#ROCHASEMCORES🌈 | NO PALCO | – ENTREVISTA: LÉO ROSA, LIDI LISBOA & PEDRO LEMOS, ELENCO DA PEÇA “BRUTA FLOR”.
O espetáculo teatral “Bruta Flor” entrará na sua 3ª semana em cartaz na Sala Irene Ravache do Teatro Raposo Shopping em São Paulo, e a 2ª parte do especial “Rochas em Cores | no palco | Bruta Flor “, trás uma entrevista com os atores Léo Rosa, Lidi Lisboa e Pedro Lemos.
Nessa entrevista exclusiva eles falam do processo de criação da montagem, dos seus respectivos personagens (Lucas, Simone e Miguel), da representatividade da peça no cenário teatral LGBT e dos seus trabalhos na TV e no Cinema.
#RochasEmCores🌈 | no palco | apresenta:
Léo Rosa, Lidi Lisboa e Pedro Lemos.
1.) O nome do espetáculo, “Bruta Flor”, remete naturalmente à canção “O Quereres” de Caetano Veloso. O querer humano é cheio de paradoxos que a a racionalidade desconhece. Quais foram suas inspirações e referências no processo de construção do personagem? Em algum momento da montagem houve uma convergência entre ator/atriz-personagem?
Léo: As referências foram tudo o que estamos vendo ao longo dos anos sobre preconceito, fobias sociais, dificuldade de inserção de pessoas ditas “diferentes” no que é estabelecido como padrão, normativo e comum. Tenho visto a luta de pessoas do mesmo sexo em busca de reconhecimento civil nos seus relacionamentos, a busca de casais homossexuais por direito a adoção de crianças, a busca por direitos de transexuais para que a sua identidade seja aceita e inserida no dia a dia social…enfim…as referências estão todas aí, para quem quiser ver. Já vi e ouvi muitos “Lucas” por aí… Sou até conhecido, quase amigo, de alguns. (Medo) Infelizmente esta é uma questão internalizada muitas vezes, cotidiana em alguns ambientes e de suma importância para o debate sobre a nossa sociedade atual. Que cada ser possa realizar as suas aspirações mais íntimas. E que o amor prevaleça, sobre todas as coisas! Esse é o meu desejo após cada visita que faço a esta história!
Lidi: Minha inspiração está “aí” no mundo real, é só querer enxergar. O que normalmente acontece e aconteceu nesse processo também, é um crescimento como ser humano, passamos a refletir sobre as diferenças e complexidades de cada ser humano ou personagem.
Pedro: O ser humano é um conflito só. Tem forças das mais distintas naturezas agindo sobre si o tempo todo. O instinto, o profundo, o íntimo, quer. O cerebral pondera se pode ou deve realizar o que quer. Ou seja, esse simples conflito ético, presente em todas as pessoas, é só um exemplo de quão desafiador é viver. A inspiração pra esses personagens é a certeza de que todos temos questões pra resolver, inevitavelmente, e cabe a nós trilhar um caminho para resolvê-las ou enterrá-las.
2.) As memórias e o presente da relação entre Lucas, Simone e Pedro é a espinha dramática da peça. Como vocês construíram essa relação intrínseca de afeto, lembranças e desejos?
Léo: Sinto que construímos baseados no texto, na forma como a história se desenrola na narrativa, mas muito também através do afeto e admiração que já sentimos uns pelos outros, pessoalmente. Lidi e Pedro são dois artistas que admiro muito. E que tenho afinidades também na vida pessoal. Isso ajuda muito nas relações entre as personagens. O Márcio também é um artista que admiro e que caminho perto há um bom tempo. Ele nos conduziu com sutileza e liberdade ao longo da jornada de descoberta destas vidas, que ainda estão se apresentando para nós, eu sinto. E a busca é por cada vez mais revelarmos o quanto é complexo o processo de aceitação de uma pessoa em relação a si mesma, principalmente alguém tão preconceituoso quanto o Lucas, meu personagem. É uma abertura interna muito grande pra mim…uma imersão nesse encontro entre ele se fazendo cada vez mais presente e eu, pedindo para ter a altura que ele merece.
Lidi: Somos atores que se entregam aos seus personagens, isso é maravilhoso em qualquer processo. Graças a isso, a direção do Marcio e todo o período de ensaios, é que chegamos nesse resultado. É uma construção de todos.
Pedro: Pra mim, foi, literalmente ensaiando. Repetindo, me familiarizando com os atores em cena, ouvindo o Marcio sobre as motivações essenciais de cada personagem. Mas não dá pra negar que o lado pessoal, o convívio com eles e o clima bom entre nós deixam tudo mais fácil.
