As Faces do Coringa
O início
Em 1869 era lançado o livro “O Homem que Ri”, do célebre escritor francês Victor Hugo. Conta a história de Gwynplaine, que é abandonado quando criança e passa por uma deformação para virar atração de horror. Em 1928, o diretor expressionista Paul Leni adaptou a obra de Hugo, com Conrad Veidt (de “O Gabinete do Doutor Caligari”) no papel central.
A caracterização de Veidt impressiona até hoje, onde através de uma pesada maquiagem ele fica com um sorriso permanente no rosto. Em 1940, na HQ “Batman” edição número 1, estreava o vilão de nome Coringa, uma figura sinistra e insana. A HQ foi escrita por Bill Finger e desenhada por Bob Kane e Bill Finger (há controvérsias). Sabe-se que o arqui-inimigo do Homem-Morcego foi inspirado no personagem Gwynplaine (de fato há grande semelhança entre os personagens), que até há uma HQ que homenageia o filme.
O Coringa apareceu em diversas HQs, entre elas “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (de Frank Miller), “A Piada Mortal” (de Alan Moore e Brian Bolland), “Asilo Arkham” (de Grant Morrison e Dave McKean), “Morte em Família” (de Jim Starlin, Marv Wolfman, Jim Aparo e George Pérez) e “Coringa” (de Brian Azzarello e Lee Bermejo).
No cinema
Batman, o Homem-Morcego (1966. Direção: Leslie H. Martinson)
A série de TV do anos 60 estrelada por Adam West e Burt Ward veio acompanhada de um longa-metragem que chegou a ser exibido nos cinemas. “Batman, o Homem-Morcego”, assim como a série, era cômica, vista por muitos como uma sátira do personagem. Tudo era visualmente colorido, estilizado, sem maiores pretensões, apenas divertir. O coringa é interpretado pelo veterano ator Cesar Romero. É uma caracterização exagerada mas sempre divertida. Dá pra ver o bigode do ator debaixo da maquiagem que o deixa com o rosto branco.
Batman (1989. Direção: Tim Burton)
É fácil perceber que o Coringa de Jack Nicholson foi introduzido neste filme no intuito de roubar as cenas do herói, e é isso que acontece. Com seu nome vindo primeiro nos créditos, Nicholson deita e rola interpretando um personagem insano e totalmente descontrolado, cuja origem remete às HQs “O Homem Por Trás do Elmo Vermelho!” e “A Piada Mortal”. O filme de Burton é importante por ter dado novo fôlego aos personagens das HQs nas telas de cinema. O vilão termina de forma trágica, não vindo assim a aparecer na sequência “Batman – O Retorno” (1992).
Batman: A Máscara do Fantasma (1993. Direção: Bruce Timm e Eric Radomski)
Assim como a série clássica dos anos 60, a animação “Batman: A Série Animada” (1992 – 1995) também originou um longa-metragem exibido nos cinemas. Considerado por alguns melhor que os filmes de Tim Burton, “Batman: A Máscara do Fantasma” traz Mark Hamill (o Luke Skywalker da saga “Star Wars”) dublando o terrível vilão que está mais sinistro do que nunca. A aparência do personagem seria usada ainda em outras animações do Homem-Morcego. Hamill se sai muito bem e deixa sua marca.
Batman: o Cavaleiro das Trevas (2008. Direção: Christopher Nolan)
Muitos concordam que o melhor Coringa de todos os tempos foi interpretado pelo ator Heath Ledger. Realmente ele dá um show, recriando o personagem, injetando novos elementos físicos e psicológicos. Seu Coringa é anárquico, não se importa com nada, está sempre criando as mais terríveis situações no intuito apenas de ver o caos se estender da pior forma possível. Sua origem não é mostrada, ficando apenas pistas de seu passado, onde não sabemos se são verdadeiras ou falsas. O filme é uma obra-prima do gênero. Foi o último trabalho do ator, que faleceu em 2008, pouco antes do término das filmagens. Por esse papel, Ledger venceu mais de 30 prêmios internacionais de melhor ator coadjuvante, entre eles o Oscar, Globo de Ouro e o BAFTA.
Esquadrão Suicida (2016. Direção: David Ayer)
Foi um grande sucesso de público e fracasso de crítica essa adaptação de um famoso grupo de anti-heróis das HQs. Se o filme se perde o tempo inteiro, o Coringa interpretado pelo ator Jared Leto se sai ainda pior. A caracterização de Leto não convence. Ele criou um personagem apático e pouco memorável. A excessiva maquiagem que o deixa com trejeitos estranhos e grotescos não ajuda a dar mais expressividade ao personagem. A culpa é não é somente do ator, mas também do roteiro fraco que nunca lhe dá chance de se destacar.
Capa: Sara Regina, a Saracema