Crítica: 78/52 (2017) – Documentário Sobre a Cena do Chuveiro de Psicose
78/52 é uma deliciosa aula de cinema.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Alexandre O. Philippe
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2017 (01 de fevereiro de 2018 no Brasil)
Falar de Alfred Hitchcock é falar de um dos maiores diretores de todos os tempos. Psicose (Psycho, 1960) sabidamente um dos filmes mais importantes da filmografia do diretor. E especificamente a cena do chuveiro talvez seja o momento mais referenciado da história do cinema. É sobre esses segundos deste icônico momento que o documentário de Alexandre O. Philippe se debruça.
Primeiro comentário: há todos os spoilers possíveis e imagináveis do filme Psicose, então se por acaso você não viu recomendo que o faça, não só para ver este documentário, mas principalmente pela qualidade do filme em si. O longa parte do pressuposto óbvio de que se você está vendo um documentário sobre uma cena de um filme você já viu aquela obra.
Mas fica o alerta que há alguns spoilers de outros filmes do Hitchcock, então vale dar uma passeada pela obra do diretor como um todo. Feito este pequeno adendo vamos falar deste belo trabalho de Alexandre O. Philippe (que você conferiu uma crítica ano passado aqui no Cinem(ação) na nossa cobertura do Festival de Sundance 2017).
78/52, número que se refere aos planos e cortes na duração da cena – número claro absurdamente maior que em uma cena “normal”, aborda diversos aspectos da cena desde o contexto histórico e social, até detalhes técnicos em todas as frentes: fotografia, trilha, montagem, atuação, além de evidenciar a importância em outras obras e as possíveis inspirações. Como podem ver, a coisa é bem completa.
Tudo isso contado por pessoas da área, diretores, atores, montadores…Então filhos dos atores, dublês e nomes famosos como: Guillermo del Toro, Jamie Lee Curtis e Elijah Wood, além do próprio Alfred Hitchcock, falam sobre Psicose.
E tudo isso filmado em preto e branco, fazendo uma rima clara com o filme em si (inclusive é explicado o motivo do Psicose não ser colorido).
Notável o amor e o impacto que a cena teve nas vozes que o filme escolhe ouvir. Os depoimentos são deliciosos e bastante elucidativos. Ou seja, o documentário não afasta o lado emocional, mas usa a técnica para explicar as emoções, o que o torna bem mais palatável do que eu previa.
Isso também explica o começo de 78/52 se atentar mais em um contexto amplo para ir aos poucos dando “closes” na cena, como aliás ocorre na própria cena do chuveiro. O que acabou sendo uma rima menos óbvia que a fotografia em preto e branco, mas tão eficaz quanto.
Há também entrevistas explicando a recriação no remake de 1998 dirigido por Gus Van Sant, filme criticado por tentar emular, quadro a quadro, a obra original – e não conseguir um resultado tão eficaz.
Muito possivelmente você vai se atentar para detalhes que não havia reparado antes ou mesmo vai descobrir curiosidades (como o uso de melões na sonoplastia ou o chocolate “sanguinário”) que só um olhar tão direcionado poderia alcançar.
Ou seja, 78/52 é o filme definitivo sobre o tema e está facilmente acessível na Netflix.