Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola (2017) – Crítica
Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola é muito mais que uma polêmica e muito menos do que poderia ser.
Ficha técnica:
Direção: Fabrício Bittar
Roteiro: Danilo Gentili
Elenco: Danilo Gentili, Fábio Porchat, Carlos Villagrán, Daniel Pimentel, Bruno Munhoz
Nacionalidade e lançamento: Brasil, 12 de outubro de 2017
Sinopse: Para poder tirar 10 em uma prova, Pedro (Daniel Pimentel) recorre ao mito que sacudiu a escola anos atrás: o pior aluno da escola (Danilo Gentili).
O longa Como se Tornar o Pior Aluno da Escola teve polêmicas envolvendo a demissão de um jornalista e comentários acalorados nas redes sociais. Esse será o único comentário extra fílmico que farei, o presente texto vai se focar apenas no longa. Não levará em conta nada que extrapole o que se passou naquelas 1h40.
A produção é um típico besteirol, no melhor e pior sentido da coisa. Usa diversas ferramentas do subgênero como piadas de sexo, flatulências e algumas cenas com montagens aceleradas. Danilo Gentili, que encabeça o projeto, pode ser visto como um Seth Rogen brasileiro.
14 anos é a classificação. E o corte sugerido é bem pertinente. Os pais podem levar os filhos, mas tenham em mente que terão palavrões (nada que não exista no mundo real) e toda sorte de gag com sexo, nada explícito, e nada que também não vemos na TV aberta.
A trama é básica e usa os clichês do ambiente escolar. Alguns pontos, dado o gênero, pedem alguma suspensão de descrença. Outros, soam como preguiça ou erros propriamente ditos. Vamos aos exemplos: uma perseguição de carros em alta velocidade cai na conta do “vamos relevar… é um filme de comédia”. Já os personagens serem cegos a certas situações ou determinado objeto estar no exato lugar que o roteiro queria, aí já pesa contra o filme.
A repetição da palavra “cabaço” (piada comum no repertório do Danilo Gentili) gera uma recorrência que ganha parte do público, mas satura uma outra parte. Apostar nesse tipo de humor é um risco, porém o filme consegue se equilibrar, aos tropeços, neles.
Há um prólogo na Alemanha que poderia ser uma piada melhor tratada, no fim, acaba sobrando, podendo ser retirado sem problema algum. Em momentos pontuais, há narrações típicas deste tipo de filme. Tal ferramenta é usada de forma simplória, basicamente repetindo o que está em cena e desvirtuando pouco. Se fosse mais ousada seria bem-vinda.
O ponto alto são as referências, algumas sutis e outras nem tanto. Há uma caixa com itens utilizados pelo pior aluno (Danilo Gentili) outrora. Lá vemos a saudosa revista Mad (ícone das travessuras), o cigarrinho de chocolate com a propaganda de um menino “fumando” e o aparelho de dar choque em curioso. “Brinquedos” que quem tem perto dos trinta anos vai se identificar.
De forma rápida, temos Star Wars, Mário (o da Nintendo), Karatê Kid… mas quem tem mais citações é Carlos Villagrán, o intérprete do Quico no seriado Chaves. Buldogue velho, Melchior (para entender clique aqui), além de bordões como “tudo eu, tudo eu” (dito pelo Chaves no seriado) e “cale-se, cale-se” se fazem presente. E a melhor piada do filme, referente a relação ator-personagem. Não vou dizer aqui para não estragar. Porém tais momentos exigem uma bagagem do público. Eu como fã do Chaves, ri. Como fã de cinema, torci o nariz.
A fala do ator mexicano, que se esforça para falar português, tem momentos comprometedores. A dicção não é boa e o texto fica duro. Fato esse que tem uma menção na criativa cena durante os créditos finais. Cena esta que é recheada de easter eggs – que além das sacadas durante os créditos o filme conta com duas cenas pós-créditos, que apesar de óbvias, são eficazes.
Isso de brincar com os problemas internos é uma faca de dois gumes. Por um lado soa como auto indulgência e por outro segue uma das lições do filme: rir de si mesmo. Mesmo tendo um lado positivo, piadas como: “vemos isso em um roteiro de filme lixo” já são batidas. Há um momento de quebra da quarta parede que também repete uma fórmula fácil, que até hoje só vi dar certo no filme dos Simpsons.
Quanto às atuações, a coisa é pouco equilibrada. Danilo Gentili tem familiaridade com o texto, dado que boa parte dele veio de um livro de autoria do humorista, mas falta algum cacoete de ator para ele. O elenco jovem não compromete, mas pouco acrescenta. Moacyr Franco vai muito bem na pele do Zelado Olavo. Ele imprime um humor mal-humorado que combina bem com a proposta. Fabio Porchat está mais contido que o normal – algo positivo. Os demais têm pouco material nas mãos…
Um dos pontos polêmicos do filme foi a utilização de um personagem pedófilo (não vou dizer qual para não estragar a cena). Algumas considerações: 1- não há problema algum em ter uma representação de um pedófilo em filmes. 2 – também não há problema rir dessa situação. 3- Como se Tornar o Pior Aluno da Escola NÃO faz apologia à pedofilia, pelo contrário. Em um outro momento há uma frase: “nunca confie em quem parece ser um cara legal”. 4- A piada é fraca, mal conduzida (cinematograficamente) e cria um call back muito óbvio.
Em um dado momento Danilo Gentili meio que para o filme para dar uma moral, algo como: “não condene quem faz bullying. Tome cuidado com quem quer te proteger, eles é que te enxergam como inferiores”. Apesar de eu concordar com a afirmação, neste contexto ela soa como professoral e pouco orgânico. Aqui a mensagem quer gritar mais que o filme, o que nunca é positivo.
A montagem por vezes mascara a falta de roteiro e as lições são fracas e inverossímeis. Momentos que funcionariam em uma pegada cartunesca, aqui geram no máximo um riso rápido. A cena da prova oral com os tiros de paintball é prolongada além da conta. Talvez a pouca experiência do diretor explique a linguagem um pouco bruta (no sentido de não lapidada) e rasa.
A ideia é melhor que a execução. O que poderia ser um Curtindo a Vida Adoidado acaba sendo pouco além de mais do mesmo, algo que de certo modo o próprio filme condena. Piadas pontuais e boas referências não sustentam o todo, ainda assim, Como se Tornar o Melhor Aluno da Escola é melhor que muitas outras comédias nacionais de 2017.
Digamos que o filme ficou de recuperação, quem sabe futuramente mereça uma nota melhor…