Crítica: O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017) – Um dos melhores do ano
O Sacrifício do Cervo Sagrado é um dos melhores filmes da temporada.
Ficha técnica:
Direção: Yorgos Lanthimos
Roteiro: Yorgos Lanthimos, Efthymis Filippou
Elenco: Colin Farrell, Nicole Kidman, Barry Keoghan, Raffey Cassidy
Nacionalidade e lançamento: Reino Unido, Irlanda e EUA, 2017 (08 de fevereiro de 2018 no Brasil)
O Sacrifício do Cervo Sagrado vai causar reações opostas. Uns irão amar e outros terão muitos problemas (não será difícil ver alguém saindo da sala, na minha, por exemplo, ocorreu). A primeira cena já avisa: seremos estranhos, visualmente explícitos e tensos, continue quem quiser… Ou aguentar.
É difícil entrar no mérito deste filme sem incorrer em spoiler, mas vamos fazer isso aqui para preservar a experiência do leitor que não viu a obra. Parte de uma história funcionar depende de bons personagens. E definitivamente é o caso aqui. Cada um tem vários momentos para brilhar. Movimentos inusitados e características distinguíveis.
Vamos entendendo, “desentendendo” e talvez entendendo novamente aquelas personas. Isso causa sentimentos vários, em especial na dupla que somos apresentados logo no começo: o médico e patriarca da família, Steven Murphy (Colin Farrell) e o jovem com personalidade indecifrável, Martin (Barry Keoghan).
Todas as relações tem algo além, mas a desses dois em especial ficamos intrigados desde o início. Por que aquele médico tem encontros às escondidas com o garoto? Qual a história deles? Por que o menino age da forma que age?
Na parte técnica vale ficar atento à iluminação. Há uma pontuação muito precisa na luz. Abajur no quarto, porões, hospitais tudo tem uma iluminação específica. E o uso do espaço tem sentido narrativo. Vide o pedaço de madeira nos pés da cama. Note como ele separa, une e até atravessa quem está lá.
A câmera se movimenta com constância. Por vezes começa afastada e vai se aproximando dos que estão em alguma ação. Em outros momentos o oposto acontece e vemos de longe a coisa se desenrolar. Isso torna o trabalho de atuação ainda mais complexo.
E parabéns para esse time de atores: Colin Farrell, Nicole Kidman, Barry Keoghan, Raffey Cassidy. Dada uma necessidade de ter sentimentos contidos a coisa é ainda mais difícil. Ter uma composição recheada de berros e movimentos espalhafatosos atrai mais atenção. O que eles fizeram aqui é o oposto e ainda assim você fica vidrado.
A fisicalidade é muito forte, especialmente no terceiro ato. Então os mais sensíveis podem se incomodar. O sangue, o arrastar e até o sexo estão presentes de maneiras distintas. Algumas rimas visuais são percebidas nos corpos.
O subtexto que na realidade é o texto, mas que passa boa parte do filme oculto, carrega decisões realmente importantes e com consequências. Não há falso maniqueísmo é tudo orgânico e por isso mesmo um terror poderoso.
Sem exagero algum: é possível afirmar que O Sacrifício do Cervo Sagrado deve estar na lista dos melhores filmes lançados no Brasil em 2018.