Crítica: A Bela e a Fera (2017)
A Bela e a Fera (2017) é uma boa adaptação da animação da Disney e garante uma razoável atualização da animação de 1991.
Ficha técnica:
Direção: Bill Condon
Roteiro: Stephen Chbosky, Evan Spiliotopoulos
Elenco: Emma Watson, Dan Stevens, Luke Evans, Josh Gad, Kevin Kline, Stanley Tucci, Gugu Mbatha-Raw, Adrian Schiller, Ewan McGregor, Ian McKellen, Emma Thompson, Hattie Morahan, Nathan Mack, Audra McDonald.
Nacionalidade e lançamento: EUA, 17 de março de 2017 (16 de março de 2017 no Brasil)
Sinopse: Bela (Emma Watson) é uma jovem considerada estranha pela maioria das pessoas do povoado onde vive. Após seu pai ser capturado por uma Fera (Dan Stevens) que vive em um castelo habitado por objetos falantes, decide libertá-lo em troca de ficar prisioneira do lugar dele. Sem saber, acaba ajudando a acabar com o feitiço que havia transformado um belo príncipe no monstro, assim como seus criados em objetos.
Desde que a Disney começou a readaptar desenhos antigos em filmes live-action – graças à tecnologia que possibilita isso – os resultados têm sido inconstantes em termos de qualidade. Algumas releituras possibilitam outro ponto de vista, como Malévola, outras trazem elementos Shakespearianos, como Cinderela, enquanto outras resultam em efeitos especiais que por si só já valem o ingresso, como “Mogli – O Menino Lobo”. Desta vez, A Bela e a Fera (2017) traz elementos novos e, diferente dos antecessores, se assume verdadeiramente como um musical, mas nem por isso se torna uma obra melhor que o “original”.
O filme de 1991 é considerado uma das melhores animações da Disney, sendo a primeira animação indicada ao Oscar de Melhor Filme, em 1992 (somente Up e Toy Story 3 repetiriam o feito). Não é de se espantar, portanto, que este filme falhe em superá-lo.
O diretor Bill Condon é inteligente ao refazer cenas musicais com algumas diferenças, como pausas mais longas e interações diferentes entre os personagens – e a clara menção de LeFou como um personagem gay beira o estereótipo, embora mereça aplausos pela coragem de uma corporação como a Disney. Aliás, se tem uma cena sobre este tema, que é realmente inteligente ao unir um comentário social a uma gag cômica, é uma que ocorre já no terceiro ato com um dos “capangas” do vilão Gaston vestido de mulher.
Com uma estrutura de roteiro que não diverge em nada do filme original, apenas o estende por meio de mais cenas musicais, A Bela e a Fera (2017) é, de fato, um filme que depende do longa que readapta às telas. O problema, no entanto, é que ele pouco acrescenta à trama. Com exceção dos comentários “sociais”, que erguem muito timidamente uma bandeirinha com o arco-íris em segundo plano (quiçá terceiro), o filme sequer consegue fortalecer a protagonista além do que já é apresentado no material original, em um tempo em que se tornou tão necessário colocar mulheres fortes no cinema. Ainda assim, o fato de o nome do vilarejo ser Villeneuve é interessante por ser uma menção ao nome da autora do conto original de 1740, a “Dama de Villeneuve”. E se considerarmos que o conto original tinha como cerne temático a inveja, é uma pena que o filme continue tratando de temas amplos acerca de como “as aparências enganam” e “o amor triunfa”, algo que funciona muito mais em uma animação infantojuvenil.
Assim sendo, é uma pena que o novo “A Bela e a Fera” consiga se destacar em pouquíssimas características. Os objetos falantes, por exemplo, são muito bem adaptados ao “universo live-action” pela inventividade e pela atuação de grandes vozes (Emma Thompson, Ewan McGregor e Ian McKellen, em especial). Mas confesso que senti uma tristeza muito grande não apenas em alguns dos movimentos da Fera, cujo CGI poderia ter sido mais bem trabalhado, mas especialmente quando Bela entra na biblioteca do castelo e, em vez de um visual suntuoso, não consegui prestar atenção nos livros, já que a câmera não permanecia quieta um segundo, falhando em valorizar os espaços amplos do castelo e das paisagens, que o filme traz em sua essência.
Aliás, a câmera de Bill Condon atrapalha muito o trabalho do design de produção. Afinal, não conseguimos apreciar devidamente o interessante visual interior do castelo, que lembra a obra de Escher e faz sentido dentro da trama, já que o castelo está em ruínas. E se as cenas de ação de Condon nos fazem lembrar de Transformers, ao menos o diretor consegue fazer com que sua câmera valorize as coreografias das cenas musicais.
E com um ato final da tal bruxa que se assemelha a um quase “deus ex macchina” desnecessário, “A Bela e a Fera” é finalizada com um baile que sintetiza todo o filme: divertido, bonito e encantador para os olhos, mas nada memorável e com a sensação de que poderia ser muito melhor.
A Bela e a Fera (2017)
Resumo
A Bela e a Fera (2017): boa adaptação da animação da Disney e garante uma razoável atualização da animação de 1991. Nada memorável, e poderia ser melhor.