Crítica: E o Vento Levou (1939) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Crítica: E o Vento Levou (1939)

Ficha técnica:

Direção: Victor Fleming e outros.

Elenco: Clark Gable, Vivien Leigh, Olivia de Havilland, Leslie Howard, Hattie McDaniel, Thomas Mitchell, Alicia Rhett, Butterfly McQueen, Ann Rutherford, Cammie King, Ward Bond, Evelyn Keyes, Harry Davenport, Everett Brown, Jane Darwell, Carroll Nye.

Nacionalidade e data de estreia: Estados Unidos, 15 de dezembro de 1939.

Sinopse:

Tendo como cenário a Guerra da Secessão (ou Guerra Civil Americana), o filme conta uma história de amor cheia de encontros, desencontros, tragédias, persistências, lutas e desilusões. A tempestuosa Scarlett O’Hara (Vivien Leigh) tem aos seus pés todos os homens que ela deseja, exceto o pacato Ashley Wilkes (Leslie Howard), comprometido com uma de suas melhores amigas, a bondosa Melanie (Olivia de Havilland). Rhett Butler, um renomado capitão, não desiste de conquistar Scarlett, ainda que isso lhe pareça impossível.

O clássico dos clássicos

“Houve uma terra de cavaleiros e campos de algodão denominada ‘O Velho Sul’. Neste mundo, o galanteio fez sua última mesura. Aqui foram vistos pela última vez: cavaleiros e suas damas… Senhores e escravos. Procure-os apenas nos livros, pois não passam de um sonho a ser relembrado. Uma civilização que o vento levou”.

Essa é a frase que dá início a “E o Vento Levou”, aquele que é sem dúvida o mais famoso filme de todos os tempos. Em um resumo, à primeira vista, pode parecer um romance convencional, mas por trás de sua aparentemente simples história de amor reside uma obra poderosa e inesquecível. O filme, que em 1940 venceu 10 Oscars, se mantém como símbolo máximo de superprodução que resistiu ao tempo, ganhando milhares de admiradores a cada ano que passa.

“E o Vento Levou” – sempre lembrado nas listas dos melhores filmes de todos os tempos – é uma obra-prima irretocável, uma superprodução magnífica que se mantém como o filme mais querido e assistido de todos os tempos. Com seu magnífico Technicolor e trilha sonora memorável de Max Steiner, o épico sintetiza o que de melhor foi feito na Era de Ouro de Hollywood. E tudo é ainda mais impressionante em se tratando de uma obra que teve diversos problemas durante sua produção, inclusive troca de diretores e algumas cenas filmadas sem a presença da atriz principal.

Alguns filmes utilizam acontecimentos marcantes da história como pano de fundo de grandes histórias de amor. “Doutor Jivago” (1965) se passa durante a Revolução Russa e mostra o drama de um casal de amantes entregues ao destino em um país em plena transformação. Em “Titanic” (1997), o casal Jack e Rose precisa enfrentar uma grande tragédia no mar para continuar junto. Mas em “E o Vento Levou” a história de amor é diferente, sem a presença de um casal principal que fica boa parte do tempo junto.

Assim, a história se difere de várias outras por conter elementos que podem ser classificados como fora dos padrões do roteiro esquemático, porque temos aqui personagens pouco romantizados que não conseguem se acertar. O enredo “E o Vento Levou” pode ser resumido da seguinte forma: em meio à violenta guerra separatista entre o sul e o norte dos EUA, a jovem Scarlett jamais desiste de perseguir seus sonhos e ideais românticos. Ambiciosa e persistente, ela se vê rejeitada pelo homem que ela diz amar, mas sua luta para conquistá-lo segue adiante, nem que para isso ela se case por interesse com outros homens para conseguir o que quer. Várias reviravoltas farão com que ela e o insistente Rhett tenham suas vidas transformadas. Ambos jamais lançam mão de suas escolhas, até que algumas perdas fazem com que eles reflitam sobre o que realmente querem.

Hollywood estava passando por grandes mudanças. Mulheres fortes e decididas estavam crescendo e se destacando mais no cinema, definindo e conquistando seu espaço. Em 1938, Bette Davis em “Jezebel” representou uma mulher de grande personalidade, em um filme que também se passa durante a Guerra Civil Americana; um papel que pode ser visto como um molde de Scarlett O’Hara.

E força é o que não falta a Scarlett. Com muita persistência e coragem para enfrentar as maiores adversidades pela frente, Scarlett se destaca como a personagem central da obra. De início mimada, aos poucos, com o desenrolar dos acontecimentos na guerra, ela vai se tornando uma mulher firme e dissimulada, capaz até mesmo de tomar decisões urgentes e inesperadas, como na cena em que ela precisa defender a casa de ataques dos ianques; e uma cortina em suas mãos se transforma em uma peça de persuasão. Sua relação com Rhett é de início distanciada, aos poucos ela vai agindo com ele de forma interesseira, até que o “jogo” muda, mas aí pode ser tarde demais para ela.

