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Crítica: Tangerine

Tangerine é a imersão ácida sobre a traição, no momento em que uma mulher-trans busca respostas ao sair da prisão.

Ficha técnica:

Direção: Sean S. Baker.

Fotografia: Sean S. Baker, Radium Cheung.

Elenco: Kitana Kiki Rodriguez, Mya Taylor, Mickey O’Hagan, James Ransone.

Nacionalidade e lançamento: EUA (4 de fevereiro de 2016).

Sinopse: Ao ouvir que seu namorado cafetão Chester (James Ransone) não foi fiel durante os 28 dias em que ela esteve presa, Sin-Dee Rella (Kitana Kiki Rodriguez) e sua melhor amiga, Alexandra (Mya Taylor), mergulham na selvagem Los Angeles em busca de respostas sobre a traição. A odisseia delas nos leva por várias subculturas da cidade, incluindo uma família armênia que precisa lidar com a infidelidade, tudo isso na véspera do Natal.

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Eu nunca imaginei que um longa-metragem filmado em celular, pudesse por muitas vezes em seus 86 minutos me prender em uma fotografia audaciosa. Uma produção que traz tanta empatia e sutileza, deixando um gosto agridoce ao espectador. Assim é Tangerine, uma comédia ousada e bela, sem se preocupar em esbanjar sua acidez em meio de uma fotografia doce.

O interessante foi observar como a traição é retratada na obra, como a confiança é muitas vezes quebrada pelos personagens. Traição é o que descreveria a conexão de todos os personagens, indo desde ao relacionamento de Sin-Dee e Chester, até a família tradicional armênia.

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Sean Baker valorizou sua obra por dar espaço à atores e atrizes renegados no mercado cinematográfico e marginalizados pela sociedade, mostrando que sim, existem pessoas trans-gêneros com muito potencial e boas atuações, sendo que Kitana K. Rodrigues e Mya Taylor dominam suas personagens com maestria. Com o seu humor irreverente e ácido, o diretor Sean Baker conseguiu direcionar o melhor de seus protagonistas, como no caso da Sin-Dee Rella. A atriz Kitana Kiki Rodrigues trouxe a sua personagem uma personalidade forte com movimentos icônicos, chegando a ser quase que teatral, sabendo dominar a cena naturalmente.

O filme consegue se sustentar muito bem até antes do impasse em que os problemas são resolvidos, a cena em que se reúnem todas as personagens. A partir deste ponto as atuações de todos, aparentam esfriar e não convencer mais, como que se faltasse um pouco mais de atenção na parte da direção dos atores em cena, e um roteiro com pequenos furos. Porém o filme se salva deste pequeno descuido com a cena final, em que com muita empatia, mostra que o melhor a se fazer por aqueles que nos amam (mesmo que seja amargo) é perdoar.

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A câmera lhe convida por uma nova ótica, ela é curiosa, e lhe puxa pela trama para encarar todo aquele dia como se fosse algo rotineiro, lhe ambientando ao mundo da prostituição, drogas e uma paranoia gritante com bastante naturalidade.

Por falar em câmera, não podemos esquecer que o equipamento usado na produção era um tipo de câmera bem conhecida, um celular. Sim, Tangerine foi gravado em três iPhones 5S. Nesse aspecto chama bastante atenção, podendo levantar questionamentos do tipo: “como podemos realizar uma produção caseira ao mesmo nível de qualidade?”. Por se tratar de um equipamento tão usual no dia a dia, esquecemos de uma característica principal que compõem uma imagem, não é só a luz, e nem tanto o equipamento utilizado, mas sim o olhar do profissional.

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Não podemos esquecer também do aspecto técnico que mais chama atenção ao Tangerine, sua fotografia e colorização. Com um aproveitamento feliz da luz natural e um tom envelhecido em laranja, Tangerine pode causar muita estranheza de início lembrando até muitos filtros usados em editores de fotos, mas a sua estética existe para dar conforto aos olhos, como acontece quando ativamos um recurso para descansar os olhos ao usar o celular a noite, ou, na leitura de um livro com páginas mais amareladas. Além de convidar a quem assiste para uma realidade (em que provavelmente você não se encaixe) de um jeito agradável sem que aja uma agressão visual.

Abaixo o trailer:

  • Fotografia
  • Atuação
  • Direção
  • Roteiro
  • Trilha
3.5

Pensamento

E nas viela, nos táxis, nas lanchonetes de esquinas, se encontram essas figuras de tons alaranjados, se encontram trabalhadoras que foram deixadas de lado pela sociedade, trazendo uma realidade triste a troco da pinga pra molhar a garganta seca. A sociedade é ácida e amarga, elas não, elas são doces.

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