49º Festival de Brasília, 2º dia: Ótimo Amarelo, Quando os Dias Eram Eternos e Rifle
Ontem, 21/09/2016, foi o primeiro dia da mostra competitiva do 49º Festival de Brasília. Exibido no Cine Brasília, um dos raros cinemas de rua do país, o festival abriu os trabalhos com a casa praticamente lotada (mais de 600 lugares). Foram exibidos dois curtas e um longa.
Após uma breve solenidade com a equipe dos três filmes e algumas manifestações políticas, com alguns minutos de atraso o curta Ótimo Amarelo (BA) deu inicio, seguido por outro curta, o Quando os Dias Eram Eternos (SP) e terminando a noite com o longa Rifle (RS).
Ótimo Amarelo é um curta simpático e traz um monólogo de um baiano que retorna à terra natal. O jovem, em uma conversa pelo whatsapp, narra para os amigos o dia dele. Há um plano de fundo (talvez um pouco mais que isso) relacionando aquele dia com o futebol, em especial a contratação do Bebeto (sim, aquele mesmo da comemoração icônica na copa de 94) pelo Vitória, nesse aspecto há uma familiaridade do personagem com o local. Por outro lado, ângulo um pouco tortos denotam um estranhamento dele para com a cidade. Um contexto político, familiar e geográfico é posto em tela com mais ou menos pinceladas. O jeito como o diretor Marcus Curvelo segura a narrativa funciona na maior parte dos 20 minutos. Destaque para um bom humor e o uso simples, mas eficaz, da tecnologia – o barulho de gravação do áudio no whatsapp. Sem grandes arroubos e defeitos cinematográficos Nota: 3 Estrelas.
Quando os Dias Eram Eternos é uma animação e mais curta, apenas 12 minutos, brilhantemente dirigida pelo Marcus Vinicius Vasconcelos, que participou do premiado e reconhecido O Menino e o Mundo. Temos aqui uns rabiscos que se assumem como tal. Mas mais do que esse visual rústico, porém muito engenhoso, temos uma narrativa belíssima onde um filho retorna à casa que morou para cuidar da mãe que está debilitada. O jeito como é desenvolvida a história com signos visuais e principalmente sonoros muito sensíveis e que exploram sentimentos e sensações dos personagens e do público tornam este curta muito especial. Detalhe para as respirações, angustiantes, delicadas e envolventes. Quando os Dias Eram Eternos não deve em nada aos curtas vencedores das grandes premiações Nota máxima: 5 Estrelas. (e, mesmo sendo precoce afirmar, cravo desde já que é o grande favorito na categoria).
Rifle, o filme principal da noite em Brasília, tem acertos e problemas, infelizmente mais destes. Com uma narrativa quase documental, o diretor Davi Pretto vai bem na condução da câmera e em tirar bons momentos do elenco (formado por não atores). Contudo a narrativa é pesada, morosa e até um pouco vazia. O som diegético funciona na maior parte do tempo, mas a captação da voz não segue o mesmo caminho e prejudica a experiência como um todo. A história se passa no interior do Rio Grande do Sul e traça um recorte daquele universo acompanhando o jovem Dione. Ele sofre uma certa pressão para vender a terra (sim, alguma semelhança com Aquarius). Rifle peca especialmente na lentidão, além da necessária, e na inconsistência narrativa. Nota: 2 Estrelas.
Escrevi um texto completo sobre o longa no blog Razão de Aspecto. Podem acessá-lo clicando aqui.
Nota triste: antes e DURANTE a exibição do filmes no Festival de Brasília houve manifestações contra e pró governo. Amigos leitores, cada um tem o direito a ter e manifestar a posição política que convir, porém no momento e local devidos. RESPEITEM o filme que está em tela. Uma moça que reclamou, dizendo que queria ver o filme, foi rechaçada pelos manifestantes. Uma mácula em uma noite tão bonita para o cinema brasilense e nacional.
Para mais informações sobre o festival acessem:
festbrasilia.com.br