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O fascínio que filmes de terror exercem nas crianças

Por que as crianças sentem fascínio por filmes de terror?

Os filmes de terror nunca saem de moda. Entra década sai década, melhoram ou pioram as produções, o seu espaço continua garantido nos cinemas e no gosto das pessoas. Hoje em dia, principalmente com o público juvenil.

Se nas décadas de 70, 80 eram os adultos o grande público, na década de 90 e princípios dos anos 2000 esse público começou a mudar ficando mais jovem, os adolescentes. E, agora, temos um púbico infanto-juvenil como público assíduo das produções de terror.

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Mas por que as crianças gostam tanto? Não sou especialista em comportamento infantil, muito menos estudiosa no assunto, mas sou uma boa observadora. Uma professora muito observadora. Se em comédias, animações ou filmes de ações elas não ficam quietas para assistir, sempre tem falatórios e brincadeiras; em filmes de terror ou suspense a situação muda. Há um silêncio, um envolvimento dos alunos, quase uma cumplicidade de não fazer barulho e não atrapalhar. Fora a predileção, não pelos bonzinhos e sofredores do filme, mas com a personagem má, com a ruinzinha mesmo.

A psicologia explica o medo como uma série de sistemas que se ativam de maneira fisiológica e comportamental num sentido concreto após passar por uma situação única e ameaçadora de forma muito rápida. Após uma primeira vista, nosso cérebro já tem consciência do tipo de medo que despertou em nós. Assim, se o nosso cérebro interpreta o tipo de medo que enfrentamos como uma situação controlada, ela pode ser agradável. Nisso encaixam-se os filmes de terror, pelo prazer que se sente vendo esse tipo de produção.

Lembro-me bem quando trabalhei com meus alunos (que chamo de crianças já que estão entre os 09 e 12 anos) o conto Gato Preto, do Edgar Allan Poe, o quanto gostaram da história e ficaram entusiasmados para lermos outros contos de terror. E como eles tinham histórias assombradas para contar, como se envolviam e debatiam com gosto sobre isso!!!

Logicamente, vi que essa era uma linha condutora para trazê-los à leitura. Não foi fácil, deu muito trabalho ir atrás de curtas-metragens e textos que se encaixavam. Achei no YouTube um curta baseado no meu conto favorito “Venha ver o por do sol”. Incrível ver a palidez de alguns alunos tão acostumados a assistir “Atividade paranormal”, “Invocação do mal”, “Anabelle” acabarem absorvidos totalmente por um curta-metragem de uma história da Lygia Fagundes Telles. O melhor foi o resultado de angariar muitos leitores que descobriram além de Poe e Lygia, Lovecraft, Anne Rice, Noll, Bram Stocker, H. G. Wells

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Todavia… voltando aos filmes… esse fascínio me intriga ainda. Em muitas conversas com as crianças tento entender esse por quê.

Muitas crianças relatam que os filmes de terror são os melhores pela sensação de medo que transmitem. Isso também aumenta a adrenalina que faz com que sintamos o tal prazer. Falam que “é legal de ver porque é o gosto da maioria e todo mundo se reúne, depois conversa sobre o filme, comenta, lembra de histórias assustadoras, até inventa uma na hora para contar”. Gostam da reação que se tem depois que causa euforia,  “Tudo bem que no início tem um medo grande quando se assiste, até se esconde um pouco, tapa os olhos, grita, mas assim que a cena de tensão ou assustadora passa, vem a risada, a gargalhada pelo medo que se sentiu e isso é legal”.

Também dizem que gostam de “sentir medo dá uma sensação boa”. Uma declaração que me espantou (confesso) foi ouvir que gosta de “ver o outro sofrer, de ver a pessoa morrer no filme é legal. A emoção que dá é muito boa”. Tanto gostam desse “sentimento” que alguns estão ávidos para assistirem Jogos Mortais – Jigsaw. Com quem? Seus pais, visto que são eles que levam as crianças quando não podem entrar por causa da faixa etária indicativa.

Esses são alguns dos motivos que dizem (os meus muitos alunos) de gostarem tanto de filme de terror.  A indústria cinematográfica também já sacou isso há tempos, tanto que muitos filmes são crianças como antagonista, veja “Crianças em filmes de terror”.

Em 2015 quando se espalhou a tal brincadeira “Charlie, Charlie”, as crianças, os jovens ficaram eufóricos, extasiados e temerosos com os espíritos que viam rondar seus colegas, que viam pela casa, na rua; os relatos de que passavam mal, o medo de alguns, as histórias macabras que contavam uns aos outros.  Mais o furor que teve quando foi revelado se tratar, somente, de uma campanha publicitária para um filme: A forca. Mesmo assim, muitas crianças diziam veementemente que viam “Charlie, Charlie”, sonhavam com ele e o que ele revelava acontecia!

Se realmente filme de terror é o preferido dos jovens mais do que de ação não tenho nada concreto para provar. Só sei por experiência, que filmes de terror com sua ambientação e personagens, causam um grande fascínio sobre as crianças e, isso, independentemente se sentem medo ou não. Sim, eles têm pesadelos, porém não ligam para isso, gostam mesmo é desse sentimento de pavor.

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