Laranja Behaviorista? - Cinem(ação)
Artigo

Laranja Behaviorista?

Filme de 1971, produzido, escrito e dirigido por Stanley Kubrick, Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) mostra a transformação de Alexander DeLarge (Malcom McDowell) um jovem sociopata para um rapaz de índole exemplar, sendo ele líder de uma pequena gangue (Pete, Dim e Georgie) que costuma chamá-los de Drugues. Adaptado do romance de Anthony Burgess de 1962, Laranja Mecânico narra os crimes terríveis feitos pela gangue que a todo momento elucida a “UltraViolência” em todas as suas características (roubo, estupro e assassinato). Preso pela polícia, Alex participa de um programa intitulado “Tratamento Ludovico” para que possa reduzir o seu tempo na cadeia.

Tratamento-ludovico

O tratamento Ludovico é a representação de um conceito descoberto pelo pesquisador Ivan Petrovich Pavlov chamado de “Condcionamento Respondente”, onde um estímulo que a princípio era neutro, passa a adquirir a função de causar uma resposta reflexa, mas que no contexto do filme está ligado ao personagem Alex, onde se faz a troca do prazer para a violência, pela ojeriza e aversão total a ela. Para descobrir esse conceito, Pavlov utilizou um cão faminto no instante que o apresentou uma porção de comida. Observou-se que após a apresentação da comida o cão salivou. Junto com a apresentação da comida tocou-se uma campainha. Depois de seguidas apresentações da comida acompanhada do som da campainha, Pavlov descobriu que o som passou a provocar a resposta de salivação, mesmo que não houvesse a apresentação do alimento.

Modelo-Pavlov

Como mencionado, a comida causa a salivação no cachorro (estímulo incondicionado) estímulo este que já é natural do animal, com o surgimento do som da campainha o cachorro associa diretamente a salivação (estímulo condicionado).

Modelo-LaranjaMecanica

No caso do tratamento Ludovico, os medicamento por causarem as náuseas e enjoos seriam o estímulo incondicionado (No caso do cachorro: comida = saliva), enquanto que as imagens de violência (e por azar de Alex, a Nona Sinfonia de Ludwig Van Beethoven) seriam o estímulo condicionado (No caso do cachorro: campainha).

Para que possamos entender melhor a crítica de Kubrick ao Behaviorismo (Behaviorismo – conjunto das teorias psicológicas que postulam o comportamento) precisamos primeiro observar os elementos. Como nas cenas em que o personagem Alex canta a música “Singing In The Rain”, sendo a primeira versão como um hino para a “UltraViolência”, e a segunda versão um canto inocente. Esses momentos são associados ao local em que o personagem se encontra.

LeiteUm dos elementos de maior importância e relevância no filme é a cor branca, ela em questão se encontra no dois extremos da obra (no início e no fim), demarca como sendo a válvula de escape da “UltraViolência”. Ao iniciar o filme Alex e seus Drugues estão em um pub bastante alternativo, degustando o leite Moloko (leite com drogas) para em seguida causarem alguns crimes. Ao final da obra Alex está tendo uma alucinação, ele em um sexo selvagem com uma mulher na neve, sendo aplaudido por um grupo de pessoas com vestes vitorianas. A cor branca (neve) retorna simbolizando a válvula de escape que antes fôra lacrada pelo tratamento Ludovico, agora se encontra arrombada. Portanto a cor ‘branca’ é o elemento mais agressor no universo do filme.

A sociedade que construiu uma persona tão selvagem, tendo Alex se alimentado tanto não só de Moloko quanto de um “chorume social”, novamente volta a ter uma grande parcela de culpa ao quebrar massivamente o personagem, “esmurrando” incessantemente as estruturas de repúdio e aversão montadas antes pelo tratamento Ludovico (Condicionamento Respondente). O tratamento Ludovico é a terapia fictícia do romance de Burgess, de aversão assistida mediante o uso de drogas. Expõem obrigatoriamente o paciente a assistir por grandes períodos de tempo, imagens que são relacionadas com atos de violência.

Kubrick ilustra que o que vai, realmente volta, porém, com mais intensidade, pois Alex feriu tanto o seu meio social que ao precisar dos indivíduos, as situações passadas retornam trazendo terríveis consequências, como se Alex tivesse exercido alguma força elástica em si mesmo.

AlexResumindo: Kubrick em sua obra expõem que o tratamento Ludovico está fadado ao fracasso, retrata que mesmo que uma pessoa possa ter sido condicionada a tal processo Behaviorista a sociedade será a “quebra”, o meio em que a pessoa vive influência nos hábitos e comportamentos deste indivíduo. O tratamento Ludovico possa ter sido o processo mais traumatizante para Alex, porém, a sociedade conseguirá quebrar o indivíduo, pois não há algo mais selvagem do que o próprio meio social vigente no universo do filme, as respostas e estímulos que foram trabalhados pelo tratamento vão sendo “afunilados”, fazendo o personagem Alex voltar ao que era antes, quiçá, uma pessoa pior.

Agradecimentos: Guilherme Arinelli e Patrícia Chaves por terem aturado minhas dúvidas sobre o tema. E pelo rico texto do Bruno Ribeiro no Café com Ciência.

Vamos dialogar mais?

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