Cinema, Emoções e TBT.
Nos conhecemos, coincidentemente (se é que elas existem), numa quinta-feira, dia 16 de janeiro de 2014. Nesse dia publiquei “Eu me chamo… Ostra”, meu primeiro texto na coluna “Eu Cinéfilo”, e tudo começou.
Após dias na busca por portais e blogs que tivessem o cinema como protagonista e os braços abertos à novos escritores, tivemos nosso primeiro encontro. Apresentei o desconhecido Felipe Ferreira, compartilhei minha relação particular com os filmes e internalizei sem receio minha vontade de colaborar com algum grande veículo de comunicação. As inquietações borbulham por dentro e precisavam sair!
Dias depois, estava integrado à equipe de colaboradores do Cinemação. Fui muito bem recebido por todos (dos veteranos fundadores, os escritores mais experientes até aos marinheiros de primeira viagem, como eu). Estava em êxtase! Agora todos meus pensamentos e digressões poderiam ser lançados ao vento e chegar a outros mares, sem fronteiras.
Nessa época, minha vida passava por um turbilhão de plots twists. Meus pais estavam recém-separados, os dramas familiares provaram que tudo que é sólido pode derreter e eu e minha mãe tínhamos acabado de nos mudar depois de um tempo morando separados (ainda a distância entre Salvador e o interior onde ela morou fosse irrisórias 1h).
O frescor da minha nova vida entrelaçava-se com o desabrochar de uma carreira literária que andava de forma vagarosa e verdadeira. Em todas as minhas sessões de finais de semana tinha uma caneta e um bloquinho do lado. As janelas dos olhos abriam as portas das palavras. A cada sensação, uma reação. A cada provocação que recebia, uma nova provocação eu fazia e lançava aos meus leitores.
Passado um tempo, integrei o time de veteranos do site e criei minha própria coluna. Ali nascia a “Rochas – O filme por trás do roteiro”. A coluna tinha como objetivo fazer um registro documental e cotidiano do processo que envolve a criação, produção e realização de um curta metragem no Brasil. Na época, tinha escrito um roteiro que narrava a história de um triângulo amoroso entre uma mulher e dois homens que estudavam cinema juntos, e descobriam o amor um pelo outro. A narrativa teve inspiração no sopro onírico de Bernardo Bertolucci em “Os Sonhadores” e fazia uma homenagem esteticamente referencial à lenda Glauber Rocha. O filme não saiu do papel e até hoje continua fadado a condição de roteiro.
As análises, ou melhor, meus griphos cinematográficos aos poucos deram lugar a textos mais profundos e densos debates que dialogavam com o contexto sociocultural que eclodia cada dia mais forte nas nossas produções artísticas. Com isso, a “Rochas” ganhou duas sessões especiais a “Rochas Em Cores” que abordava questões de identidade de gênero e a “Rochas Em Debate” que tratava sobre temas relacionados as representações étnicas do cinema, e que foi a faísca do meu trabalho de pesquisa na pós-graduação: “Rainhas da Resistência – A Mulher Negra no Cinema Brasileiro”.
Nesses exatos 03 anos e 07 meses de dedicação, alguns hiatos compulsórios e de muitas inspirações, consegui expressar em palavras tudo aquilo que, independente do selo de bom ou ruim, da quantidade de estrelas ou de recorde de acessos, mexia com o meu existir, deslocava meus olhares e me provocava reflexões. Fui pleno, amadureci e tive a honra de entrevistar artistas conscientes do seu ofício e a oportunidade de compartilhar com vocês obras relevantes e fundamentais para entendermos o que somos, onde estamos e a força que temos para transformar. Não precisa ser o mundo inteiro. Se começarmos por nós mesmo já é de grande valia.
Hoje, em mais uma quinta-feira, a memória do #tbt e o início de um novo ciclo se cruzam em total harmonia, admiração e gratidão! Agradeço a todos os leitores do site, aos leitores assíduos da minha coluna e à toda família Cinemação que abraçou minhas ideias e projetos sempre com muita confiança, carinho e uma palavra de incentivo.
Publiquei meu primeiro livro para me legitimar como escritor. Agora, escrevo meu segundo livro e me jogo por inteiro no mar para conseguir (sobre) viver da palavra num país onde as palavras já não valem mais nada, e quem tem o dom de tirá-las da deriva do senso comum, menos ainda.
Entre as memórias que vem à tona toda vez que escrevo um capítulo de “desmembro”, estão às memórias que me acompanharam a cada filme, a cada texto, a cada título escolhido, a cada ilustração, a cada diálogo construído, cada pedaço de mim que se foi a cada texto parido e lançado ao mundo nesses anos de trabalho, cinema e ação!
Foi um prazer! A “ostra” continua por aí…
Muito obrigado!
Até breve.