Crítica: Rainha de Katwe
Rainha de Katwe é um filme de superação necessário.
Ficha técnica:
Direção: Mira Nair
Roteiro: William Wheeler (baseado no artigo de Tim Crothers)
Elenco: Madina Nalwanga, Lupita Nyong’o, David Oyelowo, Martin Kabanza, Nikita Waligwa
Nacionalidade e lançamento: Estados Unidos, 2016 (24 de Novembro de 2016 no Brasil)
Sinopse: Phiona é uma menina que mora na região de Katwe, em Uganda, com a mãe e os irmãos. Sua vida muda quando, após tomar contato com o Xadrez, ela se descobre uma das mais hábeis jogadoras do mundo, e decide enfrentar todos os obstáculos para conquistar seu novo sonho. O filme é baseado em uma história real.
Rainha de Katwe
Além das produções locais e filmes independentes, é muito raro qualquer grande produção de Hollywood fazer um filme sobre a África totalmente centralizado no continente, sem qualquer personagem branco ou alguma visão “europeia colonizadora”. Desta vez, é a Disney que apresenta uma grande produção totalmente centralizada na África. Não se trata de um filme focado em denunciar as mazelas do continente mais pobre do mundo, como por exemplo o ótimo “Hotel Ruanda”, nem mesmo de uma visão europeia de um protagonista de fora, como em “O Último Rei da Escócia” (que se passa também em Uganda): trata-se de uma bela história de superação, ainda que as favelas e a vida difícil façam parte da trama.
É curioso notar como “Rainha de Katwe” é um filme bem-vindo. Grande produção, o longa traz dois grandes astros atuais, como Nyong’o e Oyelowo, e o selo Disney, que sempre traz a expectativa de um “feel good movie”. E ele é isso, mesmo. Colorido, repleto de cores quentes e uma pintura mais otimista dos bairros mais pobres de Kampala, capital de Uganda, “Rainha de Katwe” também segue a típica trajetória de superação, comum nos filmes de esportes – tais como os de boxe e lutas. Só que desta vez não tem socos e nocautes, mas peças e xeques-mates.
Filme necessário, especialmente pelo alcance que uma produção Disney permite, “Rainha de Katwe” se baseia quase inteiramente na simpatia dos personagens e atores. Direção e roteiro não são ruins, mas estão longe de se destacarem. As escolhas de Mira Nair são tradicionais e comuns, enquanto que a trama necessita de letreiros para mostrar a passagem do tempo, com poucos recursos que possam transmitir a real sensação do passar dos anos.
Roteiro e atuações
Ainda sobre o roteiro, vale destacar a necessidade de momentos clichês ou piegas para tentar levar a audiência às lágrimas: e a interrupção do treinador Katende (Oyelowo) no meio de uma partida é o ápice do desnecessário. Quando a trama opta por não ser verborrágica, funciona muito mais, como no momento em que mostra as crianças, durante uma viagem a uma competição, dormindo todas no chão, já que não tinham o hábito de dormir em camas: a cena é tocante e rápida, e por isso funciona.
Sobre a simpatia dos atores, vale destacar todas as crianças que fazem parte do elenco: engraçadas, doces e cheias de vida, cada uma delas traz diferentes características que funcionam dentro do grupo, ainda que algumas de destaquem um pouco mais. Como era de se esperar, Madina Nalwanga consegue dar a força necessária à protagonista, provando ser um excelente achado da equipe de produção.
Enquanto David Oyelowo consegue dar a carga dramática necessária para um treinador, é Lupa Nyong’o quem prova o quanto é merecedora de ter um Oscar na prateleira. Com pouco mais de 30 anos, a atriz poderia ser considerada muito jovem para viver a mãe de crianças e adolescentes, mas sua voz e seu trabalho corporal a fazem se passar por uma mulher mais velha e trazem toda a carga necessária para que possa dar vida a uma mãe sofrida que faz o que pode para manter seus filhos, ainda que sua ignorância a impeça de ver algumas possibilidades.
Desta forma, “Rainha de Katwe” se torna muito mais importante pelo que representa do que pelo que realmente é. Ainda assim, prova o quanto é necessário contar histórias como esta, que precisam chegar a mais pessoas do mundo todo – e já vêm tarde!
**O filme foi visto em sua estreia no BFI London Film Festival
Resumo
Rainha de Katwe é um filme de superação necessário, e se torna muito mais importante pelo que representa do que pelo que realmente é.