Crítica: A Qualquer Custo (Hell or High Water, 2016)
A Qualquer Custo recebeu 4 indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme.
Ficha técnica:
Direção: David Mackenzie
Roteiro: Taylor Sheridan
Elenco: Ben Foster, Chris Pine, Gil Birmingham e Jeff Bridges
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (02 de fevereiro de 2017 no Brasil)
Sinopse: Interior do Texas, Estados Unidos. Toby (Chris Pine) e Tanner (Ben Foster) são irmãos que, pressionados pela proximidade da hipoteca da fazenda da família, resolvem assaltar bancos para obter a quantia necessária ao pagamento. Com um detalhe: eles apenas roubam agências do próprio banco que está cobrando a hipoteca. Só que, no caminho, eles precisam lidar com um delegado veterano (Jeff Bridges), que está prestes a se aposentar.
O faroeste tem voltado a brilhar, ano passado tivemos Sete Homens e um Destino e Oito Odiados. Agora A Qualquer Custo, que traz o gênero para uma história contemporânea, consegue superar os antecessores citados e pode se solidificar como um clássico futuro.
A simplicidade da história é um guarda-chuva para uma série de subtemas que vão desde as relações étnicas entre brancos, índios e mexicanos, passando por críticas ao sistema bancário e chegando até o drama pessoal dos personagens. E exatamente por isso que A Qualquer Custo é tão genial: um mote comum (dois assaltantes sendo perseguidos por dois policiais) que se ramifica e permite um estudo complexo.
Duas duplas compostas por integrantes claramente distintos, mas que são fiéis parceiros. Condizente com a ambientação temos relações que transitam entre o frio e árido e o quente e sensível. As provocações, culpas e diferenças são postas lado a lado com a ideia de “faria de tudo por esse cara”. Sentimos, como consequência das atitudes, o peso da bagagem de cada um ali.
E tal como os sentimentos passados, a perseguição é silenciosa e verborrágica. O jogo de gato e rato é de certo modo linear, mas nunca perde força. Durante vários momentos vemos um paralelo visual e textual entre eles. O desfecho é tenso, instável e sufocante. E o quase epilogo amplifica ainda mais esses adjetivos.
Vários são os elementos cinematográficos que contribuem para o sucesso aqui. Há um trabalho de câmera dinâmico – já na abertura da obra, uma trilha variada que compõe o cenário de forma precisa – sabemos onde estamos e o tom dos sentimento a partir também dela, planos que exploram a paisagem sem saturá-la como muleta, além de uma ação mais contida, menor, no melhor dos sentidos. Ela é precisa e sem sensacionalismo – pense no oposto de uma ação Michael Bayniana.
O humor de A Qualquer Custo é surpreendentemente engraçado. As piadas tem alvos para todos os lado, isso o torna eficaz. Todos são feitos de idiotas, sem ser algo idiotizante. Já o drama familiar pode até ser colocado no cerne aqui – ele é necessário tendo em vista o reforço da empatia pelos protagonistas errantes.
O grande trabalho dos atores poderia ser premiado como o elenco do ano, foram melhores que o time do Estrelas Além do Tempo – vencedor do SAG de melhor elenco. Ben Foster, Chris Pine, Gil Birmingham e Jeff Bridges dão um show – este último com uma justíssima indicação ao Oscar. As interpretações são seguras e transmitem toda a bagagem que o filme pedia. Nada soa gratuito ou descompensado. A tristeza de um, a loucura de outro, os preconceitos e como lidar com eles, tudo é passado de forma cirúrgica.
Ao assistir A Qualquer Custo não tarda para percebemos que estamos diante de uma peça rara no cinema. Seja nos movimentos de câmera, interações entre personagens ou no tom geral. É tão gratificante quando temos filmes tão sensacionais e tão diferentes, como A Chegada, La La Land e Manchester à Beira Mar competindo, junto com este, no mesmo Oscar. Cinema é tão maravilhoso….
Resumo
Ao assistir A Qualquer Custo não tarda para percebemos que estamos diante de uma peça rara no cinema. Seja nos movimentos de câmera, interações entre personagens ou no tom geral.