Crítica: 12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição (2016)
12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição flerta com Laranja Mecânica, mas acaba sendo um Esquadrão Suicida.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: James DeMonaco
Elenco: Elizabeth Mitchell, Frank Grillo, Mykelti Williamson, Betty Gabriel, Joseph Julian Soria
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (06 de outubro de 2016 no Brasil).
Sinopse: para controlar a superpopulação, o governo americano autoriza uma noite de crimes por ano, inclusive assassinatos. A candidata à presidência dos EUA, Charlene ‘Charlie’ Roan (Elizabeth Mitchell), que já perdeu a família em um desses feriados, coloca-se contra tal prática, nem que isso custe a própria vida.
Terceiro longa da série Uma Noite de Crime, que teve produções em 2013 e 2014, 12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição tem uma ideia instigante. Pensar nas consequências de uma institucionalização da criminalidade (de modo explícito) em uma sociedade próxima a nossa traz o pior do homem à tona. Outro possível mérito é o subtexto – intencional ou não – que lembra a situação da corrida presidencial americana – de um lado um radical conservador e de outro uma mulher (sim, desse modo simplista mesmo). O problema é que a ação não é explorada de modo verossímil e há simplificação na questão política.
Parece que eles não tiveram coragem de expor mais a sanguinolência e o lado mais podre do ser humano. Um arco envolvendo uma gangue de garotas se resume a uma rebeldia juvenil em busca de chocolate. Em outros momentos vemos pessoas amarradas em carro (o impacto visual em Mad Max foi muito superior) ou brigas e tipos que lembram os maneirismos dos anos oitenta. A consistência foi preterida em favor do estilo e jumpscares.
No conforto ideológico a coisa piora. Todos os clichês estão lá: discursos estereotipados de um lado e populistas de outro. Frases como “capitalismo predatório” ou vilanizar empresas de seguros que só pensam no lucro também marcam presença. Homens brancos conservadores religiosos são pessimamente retratados. Em contraposição ao apelo emotivo que vemos no lado das minorias: negros, latinos e mulheres são heróis – para não dizer imaculados o longa frisa que “todos temos um passado”, ou seja, já os absolvendo.
O roteiro é manjado e não traz desafios para o público. Não tarda para você saber quem morre e quem sobrevive. A narrativa usa da exposição como principal recurso para facilitar o que já era fácil. Não raro vemos um personagem descrevendo para outro o que este segundo é “Você é a Pequena Morte…” ou então falando coisas óbvias como “precisamos sair daqui, está perigoso!”. A movimentação, baseada em afastamentos e reencontros, é conveniente e insistentemente cíclica.
Os principais atores de 12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição estão competentes, mas não há tanta carga dramática e exigências. Já os vilões que tem menos material entregam o cúmulo da afetação. A fotografia tenta forçaf um tom amarelo escuro para refletir um clima mais soturno, mas falha. Em alguns momentos há um branco estridente que também é desnecessário. A câmera se utiliza de planos mais fechados e alguns cortes que desvalorizam a fluidez.
Uma intrigante distopia poderia ser apresentada em 12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição, todavia é ineficaz nessa proposta. Até temos aqui alguma galhofa estética que mescla o belo e o feio. No entanto o design é vazio e tolo. Encaro esta obra da mesma maneira que Jogos Vorazes: uma boa ideia nas mãos erradas. E o trocadilho se faz necessário: parabéns se você sobreviver aquelas duas horas projetadas na tela.
https://www.youtube.com/watch?v=xWQhkCuOlek%20
Resumo
Uma boa distopia poderia ser apresentada em 12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição, mas falha e muito. Até temos aqui alguma galhofa estética que mescla o belo e o feio. No entanto o design é vazio e tolo. E o trocadilho se faz necessário: parabéns se você sobreviver aquelas duas horas projetadas na tela.