PLANETA DOS MACACOS: A GUERRA E A EVOLUÇÃO DO CGI
Recentemente foi discutido entre os autores do Cinem(ação) se CGI (Computer Graphic Imagery) poderia ou não ser considerado arte. A discussão foi longuíssima e não muito concludente, mas fiquei pensando sobre o assunto por dias. Sempre discuti muito a respeito do uso exacerbado de CGI ou imagens geradas por computadores, a famosa computação gráfica e como isso tem prejudicado a qualidade de alguns filmes que tenho visto nos cinemas. Alguns que focam suas atenções exclusivamente nos efeitos especiais e esquecem de desenvolver bem seus roteiros.
E não é de hoje que diretores tem feito mal uso de recursos inovadores. Um exemplo clássico é o cinema falado iniciado em outubro de 1927 com a exibição de O CANTOR DE JAZZ (The Jazz Singer, 1927), de Alan Crosland, em Nova York que mudou completamente e em definitivo a forma como se faz cinema. O filme foi o primeiro a ter passagens faladas e cantadas e também o primeiro a usar um sistema sonoro eficaz, conhecido como Vitaphone, lançado um ano antes, em 1926, pela Warner Bros. Depois disso muitos diretores e roteiristas passaram a dar demasiada atenção aos textos falados esquecendo-se da estética do filme e da narrativa deles. Tudo era dito e não mostrado, pois para muitos era mais fácil, simples e rápido dizer o que acontecia em tal cena do que mostra-la.
Mas é lógico que isso acontecera com apenas parte dos diretores e roteiristas. Muitos outros diretores da época como Charlie Chaplin, Fritz Lang, Alfred Hitchcock e outros, fizeram excelente uso do som. Chaplin, inclusive relutou muito em fazer uso do recurso falado, mas acabou cedendo ao fazer o excepcional O GRANDE DITADOR (The Great Dictator, 1940).
Com o CGI não for diferente. Quando essa nova ferramenta tecnológica passou a ser utilizada no cinema, em meados dos anos 70 com o filme FUTUREWORLD (1976) percebeu-se as possibilidades dela dentro de um filme. E em 1977, George Lucas com seu STAR WARS – UMA NOVA ESPERANÇA (Star Wars: Episode IV – A New Hope, 1977) promoveu a grande revolução, mudando de vez o status quo de Hollywood. A partir dali, a tecnologia foi se aperfeiçoado e ficando cada vez mais realista, chegando até mesmo a substituir 100% dos cenários de um filme, como no caso de 300 (2006) de Zack Snyder.
Chegando agora em 2017 com o filme PLANETA DOS MACACOS: A GUERRA (War for the Planet of the Apes, 2017) percebe-se o quanto essa tecnologia evoluiu ao se integrar com outras técnicas como por exemplo o motion capture (captura de movimento) que é uma técnica que consiste em capturar os movimentos de uma pessoa e transpor-la para um modelo digital. Essa técnica é oriunda do rotoscopin (rotoscópio) desenvolvida em 1914 pelo animador Max Fleische, que consistia em uma filmagem convencional onde o desenhista desenhava sobre as imagens em movimento, criando movimentos mas realistas (veja o vídeo abaixo [em inglês]). Todavia, mais uma vez George Lucas e seu Star Wars foi o grande pioneiro na utilização e evolução dessa ferramenta nos cinema, e desta com o filme STAR WARS – A AMEAÇA FANTASMA (Star Wars: Episode I – The Phantom Menace, 1999) que foi o primeiro filme e utilizar-se dessa ferramenta no cinema.
Mas ao passo que a tecnologia ia crescendo, o mal uso dela também. Muitos diretores têm optado em filmar suas cenas sem qualquer tipo de cenário ou adereços físicos, o que daria muito trabalho para filmar, substituindo-os por efeitos computadorizados mal feitos que comprometem a cinematografia desses filmes além de artificializa-los.
Mas isso é algo que passa longe de acontecer com PLANETA DOS MACACOS: A GUERRA. Assim como acontecera em 2016 com o filme MOGLI: O MENINO LOBO (The Jungle Book, 2016) onde é difícil distinguir o real do digital, aqui esse trabalho é ainda mais impressionante pois as imagens geradas por CGI interagem com cenários reais e em locações externas. A captura de movimentos é utilizada não apenas para capturar movimentos corporais de caminhada, pulo ou corrida. A captura de movimento extrai todas as expressões faciais dos atores em total sincronia com sua voz, e até com o movimento dos olhos. É um trabalho de atuação onde a tecnologia serve para transportar essa atuação para o digital. Sem o trabalho de atuação, seria improvável que ele conseguisse nos transmitir tantos sentimentos. É fácil nos afeiçoarmos pelos personagens graças a essas atuações. Caesar, apesar de ser um elemento digital, ele consegue ser mais humano, no que diz respeito a emoção transmitida, do que muitos atores.
Diante disso, este que vos escreve, defende em absoluto que o ator Andy Serkis seja indicado como melhor ator pelo trabalho fantástico exercido no filme. Além da excelente técnica digital que confere textura, cor e naturalidade aos efeitos, toda movimentação fluída e natural só é possível graças ao trabalho do ator que atua por trás de dezenas de eletrodos espalhados pelo corpo todo.
Esse vídeo abaixo exemplifica perfeitamente o brilhante trabalho do ator.
Durante coletiva de imprensa ocorrida em São Paulo para a divulgação do filme, Serkis ao ser indagado sobre se ele deveria ou não ser indicado a algum prêmio de atuação, e ele comenta:
“Realmente acredito (que deveríamos concorrer). É preconceito e ignorância não reconhecer os atores que trabalham com “motion capture”. Os membros mais antigos da academia se recusam a aceitar. Atuar é o que acontece no set, com outros atores. Basta ver as cenas de bastidores. Se eu me maquiasse as pessoas aceitariam melhor, mas como coloco o macacão, não consideram. É frustante”.
É difícil prever até onde essa tecnologia pode avançar, mas é certo dizer que ela avançará. Em 2018 teremos o novo live-action de O REI LEÃO, que será dirigido por Jonh Favreau que já digira MOGLI. Ali veremos se haverá mesmo uma evolução da tecnologia. Eu aposto que sim, e aposto também que tão logo a Academia (Oscar) vai ter que abrir o precedente para que trabalhos maravilhosos como o de Andy Serkis e de outros sejam agraciados com premiações por atuação.
Por hoje foi isso. Se quiser conhecer mais do meu trabalho, eu escrevo para blog ArteCines e semanalmente falo de cinema no meu Canal no Youtube.