Remakes: quando dão certo (ou não)
Hollywood adora fazer refilmagens, recorrendo a sucessos (ou não) na tentativa de melhorar (ou apenas lucrar) o que na maioria das vezes já era bom ou ótimo. Em grande parte, refilmar uma obra só atesta o que já sabemos: o original é melhor. Quem nunca ouviu ou leu a seguinte frase: “Não refaça o que já é bom”? Mas toda regra tem exceção, e em alguns casos o que vem depois acaba superando o original.
Sabemos que o cinema não é só arte, é também uma indústria, e nessa busca por grandes lucros nem sempre predominam roteiros inéditos ou adaptações de obras que nunca haviam sido feitas antes; daí acabam surgindo os remakes (e também continuações). Claro que é um grande risco fazer remakes de clássicos, e tentativas como “Godzilla” (1998. Direção de Roland Emmerich), “Psicose” (2000. Direção de Gus Van Sant), “Planeta do Macacos” (2001. Direção de Tim Burton), “O Sacrifício” (2006. Direção de Neil LaBute. Refilmagem de “O Homem de Palha”), “Carrie – A Estranha” (2013. Direção de Kimberly Peirce) e “Ben-Hur” (2016. Direção de Timur Bekmambetov) demonstram perfeitamente que refazer obras já consagradas pode gerar produtos esquecíveis.
Há muitos remakes inferiores que são de obras originais que foram produzidos nas últimas décadas, como por exemplo: “Deixe-me Entrar” (2010. Direção de Matt Reeves), “O Vingador do Futuro” (2012. Direção de Len Wiseman), “OldBoy: Dias de Vingança” (2013. Direção de Spike Lee), “Robocop” (2014. Direção de José Padilha) e “Caça-Fantasmas” (2016. Direção de Paul Feig), sem contar aqueles remakes de produções de terror do Japão e da Coréia do Sul.
Há também aqueles remakes que dividem opiniões, obras que acabam agradando a uns e desagradando a outros. Melhores ou piores, de alguma forma não decepcionaram. Nessa categoria, entram filmes como: “Nosferatu – O Vampiro da Noite” (1979. Direção de Werner Herzog), “Scarface” (1983. Direção de Brian De Palma), “A Bolha Assassina” (1988. Direção de Chuck Russell), “Cabo do Medo” (1991. Direção de Martin Scorsese), “Um Crime Perfeito” (1998. Direção de Andrew Davis. Refilmagem de “Disque M para Matar”), “Cidade dos Anjos” (1998. Direção de Brad Silberling. Refilmagem de “Asas do Desejo”), “Thomas Crown – A Arte do Crime” (1999. Direção de John McTiernan), “A Fantástica Fábrica de Chocolate” (2005. Direção de Tim Burton), “Os Infiltrados” (2006. Direção de Martin Scorsese. Refilmagem de “Conflitos Internos”), “Bravura Indômita” (2010. Direção de Ethan Coen e Joel Coen), “Sete Homens e um Destino” (2016. Direção de Antoine Fuqua. Refilmagem do clássico homônimo de 1960, que por sua vez é uma refilmagem de “Os Sete Samurais”, de Akira Kurosawa) e “O Estranho que Nós Amamos” (2017. Direção de Sofia Coppola).
Muitas vezes, produtores e diretores não gostam de admitir que um remake é um remake, preferindo dizer que se trata de uma nova adaptação literária, uma ‘nova visão’, por assim dizer. Talvez isso explique porque o livro “The Body Snatchers”, de Jack Finney, tenha quatro versões para o cinema: “Vampiros de Almas” (1956. Direção de Don Siegel), “Os Invasores de Corpos” (1978. Direção de Philip Kaufman), “Invasores de Corpos – A Invasão Continua” (1993. Direção de Abel Ferrara) e “Invasores” (2007. Direção de Oliver Hirschbiegel).
É curioso notar que alguns diretores de prestígio refilmaram obras que eles mesmos dirigiram anteriormente. Assim, temos: “O Homem que Sabia Demais” (1934 e 1956. Direção de Alfred Hitchcock), “Infâmia” (1936 e 1961. Direção de William Wyler), “Duas Vidas” refilmado como “Tarde Demais para Esquecer” (1939 e 1957. Direção de Leo McCarey), “Os Dez Mandamentos” (1923 e 1956. Direção de Cecil B. DeMille) e “Violência Gratuita” (1997 e 2007. Direção de Michael Haneke). E porque não dizer de Howard Hawks, que basicamente refilmou o seu “Onde Começa o Inferno” em 1967 como “El Dorado” e em 1970 como “Rio Lobo”, ambos com resultados inferiores.
Claro que essa questão de “melhor ou pior” é muito relativo, indo muito do gosto pessoal de cada um. Entre algumas dezenas de remakes que considero superiores aos originais, selecionei cinco:
O Enigma do outro mundo (1982). Direção de John Carpenter
Refilmagem de “O Monstro do Ártico”
A aventura de 1951, codirigida por Howard Hawks, mostra uma expedição no Alasca que investiga algo estranho que caiu em uma inóspita região. O que era mostrado de forma mais discreta (e com poucos recursos) na obra clássica, na versão do diretor John Carpenter a ficção científica se transforma em um terror repleto de cenas violentas (lembrando bastante “Alien – O Oitavo Passageiro” e histórias do escritor H. P. Lovecraft).
A Mosca (1986). Direção de David Cronenberg
Refilmagem de “A Mosca da Cabeça Branca”
O original tem a presença do lendário Vincent Price e uma trama interessante, mas Cronenberg criou uma obra de terror mais densa (e gore) que impressiona por seu magnífico trabalho de maquiagem (vencedor do Oscar) e uma atmosfera sinistra que é uma mistura de Franz Kafka e H. G. Wells. No final das contas há muitas mudanças, sendo que Cronenberg reaproveitou do original apenas a ideia base do teletransporte e a figura da mosca.
Sem Saída (1987). Direção: Roger Donaldson
Refilmagem de “O Relógio Verde”
O clássico é estrelado pelos excelentes Ray Milland e Charles Laughton e se passa em uma redação de uma revista. Mas é na refilmagem estrelada por Kevin Costner e Gene Hackman que a história de um crime encoberto e um culpado – que luta contra o tempo para salvar a própria pele – ganha mais tensão e reviravoltas (com direito a um final inesperado). A trama dessa vez se passa no Pentágono.
Onze Homens e um Segredo (2001). Direção de Steven Soderbergh
Refilmagem de “Onze Homens e um Segredo”
Dean Martin, Frank Sinatra e Sammy Davis Jr. lideravam o grupo Rat Pack, e “Onze Homens e um Segredo” foi a produção de maior destaque dos astros. A história de um grupo de amigos que resolve roubar cassinos em Las Vegas ganha contornos (bem) maiores na produção de 2001, dirigida por Steven Soderbergh e estrelada (também) por um elenco de astros como George Clooney, Brad Pitt e Matt Damon. É sem dúvida um dos melhores remakes a superar (e muito) o original.
Madrugada dos Mortos (2004). Direção de Zack Snyder
Refilmagem de “O Despertar dos Mortos”
George Romero é George Romero, e ninguém discute sua genialidade. Seu “Despertar dos Mortos” é uma obra que não apenas mostra zumbis atacando pessoas em um shopping center, mas encontra também espaço para fazer uma crítica ferrenha ao consumismo. A refilmagem de Zack Snyder (que para muitos é a melhor obra do diretor) consegue ser mais enérgica, tensa e… bem humorada, se tornando uma das melhores produções do gênero.