Firefly: mesmo quando escuro, existe luz
Firefly, uma visão delicada e diferente do luto.
Ficha técnica:
Direção: Ana Maria Hermida
Roteiro: Ana Maria Hermida
Elenco: Carolina Guerra, Olga Segura, Manuel José Chaves
Nacionalidade e lançamento: Colombia, 2013
Talvez esse seja o post mais emocional que eu já fiz aqui no Cinem(ação), talvez o mais emocional que eu já já fiz aqui ou na Lesboteca. Não sei se é um artigo, um review, uma crítica… Mas talvez pouco importe.
Luto é algo completamente desconjuntado. É isso. Não há o que é certo a se fazer, não há uma fórmula de luto em que se supera todas as fases e o quanto dura cada uma delas. Eu passei por uma experiência de luto que foi, e é ainda, uma das mais dilacerastes dores que eu já senti na vida. Relacionamentos são postos a prova durante o luto, tanto no filme quanto na vida real, experiência própria.
Em paralelo a isso, existe um problema em relação aos roteiros de filmes lésbicos. Eles são em sua maioria envoltos em histórias extremamente trágicas e confusas ou em histórias com traição e desrespeito do sentimento do próximo. Casamentos desfeitos, amores possessivos, suicídios, essas são coisas que encontramos em muitos filmes de temática lésbica e nos fazem questionar por que isso é retratado assim. Por que mulheres são retratadas de forma tão desequilibrada enquanto muitos homens protagonistas desequilibrados de romances são vistos como fofos, ou coisa assim… ? (Mas esse tema é extenso, ainda não sei como colocá-lo aqui).
Porém, alguns filmes conseguem usar esses elementos de forma que eles não sejam o mote de toda a história. Isso acontece com o The Firefly (La Luciénarga), disponível na Netflix.
No filme, Lucia perde seu irmão de forma súbita, depois de 3 anos de amargura e não se falando. A morte do irmão acontece em um momento que Lucia já estava desconfortável com a ausência e distância que criou de Andres, seu irmão. Acidentalmente, Lucia conhece a noiva do irmão, Mariana. E aqui é onde começa a delicadeza da história.
O luto tem uma característica muito única que nos faz entender o que decorre ao longo do filme. Viver o luto é algo solitário, porque, na maioria das vezes, apenas uma pessoa sabe a confusão do que está sentindo naquele momento. Dividir o luto com alguém que está passando pelo exato mesmo que você é reconfortante. Assim, Firefly coloca as duas personagens, Lucia e Mariana.
Elas começam a compartilhar memórias e histórias do homem que as duas amavam imensamente. Elas servem de apoio e porto seguro uma da outra, enquanto o marido de Lucia se afasta cada vez mais, por egocentrismo ou por ignorância daquele ser desconjuntado que sua esposa se tornou.
Lucia e Mariana vivem entre si um amor sem julgamentos, sem limites, sem rótulos e o mais natural possível. As personagens inevitavelmente acabam se apaixonando e isso é visível ao longo do filme em cada detalhe e cuidado que vemos as protagonistas de Firefly trocar.
É possível ver a delicadeza na tela, a naturalidade. A condução da diretora ao longo do filme, torna-o tocante nos momentos certos, mesmo na encruzilhada da decisão de Lucia, nas desconexão de si que cada uma das personagens vive e na reconstrução de si mesmas.
O enredo do filme se desenrola sutilmente e quando acaba, dá vontade de voltar para assistir de novo, prestar mais atenção nos detalhes, ouvir atentamente cada frase das personagens, mesmo as um pouco mal construídas (rs).
O drama e a tragédia do roteiro não me incomodaram dessa vez, mas essa é minha opinião pessoal.
Firefly levantou muitos sentimentos dentro de mim meu próprio luto e minha própria solidão nele, mas ao mesmo tempo mostra a dor como um vaga-lume. Ela não é constante e sempre traz pelo menos um pouco de luz na escuridão.