Crítica | Jumanji: Bem-Vindo à Selva
Jumanji: Bem-Vindo à Selva surpreende e diverte
Ficha técnica:
Direção: Jake Kasda
Roteiro: Chris McKenna, Erik Sommers, Scott Rosenberg, Jeff Pinkner
Elenco: Dwayne Johnson, Kevin Hart, Jack Black, Karen Gillan, Rhys Darby, Bobby Cannavale, Nick Jonas, Alex Wolff
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2017 (04 de Janeiro de 2018 no Brasil)
Sinopse: Nessa nova aventura estrelada por Dwayne Johnson, Jack Black, Kevin Hart e Karen Gillan, quatro amigos inesperados são sugados para dentro do perigoso mundo de Jumanji e são transformados nos avatares que escolheram no jogo. Eles terão que enfrentar a aventura mais perigosa de suas vidas, ou ficarão presos em Jumanji para sempre.
Estrelado por Robin Williams, o Jumanji (1995) original possui um lugar no coração de muitas pessoas, sejam aquelas que cresceram assistindo ao filme na Sessão da Tarde ou até mesmo aquelas que o redescobriram anos mais tarde e reconheceram seu charme nostálgico, mesmo que aquela produção não tivesse muito a oferecer além de uma diversão descompromissada que prestava homenagem à clássicos de aventura oitentistas.
É seguro dizer, então, que o reboot/sequência Jumanji: Bem-Vindo à Selva não possuía muito correndo a seu favor, já que escancara a falta de criatividade de hollywood – em suas eternas reciclagens- apenas por existir, apresenta trailers genéricos e a própria seleção de atores insinua mais um caça-niqueis descartável, completo com as figuras do macho alfa fortão, do gordinho atrapalhado, do negro que serve de alívio cômico e da gostosa objetificada pelas véstias pequenas. Tudo isso aliado à um estúdio que só entregou blockbusters falhos recentemente, e temos uma suposta receita para o fracasso. É surpreendente, então, que o novo Jumanji seja não apenas uma produção eficiente, como um filme genuinamente divertido, que em muitos aspectos não se parece com um blockbuster dos anos 2010.
O enredo, escrito por Chris McKenna, Erik Sommers, Scott Rosenberg e Jeff Pinkner gira em torno de quatro jovens: o estudioso Spencer (Alex Wolff), o atleta Fridge (Ser’Darius Blain), a patricinha Bethany (Madison Iseman) e a deslocada Martha (Morgan Turner). Após serem colocados na detenção escolar, eles encontram um antigo console de video game com o cartucho de um jogo chamado Jumanji. Ao ligá-lo, os adolescentes são transportados para dentro do jogo, onde assumem a forma de seus quatro personagens principais, que possuem a forma de Dwayne Johnson, Kevin Hart, Jack Black e Karen Gillan. O quinto personagem jogável, vivido por Nick Jonas, junta-se ao grupo, controlado por um jovem que ficou preso no jogo tal como o personagem de Robin Williams no filme de 95.
Os esteriótipos criticados no começo deste texto são justificados em sua maioria. O diretor Jake Kasda e seus escritores se divertem na inversão de papeis. Spencer, o nerd da turma habita o corpo desproporcionalmente musculoso de Dwayne “The Rock” Johnson, a patricinha fica no corpo de Jack Black, o atleta no diminuto Kevin Hart e a garota tímida e deslocada habita o avatar da doutora sexualizada. “Essas roupas são pequenas demais e nada práticas”, exclama a menina.
Os realizadores divertem-se também com o potencial que o novo cenário – um video game e não um jogo de tabuleiro – fornece, apontando falhas e características típicas desse tipo de jogo que qualquer um que já jogou poderá reconhecer, e nesse aspecto o filme se aproveita de muitas oportunidades apresentadas, como o conceito de vidas limitadas e os personagens não jogáveis que povoam o jogo e servem para exposição de informações e objetivos. Um deles, vivido pelo sempre divertido Rhys Darby é particularmente engraçado.
O tom narrativo é o que mais aproxima Jumanji de uma produção oitentista. Como naquelas produções, esta ganha força quando se foca na relação de seus jovens protagonistas, que são bem desenvolvidos, sem exageros latentes que escancaram suas personalidades de forma agressiva. Quando eles são transportados para o jogo, podemos reconhecer já de início quem é quem, e os atores adultos (sim, até mesmo Nick Jonas), todos carismáticos, conseguem transmitir o deslumbramento dos adolescentes com aquele mundo, através de gags físicas memoráveis e de uma leveza que não debocha aquele mundo, alcançando um equilíbrio.
O filme só capenga, no entanto, justamente em jogo de esteriótipos. Se no início a exploração dos mesmos como a piada que são é eficaz, logo o filme se rende levemente à sexualização da personagem de Gillan. Ora, se o poder de seu avatar no jogo é justamente seduzir os inimigos com sua “dança sensual”, não seria mais interessante mostrar a personagem se livrando deles de uma forma que renegasse essa objetificação? Assim, o filme acaba criticando estes arquétipos apenas para abraçar um deles pontualmente, numa derrapada que é sentida mais pela eficiência ao lidar com o assunto em outros momentos. No entanto, ao se concentrar no núcleo adolescente e na aventura descompromissada mas com lições de morais abordadas de forma sincera, o filme encontra sucesso.