Crítica: Todo o Dinheiro do Mundo (2017) – O filme da polêmica
Todo o Dinheiro do Mundo é menor que as polêmicas que ele se envolveu.
Ficha técnica:
Direção: Ridley Scott
Roteiro: David Scarpa
Elenco: Mark Wahlberg, Christopher Plummer, Michelle Williams
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2017 (01 de fevereiro de 2018)
Vou tirar logo o elefante da sala: esta crítica não vai versar sobre as duas polêmicas com Todo o Dinheiro do Mundo. Leia-se: o caso Kevin Spacey substituído pelo Christopher Plummer por conta das denúncias de assédio e a diferença de salários entre Michelle Williams e Mark Wahlberg. O foco aqui será apenas técnico e estas são as únicas linhas sobre o caso – aliás, mais duas na hora de falar de Oscar…
Baseado em fatos reais, a premissa da história é instigante: o neto do bilionário J. Paul Getty (Plummer) é sequestrado. E por bilionário entenda o dito homem mais rico de todos os tempos, até então. O avô se recusa a negociar com os bandidos e temos a nossa tensão. Mas a coisa meio que para aí. E até a construção e desenvolvimento desse dilema acaba sem força.
Logo no início temos diversos saltos temporais e geográficos desnecessariamente explicados com incômodos letreiros. Basicamente é o filme nos dizendo duas coisas: não sou capaz de explicar com imagens e/ou o público não é capaz de entender que certa personagem está em um aeroporto.
A riqueza de Getty é descrita em uma sequência de cenas funcionais, mas muito rasas. O delineamento do personagem é, guardando as proporções, o que vimos em Fome de Poder. Mas no filme sobre os criadores do McDonald’s, temos mais espaço para amar/odiar o personagem.
Uma das outras opções condenáveis neste início é uma narração. Ela vem com o intuito de criar um vínculo e dar um efeito dramático. Porém o resultado gera duas perguntas: de onde veio aquela narração e para onde foi? Já que ela não tem um lugar de fala para o narrador é abandonada no resto do filme.
O suspense tenta impressionar com pistas falsas e situações urgentes. Quando o filme acredita estar te enganando é tolerável na primeira vez, na quinta já é exagerado. Sabe quando o protagonista do filme de herói está pendurado por um fio com vinte minutos de filme? Você sabe que ele vai dar um jeito ali, criar um drama em cima disso é besteira…
Os personagens não são sensacionais, porém tem elementos que os tornam as coisas mais interessantes aqui. Menos por mérito dele e mais por demérito do restante. Porém o pai (Andrew Buchan) poderia ser melhor explorado. O drama dele pareceu sincero e o arco instigante. A mãe Gail Harris (Michelle Williams) mantém uma boa coerência, apesar de o momento final dela não ter sentido. O filho sequestrado (Charlie Plummer) faz com que você torça pelos sequestradores.
O avô rico é caricatural – eu queria gostar dele e admirar pelo mérito e sagacidade nas transições comerciais, porém o filme não deixa. A indicação solitária de Todo o Dinheiro do Mundo ao Oscar foi para ator coadjuvante, Christopher Plummer. Imagino que foi apenas como protesto. É a academia dizendo “parabéns, por terem tirado o Kevin Spacey”. Patrick Stewart (Logan) e Armie Hammer (Me Chame Pelo Seu Nome) estão muito melhores.
Eu falei que ia elogiar os personagens… Chegou a hora. O Fletcher Chase (Mark Wahlberg) tem alguma profundidade. Ele falha, transita entre diferentes personagens servido como elo. E, disparado, Cinquanta (Romain Duris) é o que mais funciona. O arco dele não tem melodrama e as atitudes são compreensíveis. Não dá para falar muito para evitar spoiler, mas o personagem me comprou por completo.
A paleta do cores está estranha (pode ter sido a projeção da sala, mas creio que não…). O filme está escuro e com mudanças de tom que não consegui enxergar sentido narrativo. A instável carreira do Ridley Scott na direção (mais positiva, sejamos justos) entrega um trabalho que é resumido por essa fotografia, tem algo fora do lugar ali…
Todo o Dinheiro do Mundo tem uma história real mais interessante que o filme, tem polêmicas mais acaloradas que o filme, ou seja, tem menos cinema do que poderia. Uma pena.