, e Musicais são o seu berço, então não o vejo como um apogeo como ator. Outros dirão que a sua redenção em Logan é o papel mais carcomido e de entrega que já fez, mas acho que aqui fica muito o carinho dele fechar um trabalho de 17 anos e também o olhar de fã. Vou sustentar então que Keller Dover é o que mais me agrada. E narrativamente falando, Jackman carrega o Longa nas costas. Não por falta de Direção, atuação dos demais envolvidos ou um Roteiro fraco, pelo contrário, é mérito de Jackman chegar a tal ponto em meio a tanta coisa boa.

No casting – extremamente bem feito – ainda temos Maria Bello e Terrence Howard, sempre muito bem, transbordando um carisma que as vezes o papel nem exige tanto; a rainha Viola Davis, sempre com uma facilidade assustadora; Jake Gyllenhaal que está se tornando um dos meus atores favoritos, um grande engenheiro de personagens, montando minuciosamente trejeitos marcantes e que ele não os esquece em cena e Paul Dano, surpreendendo todos que falam mal de suas limitações, mostrando camadas em seu mistério.

Aaron Guzikowski – da Série The Red Road e o recente Papillon – trabalha um Roteiro sem furos, com várias perspectivas e formas de cutucar a sua mente, devastando muitas vezes qualquer esperança. E convenhamos, o título original, onde traz ”encarceramento” para cada personagem em suas escolhas e falhas, é muito mais saboroso e fidedigno do que brincar apenas com a ”suspeita” do enredo. Uma pena fazerem isso.

Pela proposta do tópico: Por que assistir??

Entre as três dicas, temos aqui a primeira que não se trata de uma ”vingança” por perder um ente querido para um assassino, aqui há a esperança de que a garota esteja viva, pois se trata de um possível sequestro, mas junto com a esperança, tem a forte dor da criatividade, onde a nossa mente nos leva a pensar em tudo que ela esta teoricamente passando, desde fome, medo, frio e talvez abusos psicológicos e sexuais, com isso, temos o desespero gritando nos peitos dos pais das meninas e também na do Detetive do caso.

Keller Dover começa a sua caçada ao principal suspeito de tal ato maldito, e começa cobra-lo da forma que acha certo, para que possa ver a sua filha ainda viva no final do processo. Existe até o apelo pela tortura, uma vez que cada minuto importa, mas com isso, a cada movimento que vemos em tela, nos rebate dúvida e consequentemente nos tornamos culpados, cúmplices daquilo. Um belo e arquitetado retrato sobre a ”vingança”, onde achamos que encontraremos apenas alívio ao exorcizarmos este tipo de fantasma, mas que na verdade acabamos coma boca cheia de arrependimentos e mais e mais peso sobre as costas.

Uma obra que brinca com a fé – até musicalmente falando – e empondera a responsabilidade de nossos atos, sejam eles quais forem. E não só isso, toca em inúmeros temas, questionamentos e detalhes, nem que só de passagem – superficialmente falando – ainda assim, existem estímulos para que você pense como pode ser ácido uma situação destas para todos os lados e envolvidos.

Então estas foram as três dicas que trazemos aqui para vocês, tentando articular um pouco as nossas mentes com obras incríveis nestas perspectivas extremamente humanas, sugerindo que pensem e repensem o que talvez seja certo. Encontraremos sempre respostas lendo bastante, entendendo mais os filmes, passando por experiências únicas aqui e ali e nos informando de todas as formas possíveis, mas nunca deixe de pensar com a sua cabeça. Não tenha preguiça de formar uma opinião e muito menos deixe de a reformular por causa de terceiros. Invista mais em você, sempre.

Não apenas julgue, se ponha no lugar. Mas nunca deixe de fazer o que acha certo.

Espero que aproveitem as Indicações.

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