Crítica: Pequeno Segredo (2016), de David Schurmann
Pequeno Segredo, filme de David Schurmann, Oscar Brasil 2016
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Crítica: Pequeno Segredo

“Pequeno Segredo” jamais deveria ter sido escolhido para representar o Brasil no Oscar.

 

Pequeno Segredo, filme de David Schurmann, Oscar Brasil 2016Ficha Técnica:

Direção: David Schurmann

Roteiro: Victor Atherino, Marcos Bernstein, Eliane Carneiro Ribeiro, David Schurmann, Heloisa Schurmann, Gabriela Tocchio

Elenco:  Júlia Lemmertz, Marcello Anthony, Mariana Goulart, Maria Flor, Erroll Shand, Fionnula Flanagan

Data de Lançamento: 22 de setembro de 2016 (limitado)

Sinopse: Histórias conectadas por um único segredo que envolve os Schurmann, primeira família brasileira a dar a volta ao mundo a bordo de um veleiro. Baseada em fatos, a trama conta o drama de Kat.

 

Pequeno Segredo:

Foi somente ao final da projeção de “Pequeno Segredo” que me dei conta da essência do filme: ele é uma homenagem de David Schurmann à sua irmã, que teve uma vida intensa apesar de uma doença que precisou enfrentar. É o primeiro filme ficcional (ainda que baseado em fatos) do cineasta que só fez documentários, e soa inteiramente como uma grande homenagem familiar – daquelas que só emocionam quem fez parte da história.

Em “Pequeno Segredo”, o espectador acompanha duas histórias que se encontrarão no decorrer do tempo: a do viajante neozelandês Robert (Erroll Sand), que se apaixona por Jeanne (Maria Flor) no Brasil e a leva para sua terra natal, onde revive o difícil relacionamento com a mãe (Fionnula Flanagan); e a de Heloísa e Vilfredo Schurmann (Júlia Lemmertz e Marcello Anthony), que vivem em Florianópolis os desafios de criar a filha Kat (Mariana Goulart).

 

Fraqueza na história:

Seria de bom tom dizer que o roteiro da trama faz o filme moroso e arrastado, mas a melhor palavra para defini-lo é “chato”. A primeira metade do longa não parece interessada em conectar o espectador com a história: apenas apresenta situações frias com personagens incrivelmente desinteressantes. Não há qualquer ligação entre as duas tramas apresentadas e o espectador ainda é obrigado a assistir a uma infinidade de cenas melodramáticas repletas de uma trilha sonora extremamente marcada.

O roteiro, se não surpreende por ter sido escrito a 12 mãos (roteiros ruins são comumente escritos por muitas pessoas),  cria surpresa por ter o nome do excelente Marcos Bernstein (Central do Brasil, Chico Xavier, Faroeste Caboclo) entre os autores. Além de não conseguir criar absolutamente nenhum fato interessante na vida de Kat capaz de tocar o público, consegue ser ainda mais enfadonho ao mostrar o amor entre Jeanne e Robert, já que se vale de desencontros forçados para criar alguma tentativa de tensão que preceda um acidente – e chegamos ao absurdo de ouvir o personagem dizer que desistiu de ir embora, como se sua corrida de volta à casa da amada não fosse o suficiente.

Mas o grande erro do roteiro de “Pequeno Segredo” está certamente na criação da “vilã”. Sua tridimensionalidade é tão falha que chegamos a acreditar que ela está envenenando uma pessoa, quando apenas busca dar um remédio – mas para entendermos isso, precisamos de informações posteriores dadas verbalmente. Além disso, o roteiro se baseia apenas nesta situação como forma de humanizá-la, para depois colocá-la como uma mulher intragável e extremamente racista. Isso não seria um problema tão grande, mas o terceiro ato agrava este elemento ao criar uma saída típica de desenhos animados: basta um discurso bonito e floreado para fazê-la se dar conta de como estava errada.

 

Subestima o espectador:

A direção tem algumas escolhas interessantes, como cenas belamente fotografadas e o paralelo entre as duas situações de um jardim no primeiro e no terceiro ato – e vale destacar a interessante cena da menina que escolhe chorar mergulhando na piscina. Mas Schurmann parece alternar as histórias de maneira totalmente aleatória, e ainda subestima o espectador em diversos momentos. Além de continuar com a estrutura de alternar os momentos da história mesmo quando qualquer ser pensante já sabe muito bem do que se trata a doença de Kat e a ligação entre as tramas, ele utiliza legendas – gigantes! – para mostrar até mesmo o que o ator Errol Shand diz quando fala português! Ao final, o longa ainda se sente na necessidade de passar uma mensagem que parece ter saído de uma advertência do Ministério da Saúde – e que enfraquece ainda mais o longa ao torná-lo uma peça de panfletagem barata.

 

Atuações que salvam

Algo se salva ao longo da projeção: pelo menos as atrizes estão dignas de nota. Enquanto Shand não faz nada além do mediano e Marcello Anthony é decorativo, a menina Mariana Goulart se esforça – ainda que não tenha tanto carisma – e Maria Flor consegue passar uma doçura interessante. Fionnula Flanagan consegue tirar leite de pedra do roteiro ingrato a sua personagem, e Júlia Lemmertz consegue transmitir força, sutileza e verdade em tudo o que faz. Mas nada que chegue perto de Sônia Braga em “Aquarius”.

E já que chegamos ao assunto, resta finalizar esta crítica com total indignação  ao fato de terem nomeado este longa para que a Academia de Hollywood o analise para uma (impossível) indicação ao Oscar. Se não foi “golpe”, foi burrice mesmo. No fim das contas, “Pequeno Segredo” tem cara de filme para TV.

  • Nota
1.5

Resumo

“Pequeno Segredo” jamais deveria ter sido escolhido para representar o Brasil no Oscar. Se não foi “golpe”, foi burrice mesmo. No fim das contas, “Pequeno Segredo” tem cara de filme para TV.

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