Uma personagem tão rica precisava de uma intérprete à altura. Mais de mil atrizes foram entrevistadas para o papel de Scarlett O’Hara. Foi Vivien Leigh quem conseguiu, entrando para a história como a atriz a interpretar a personagem mais famosa e almejada de todos os tempos. Para o papel de Melanie as coisas foram mais fáceis. Olivia de Havilland, que a interpreta, ainda está viva, aos 101 anos.

O público exigiu Clark Gable no papel de Rhett. Gable, com seu habitual ar cínico, está perfeito no papel. O ator considerava essa a melhor interpretação de toda a sua carreira. Rhett Butler, um aventureiro com má reputação, acostumado com mesas de jogos e muitas mulheres ao seu lado, no fundo é um homem compreensível e sentimental; porém, também muito atento a tudo que está acontecendo. A cena em que ele sofre uma grande perda e se tranca em um quarto é uma das mais comoventes já mostradas pelo cinema. Minha cena preferida entre todos os filmes que eu vi é quando ele, perto do final, vê sua amada Scarlett chorando e confortando Ashley, motivando sua inesperada decisão final. 

São muitas as idas e vindas da história. Muita coisa vai acontecendo, e com isso os protagonistas vão sendo moldados; e um dos pontos altos do filme é seu grande e rico painel de personagens, em sua maioria determinados e marcantes. Para isso foi escolhido um elenco primoroso que conta ainda com Leslie Howard, Hattie McDaniel (Mammy, uma personagem-chave na história), Thomas Mitchell (o pai Gerald O’Hara), Barbara O’Neil (a mãe Ellen O’Hara) Ann Rutherford (Carreen O’Hara), Butterfly McQueen (Prissy), Harry Davenport (Dr. Meade), Jane Darwell (senhora Doll). Alicia Rhett (India Wilke), Ward Bond (Tom), entre outros.

O fascínio popular por esse filme surgiu antes mesmo de sua estreia – dois anos antes – quando foi anunciado que o (já famoso) livro escrito por Margaret Mitchell ganharia uma adaptação para o cinema. O produtor David O. Selznick sabia que tinha tudo para entregar uma grande produção. Em 1939, a estrutura e a linguagem narrativa do cinema já estavam definido; o som já se instalara há mais de uma década, e alguns filmes já eram coloridos. Com todo esse avanço na indústria da Sétima Arte, a Metro-Goldwyn-Mayer estava disposta a investir muito nesse projeto.

“E o Vento Levou” não é um filme autoral; isso porque, além de Victor Fleming, outros diretores como George Cukor e Sam Wood dirigiram algumas cenas. Isso fica visível em alguns momentos quando percebemos diferenças de estilos. Fleming, que também dirigiu “O Mágico de Oz” (do mesmo ano), às vezes servia como um diretor de encomenda, um substituto que pegava projetos desistidos por outros diretores (em alguns casos, demitidos). Além de outros diretores (e roteiristas), o filme também teve cenas dirigidas pelo próprio produtor David O. Selznick, o maior responsável pelo grande sucesso da obra.

Grandiosidade define “E o Vento Levou”, e entre suas várias cenas inesquecíveis temos: o início, com Scarlett sendo cortejada por alguns homens; Rhett da parte de baixo da escada vislumbrando sua amada Scarlett pela primeira vez; a grande fuga de Atlanta em chamas; o primeiro beijo de Rhett e Scarlett; o grande baile beneficente; Scarlett prometendo nunca mais passar fome; Scarlett caminhando entre soldados mortos e feridos; Rhett pegando Scarlett no colo e subindo as escadas, simbolizando a harmonia do casal pela primeira vez; o final antológico onde Rhett diz a mais famosa frase de todos os tempos: “Francamente, minha querida, eu não dou a mínima”; e a frase esperançosa final de Scarlett.

“E o Vento Levou” foi um dos 10 indicados ao Oscar de melhor filme em 1940, o melhor ano do prêmio em todos os tempos. Obras-primas como “No Tempo das Diligências”, “O Mágico de Oz”, “A Mulher Faz o Homem“, “O Morro dos Ventos Uivantes” e “Ninotchka” concorriam ao prêmio máximo, mas venceu o maior deles. “E o Vento Levou” venceu ainda os prêmios de direção, roteiro adaptado (para Sidney Howard), atriz (o primeiro para Vivien), atriz coadjuvante (Hattie, fazendo história como a primeira pessoa negra a ganhar um Oscar de atuação), fotografia em cores (Ernest Haller e Ray Rennahan), edição (James E. Newcom e Hal C. Kern) e direção de arte (Lyle R. Wheeler), além de um prêmio honorário e um prêmio técnico, somando assim dez estatuetas. Gable concorreu ao prêmio de melhor ator, perdendo para Robert Donat por “Adeus Mr. Chips”.

Apesar de alguns momentos alegres e alívio cômico por parte de alguns personagens, o filme é uma obra triste, carregando por trás de seu intenso colorido um conjunto de situações trágicas e amargas, culminando em um final desolador.

Clássico dos clássicos, “E o Vento Levou” é o maior representante do cinema magistral feito na primeira metade do século 20. Um super espetáculo insuperável que o vento não levou.

 

 

 

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Resumo

Quase 80 anos depois de seu lançamento, “E o Vento Levou” continua firme como exemplo máximo de superprodução da Era de Ouro de Hollywood.

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