Crítica: La La Land – Cantando Estações
“La La Land” é um espetáculo visual pelo qual o cinema implora e poucos cineastas conseguem cumprir.
Ficha técnica:
Direção e Roteiro: Damien Chazelle
Elenco: Emma Stone, Ryan Gosling, John Legend, Finn Wittrock, J. K. Simmons, Tom Everett Scott.
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (13 de janeiro de 2017 no Brasil)
Sinopse: Mia é uma atriz iniciante que trabalha em um café e busca realizar seu sonho em Hollywood. Ela então conhece Sebastian, e ambos se apaixonam perdidamente enquanto tentam fazer o relacionamento dar certo.
Raramente os musicais precisam de tramas complexas. Não é diferente com “La La Land – Cantando Estações” (o subtítulo brasileiro é desnecessário, como sempre). Trata-se de uma simples história de amor entre um pianista de jazz e uma atriz iniciante. Ambos são jovens e cheios de sonhos.
Mas “La La Land” é muito mais que uma trama. É um espetáculo visual, um deleite cinematográfico e uma homenagem aos maiores clássicos do gênero, além de funcionar como uma ode a Los Angeles como poucos filmes foram capazes de fazer.
É interessante notar como, tanto na trama quanto no próprio filme em si, vemos um olhar respeitoso ao passado, mas sem desconsiderar o futuro. Os elementos que podemos ver são muitos. O próprio protagonista, Sebastian, é um cantor de jazz, ritmo considerado “morto” tal qual o gênero do longa. Mesmo assim, Keith (John Legend) fala sobre o fato de o jazz ser algo sobre o futuro, quebrando com o saudosismo do personagem. Ao mesmo tempo, trata-se de um filme que, ainda que se passe nos dias de hoje, possui figurino e cenografia remetendo a décadas passadas (especialmente os anos 50). Ainda vale lembrar que quem dirige um longa com esta carga de nostalgia é um jovem de 31 anos em seu terceiro longa-metragem (e cujo segundo filme ganhou 3 Oscars).
A quantidade de musicais (e alguns clássicos gravados na cidade) rememorados por “La La Land” será sempre compatível com o repertório de quem assiste. Seja por meio dos lugares-comuns (afinal, não podemos chamar de clichê), como as citações a Paris – que lembram “Todos Dizem eu Te Amo”, de Woody Allen – seja por uma breves cenas com Gosling apoiado no poste e nos levando diretamente ao clássico dos clássicos, “Cantando na Chuva”. E nem mesmo a descrença do casal no amor que sentem um pelo outro pode ser chamada de clichê, já que se dá em um tom de quem veste muito bem o traje de um musical “completo e inveterado”.
Obviamente, é impossível não recordar-se de “Juventude Transviada”, citado nominalmente, e que não apenas se passa em Los Angeles como mostra um jovem perdido entre sonhos e impossibilidades criadas pela sociedade. E como bônus, podemos citar a presença de Tom Everett Scott, capaz de nos fazer recordar da canção “That Thing You Do” sem nem falar nada.
Mas não é só isso.
Visualmente, “La La Land” é simplesmente impecável. O trabalho com as cores dos figurinos dá o tom alegre e quase onírico a uma cidade que exala luxo, riqueza e a promessa da realização dos sonhos. E quando vemos Emma Stone cercada por faixas de luzes neon vermelhas antes de ver Sebastian, simbolizando a paixão da protagonista, também acompanhamos um painel de pinturas que não só permite inúmeras interpretações, mas é de um apuro estético primoroso.
Aliás, o apuro estético aqui consegue ultrapassar até mesmo os significados. Design de produção, fotografia e figurino são, em sua maioria, elementos caprichosos de um espetáculo para os olhos – e a filmagem em película e lente Cinemascope é sentida a cada segundo da produção, especialmente por meio de uma paleta de cores que o digital jamais permitiria.
De fato, Ryan Gosling continua com suas feições pouco expressivas que parecem funcionar mais em filmes densos como “Drive”, mas isso não tira sua eficiência ao longo da projeção, e chega até mesmo a criar um bom contraste com a expressividade quase exagerada de Emma Stone.
Por fim, é impossível falar de “La La Land” sem comentar a temática da trama. Afinal, somos todos movidos por sonhos. E dói em todos nós receber os “nãos” da vida, que ainda prega peças ao não combinar estes mesmos sonhos com o destino daqueles que amamos, muitas vezes fazendo com que caminhos se separem.
Assim, “La La Land” consegue acrescentar ao escapismo do musical um sabor agridoce da realidade. E quando os momentos finais mostram a imaginação de um dos personagens, destacando como a realização de um sonho exige que se abdique de outros, saímos do cinema com a poderosa sensação de que, ainda que dolorosa, a vida só é plena quando nos permite amar, mesmo que sem ser correspondido, e sonhar, mesmo que sem realizar.
E quando nos lembramos de que a Arte e o cinema são representações dos nossos próprios sonhos, é impossível não se encantar com o fato de que “La La Land” seja um musical sobre musicais, um filme sobre filmes, e uma representação da vida que nos faz desejar, simplesmente, viver.
Resumo
Visualmente, “La La Land” é simplesmente impecável. O trabalho com as cores dos figurinos dá o tom alegre e quase onírico a uma cidade que exala luxo, riqueza e a promessa da realização dos sonhos.