Crítica: O Contador (The Accountant, 2016)
O Contador tem bons momentos e bons temas, mas patina e se boicota.
Ficha técnica:
Direção: Gavin O’Connor
Roteiro: Bill Dubuque
Elenco: Ben Affleck, J.K. Simmons, Anna Kendrick, Jon Bernthal, Cynthia Addai-Robinson
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (20 de outubro de 2016 no Brasil).
O Contador vai entrar naquela lista de filmes pouco memoráveis. Pelo fato dele não ser excelente e definitivamente não ser ruim. Um elenco com atores renomados pode chamar o público, os papéis contudo não são espetaculares. Há uma quantidade razoável de cenas de ação e outras tantas bem morosas. Por um lado temos vontade de saber mais daqueles personagens, por outro as mais de 2 horas pesam.
Após os problemas no mercado financeiro no final dos anos 2000, Hollywood tem produzidos longas refletindo o período. O Lobo de Wall Street e A Grande Aposta são dois dos mais famosos. O Contador ecoa também essa temática. Mas com o foco em outros assuntos, notadamente o autismo do protagonista.
O ótimo personagem Christian Wolff (Ben Affleck) é a melhor coisa do filme. Complexo, com um certo carisma e vamos construindo os caracteres dele ao longo da exibição. Altas habilidades matemáticas e dificuldade em socializar, como é comum em alguns aspergeres, um vigor físico que é impossível não lembrar do Batman (também vivido por Affleck). Enfim, resoluto é a palavra que o define.
O que mais incomoda aqui é a relação dele com os outros personagens e o arcos desses outros. Parece que O Contador foi feito pensado em Wolff e pensando em Affleck, mas esqueceram dos demais. Os arcos de Dana Cummings (Anna Kendrick), Ray King (J.K. Simmons), Brax (Jon Bernthal) e Marybeth Medina (Cynthia Addai-Robinson) são clichês e previsíveis. Pela quantidade de coadjuvantes de peso na história (e de atores conhecidos) não ter o tempo em tela para cada um seria um desperdício. Essa falha eles não cometem (tanto). Eles tentam desenvolver, amarram a história, mas derrapam muito na condução e profundidade do retrato de todo mundo que não seja Christian Wolff.
O roteiro precisa, portanto de uma revisão nesse sentido, um enxugamento providencial. A intrincada trama lembra algo dos filmes de ação com um protagonista que tem que resolver tudo, misturado com uma pitada de Rain Man e Uma Mente Brilhante – sem consistência e presença destes dois últimos.
Tal como em Procurando Dory e Só o Melhor para o nosso Filho, em O Contador também é dado voz para a questão da doença. A condição de Wolff traz um belo retrato de alguém que não é neurotípico. Já a outra dimensão da história fica rasa, improvável e conveniente.
As exposições e diálogos fracos vem lado a lado com cenas bem feitas (como a do momento eureka do protagonista, o treinamento dele e a revelação do plot final) e uma mise-en-scène pensada e eficaz (o QG de Wolff é um exemplo). Entretenimento fácil com temas pesados. Ação, mistério e drama… A receita de O Contador é uma mistura de vários ingredientes. O quanto o produto final vai agradar é uma equação difícil de responder…
Resumo
O Contador é uma mistura de vários ingredientes. O quanto o produto final vai agradar é uma equação difícil de responder…