Kirk Douglas: 100 anos de uma lenda do cinema
Kirk Douglas nasceu no dia 9 de dezembro de 1916, na cidade de Amsterdam, em Nova Iorque. Douglas é de ascendência judaica, o que explica seu verdadeiro nome: Yssur Danielovitch Demsky. Ele começou a atuar no cinema em 1946. Ator excepcional, demonstrou enorme talento já no início, o que chamou a atenção de produtores e diretores que fizeram dele um dos maiores atores de todos os tempos. De impressionante carisma, Douglas nunca entregou uma interpretação ruim em toda a sua carreira. Sua participação nos filmes dos mais variados gêneros era sinônimo de qualidade e grandes atuações.
O início da carreira
Douglas começou a carreira no cinema com o filme “O Tempo Não Apaga” (1946. Direção de Lewis Milestone), onde interpreta um promotor alcoólatra que tenta a todo custo esconder um trágico segredo do passado envolvendo sua atual esposa (feita por Barbara Stanwick). O longa é protagonizado por Van Henflin, mas Douglas já atraia a atenção com seu jeito intenso e natural de atuar. No ano seguinte, ele interpreta um gangster que atormenta a vida de Robert Mitchum no excelente filme noir “Fuga do Passado” (direção de Jacques Tourneur). Em 1949, Douglas trabalha com o prestigiado diretor Joseph Mankiewicz na comédia dramática “Quem é o Infiel?”, sobre três amigas que tentam descobrir qual dos maridos delas fugiu com outra amiga que lhes escrevera uma carta revelando a traição.
As indicações ao Oscar
Não demorou muito para que Douglas começasse a ser lembrado nas indicações das premiações do Oscar. A primeira delas é em 1949, quando ele interpretou um boxeador que acaba sendo vítima de seus próprios excessos, em “O Invencível” (direção de Mark Robson). Douglas, que já se envolvera com o boxe antes de entrar para o cinema, arrasa no papel-título. Em 1952, sua segunda indicação ao prêmio da Academia vem com a interpretação de um arrogante e calculista produtor de cinema em “Assim Estava Escrito” (direção de Vincente Minnelli), um dos melhores filmes sobre Hollywood. Um filme que ousa denunciar a própria indústria, e um dos trabalhos mais notáveis de Douglas, ao lado da estrela Lana Turner. Em 1956, novamente sob a direção de Minnelli, Douglas vive o emblemático pintor Vincent Van Gogh em “Sede de Viver”. É sua atuação mais visceral, onde ele se entrega de corpo e alma em um papel corajoso e difícil, na terceira e última indicação ao Oscar de sua longa carreira. Em 1996, Douglas recebeu um Oscar honorário.
Trabalhos desafiadores
Em 1951, Douglas interpreta um detetive que vive um dia turbulento quando revelações bombástica vêm à tona, no intenso “Chaga de Fogo” (direção de William Wyler). No mesmo ano, ele dá vida a um inescrupuloso repórter que não perde a chance de explorar ao máximo um resgate em uma mina indígena, criando um verdadeiro circo midiático. Em 1962, ele é o viajante solitário que se envolve em uma dramática situação que o faz ser perseguido pela polícia. É “Sua Última Façanha” (direção: David Miller), um tocante filme sobre liberdade e velhos hábitos, como andar a cavalo na cidade grande. No mesmo ano, o diretor John Huston o dirige no curioso “A Lista de Adrian Messenger”. Douglas aparece em boa parte das cenas embaixo de uma pesada maquiagem, interpretando um assassino metódico. “Sete Dias de Maio” (1964. Direção de John Frankenheimer) mostra Douglas como um coronel que desconfia que seu chefe, um general (feito por Burt Lancaster), planeja um golpe para tirar o presidente dos EUA do poder, durante a tensão da Guerra Fria.
Bons westerns
Em 1952, Howard Hawks dirige Douglas em “O Rio da Aventura”, sobre uma expedição que precisa lidar com vários tipos de complicações pelo caminho. Em “Homem Sem Rumo” (1955. Direção de King Vidor), ele interpreta um vaqueiro que se aloja em um rancho, mas logo é alvo da ambição de fazendeiros. “Sem Lei e Sem Alma” (1957. Direção de John Sturges) traz Douglas como o pistoleiro bêbado Doc Holliday que ajuda o xerife Wyatt Earp (Lancaster). Sturges o dirige novamente em 1959, em “Duelo de Titãs”, onde ele interpreta um xerife que tem sua esposa violentamente estuprada e morta. Jurando vingança, ele descobre que o assassino é filho de um velho amigo (Anthony Quinn). “O Último Pôr-do-Sol” (1961. Direção de Robert Aldrich) é um dos mais trágicos westerns de todos os tempos, onde o astro vive um esperançoso e ao mesmo tempo um atormentado pistoleiro. Em 1970, Douglas trabalha novamente com o diretor Joseph Mankiewicz, em “Ninho de Cobras”, onde o astro interpreta um presidiário que tenta fugir de uma prisão, mas bate de frente com um esperto xerife (feito por Henry Fonda).
Grandes aventuras
“Ulysses” (1954. Direção de Mario Camerini) traz Kirk Douglas como o herói da Odisséia de Homero, em uma aventura em grande estilo, e com a presença de Quinn e da musa Silvana Mangano. Os Estúdios Disney lançam no mesmo ano, o vencedor do Oscar de efeitos especiais: “20.000 Léguas Submarinas” (direção de Richard Fleischer), onde Douglas vive um assistente fascinado pelo espantoso mundo do Capitão Nemo (James Mason). Em 1958, Douglas estrela “Vikings, os Conquistadores” (também dirigido por Fleischer), uma aventura épica, co-estrelada por Tony Curtis, Janet Leigh e Ernest Borgnine.
Parcerias com Stanley Kubrick
Kirk Douglas e o diretor Stanley Kubrick fizeram dois filmes juntos que ficaram marcados para sempre. O primeiro é “Glória Feita de Sangue” (1957), considerado por vários críticos o melhor filme do astro. É um excelente drama que faz uma crítica severa às guerras (a ação aqui se passa durante a Primeira Guerra Mundial) e o poder nas mãos dos homens. “Spartacus” (1960) é o filme mais popular do ator, uma superprodução vencedora de quatro Oscars. A história do escravo que vai lutar em arenas de gladiadores e depois lidera um exército contra o poderio romano. Douglas, também produtor do filme, exigiu que colocassem o nome do roteirista Dalton Trumbo na obra, desafiando a própria Hollywood que ainda estava sob o efeito do Macarthismo, perseguição anticomunista que predominou nos EUA nos anos 40 e 50.
Douglas é pai do também ator e produtor Michael Douglas. Em julho deste ano, a atriz Olivia de Havilland também completou 100 anos. Ela e Douglas são alguns dos poucos representantes do cinema clássico que ainda estão vivos. Longa vida a eles.