49º Festival de Brasília, 7º dia: Deserto – O melhor filme da Mostra
O último dia da mostra competitiva do 49º Festival de Brasília de Cinema Brasileiro nos brindou com Deserto (RJ). E, inevitável dizer, foi o oásis no Festival. Melhor filme disparado. Mas melhor filme mesmo, daqueles que inundam nossos corações e nos deixam em êxtase ao sair da sala. Foi exibido também o curta de nome gigantesco: Os cuidados que se tem com o cuidado que os outros devem ter consigo mesmos (SP). Infelizmente não correspondendo à qualidade do filme principal da noite.
Falando rapidamente do curta, tem-se aqui uma proposta de mostrar a diversidade em diálogos cotidianos dentro de um apartamento. Boa parte da conversa é apenas pautada em clichês do gênero – no caso no sentido sexual – sem muito a acrescentar. Falta sutileza ao abordar um arco de um personagem que não consegue chorar. Apesar de contemporâneo, e condizente com o Festival, carece de força dramática e se tornará esquecível. Nota: 2 estrelas.
Na Mostra Competitiva era curioso notar que os longas estavam inferiores aos curtas. Felizmente não foi o caso com Deserto. Aliás, inferior é uma palavra que não se aplica a nada em Deserto. Contudo, o termômetro para tal experiência com este filme é O Auto da Compadecido. A saber: Deserto trata de temas caros ao Brasil, como no longa de Guel Arraes em 2000, tipos sociais, religiosidade, sexualidade, humor e principalmente arte. Vale a conversa que tive com o pessoal do Indic(ação) sobre cinema Brasileiro, onde cito essas características do Auto.
Arte vista sob vários prismas. O personagem do Lima Duarte é um amante incondicional do fazer artístico. E os demais acabam assumindo papéis dentro de uma nova sociedade que constroem – “os papéis escolhem os atores” – onde vemos uma metalinguagem bem executada. Há momentos de quebra da quarta parede que são socos no estômago do público.
Os elementos técnicos são ainda superiores: fotografia te ganha já no começo e vai melhorando a cada cena. Maquiagem convence. Figurino e design de produção estão impecáveis. Direção “some”, mas esse apagamento é no bom sentido, por deixar os atores brilharem e a narrativa fluir. Guilherme Webber estreia como diretor e o faz de forma primorosa, quero já ver os próximos longas dele.
Já adiantando as apostas sobre o Festival: Deserto deve levar todos os prêmios de atuação, fotografia, direção de arte, roteiro, montagem, direção e o prêmio principal. Talvez só não leve nas categorias de som, onde meu favorito é Antes o Tempo Não Acabava.
Enfim, Deserto já está no meu top 10 filmes nacionais de todos os tempos. Falo isso no calor de quem acabou de sair de um deserto rico e cheio de vida.
Hoje teremos as premiações da Mostra Brasília (onde o longa da Cora Coralina – todas as idades vem como favorito) e da Mostra Competitiva (onde, claro, Deserto deve papar quase tudo)
Cobertura dos outros dias do festival:
2º Dia com: Ótimo Amarelo, Quando os dias são eternos e rifle