Léo: Com certeza. Este trabalho tem, se dúvida, uma função social importantíssima, no sentido de levantar esses conteúdos buscando não tomar partido de lado algum. A peça apresenta o drama. Expõe a ferida. Mostra as consequências possíveis para tamanha intolerância e inadequação, coisas comuns em situações como a descoberta da sexualidade e as suas consequências, no estabelecer-se socialmente.
LÉO ROSA
4.) Há 10 anos atrás você estreava na TV no papel de “Miguel”, protagonista da novela “Vidas Opostas”. No caminho você dirigiu o videoclipe “Axé Capella” da Maria Gadú e foi assistente de direção de 03 filmes do cineasta Caio Sóh. Atualmente, além de atuar no teatro (seu berço artístico) com “Bruta Flor”, você está no ar na TV em “Escrava Mãe” (Record) como o escritor revolucionário “Átila”, no cinema como o antagonista do filme “Por Trás do Céu” do Caio Sóh, e ainda se prepara pra lançar seu primeiro livro. Como seu multiculturalismo contribui na composição e na execução de diferentes personagens?
Sou assim. “Metido”. Um ser sem formações acadêmicas especificistas. Me arrisco, muitas vezes a beira do ridículo, pelo meu pouco conhecimento em relação as técnicas daquilo que faço. Não tenho formação como ator, não fiz cinema, nem literatura na universidade. Mas tenho uma alma inquieta. Questionadora. Que quando admira, vai atrás, se informa, pesquisa, erra, brinca daquilo que se propõe. Mas brinca sério. Com compromisso. Tenho aspirações artísticas das mais diversas. Queria saber pintar e tocar instrumentos também. Fazer malabares, ter um palhaço para fazer na praça, uma sanfona pra tocar no metrô, mas sou limitado. E meu limite me permite arriscar menos do que gostaria. Trago tudo o que sugo e que sinto do mundo para os meus personagens. E abandono também, quando eles pedem o avesso de mim. Sou uma farsa. Bem contada para mim mesmo. Quando me levo a sério, sucumbo. O que fiz, seja com Caio ou com a Maria, seja virando música com Leandro Léo ou na equipe de direção de teatro com a Georgette Fadel, foi fruto da generosidade e da abertura destes artistas em relação a mim. E a minha admiração por eles, que precisava fazer parte nos seus trabalhos. Meu ator é o meu farol mais alto. Ele é quem sustenta tudo em mim. E é para ele que eu danço nas outras artes! Graças a Deus, até hoje, sempre muito bem acompanhado!
LIDI LISBOA
4.) Em 15 anos de carreira na TV você tem 08 novelas e 02 séries no currículo. Atualmente você pode ser vista na reprise da bem sucedida “Cheias de Charme” (Globo), e na inédita e elogiada “Escrava Mãe” (Record) na pele de “Esméria”, a escrava antagonista da trama, na qual tem roubado a cena através de uma construção cheia de nuances e conflitos. Como você analisa a representatividade da mulher negra na TV da sua estreia em 2001 até hoje?
Luto todos os dias. Realmente não é uma profissão fácil, é cheia de altos e baixos, porém gratificante em muitos aspectos. Devo confessar que as vezes penso em radicalizar e mudar tudo (risos). Não sou da Raça Negra, sou da Raça Humana, as pessoas precisam entender isso. A humanidade ainda tem muito o que progredir quando falamos de preconceito. Até meu cachorro sofre com isso, pode? O que me resta é ter esperança de que com o passar dos anos tenhamos pessoas mais amorosas.
PEDRO LEMOS
4.) Você estudou teatro no Célia Helena e a partir daí despontou na cena artística. Além de inúmeros comerciais atuou na novela “Amor e Revovução” (SBT), como o “Padre Inácio”, e atualmente pode ser visto no remake de Chiquititas (SBT) na pele do “Tobias”. Muitos atores ficam receosos em aceitar trabalhos adultos com cenas de nudez, após fazer sucesso em um projeto voltado ao público infantil. Como fazer essa transição entre personagens tão distintos e qual a importância da nudez na representatividade de uma obra como “Bruta Flor”?
Fiquei muito grato e surpreso com o sucesso do Tobias, em Chiquititas, e naturalmente tenho um público infanto juvenil muito forte. É preciso cuidado e consideração com essa turma que está em processo de formação de personalidade e caráter. No caso de Bruta Flor, como é teatro e tem censura de 16 anos, esse público e esse trabalho não vão se encontrar. E, preciso de desafios, personagens diferentes em trabalhos interessantes, como encontrei na peça. O nu é o de menos em Bruta Flor, Ele é bem cuidado, pontual e parte de uma história maior.
Léo Rosa (Lucas) e Pedro Lemos (Miguel) em “Bruta Flor”.
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Entrevista com Marcio Rosário, diretor de #BrutaFlor🌷
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