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Crítica: Mortadelo e Salaminho – Em Missão Inacreditável

Mortadelo e Salaminho – Em Missão Inacreditável se destaca por seu irreverente humor espanhol

Ficha técnica:

Direção: Javier Fesser
Roteiro: Javier Fesser, Claro García, Cristóbal Ruiz
Dubladores nacionais: Marco Luque, Lucas Salles, Jacqueline Sato, Felipe Ruggeri
Nacionalidade e lançamento: Espanha, 2015 (15 de setembro de 2016 no Brasil, com exclusividade na rede Cinépolis)

Sinopse: Mortadelo e Salaminho, os agentes secretos mais divertidos e atrapalhados do mundo, são convocados para uma missão especial: Prender Jimmy – O Doidão, um atrevido vilão que acaba de invadir a sede da agência T.I.A e roubar um documento ultrassecreto. A missão se torna ainda mais complicada quando a dupla descobre que outro vilão, Trinca-Ossos, fugiu da prisão e está atrás de Salaminho para se vingar.

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É inegável que atualmente, o mercado de animações cinematográficas para a “grande família” está bastante saturado. Há incontáveis filmes estrelados por todo tipo de animal e objeto inanimado que ganha vida. A família se diverte, dá umas risadas e a relevância do desenho termina no instante em que elas saem da sala. Mesmo notando uma evidente mudança nos últimos anos (como a Pixar e suas obras para crianças e para adultos), não se pode exatamente dizer que a maioria das animações lançadas no mercado (mesmo que divertidas) possuem lá uma grande originalidade – ou ousadia – de fato. E o maior triunfo de Mortadelo e Salaminho – Em Missão Inacreditável reside justamente em seu humor ousado e politicamente incorreto.

No filme, vencedor do Goya (o Oscar espanhol) de melhor animação, acompanhamos dois agentes secretos que trabalham para a agência de inteligência T.I.A., Mortadelo (dublado no nacional por Lucas Salles), e o líder da dupla, Salaminho (dublado no nacional por Marco Luque). Entre uma desilusão de grandeza e outra, os incompetentes e atrapalhados agentes devem deter Jimmy – O Doidão, recorrente vilão da dupla que roubou um documento ultrassecreto da T.I.A. Para complicar, outro vilão, Trinca-Ossos, foge da prisão e anuncia que está atrás de Salaminho para obter vingança, e fará “aquilo” quando finalmente pegá-lo.

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“Aquilo”, como o filme trata de deixar bem claro, seria enfiar seu braço pelas nádegas de Salaminho, pegar sua língua, e puxá-la de volta, virando-o do avesso. Já podem perceber que esta não se trata da sua animação-família comum. A classificação indicativa do filme, que é 12 anos, realmente se justifica.

Logo nos minutos iniciais de projeção percebemos isso, quando acompanhamos a secretária da T.I.A., Ofélia (Jacqueline Sato no nacional). Ou melhor, sua bunda, falando no português claro. Começamos, antes mesmo de sermos apresentados a personagem de fato, com um close em seu traseiro, enquanto seguimos a secretária conforme ela anda pelos estreitos corredores da agência. Até sermos apresentados a ela, já vimos umas cinco gags visuais envolvendo sua bunda. Ofélia é retratada claramente como a mulher “gorda e feia”, e sofre piadas maldosas e piadas de duplo sentido por parte de todos.

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Há também piadas com gêmeos siameses, com o estereótipo da secretária “feia” e da secretária “gostosa” e piadas ácidas com todo tipo de assunto, tabu ou não. E tudo isso seria condenável normalmente, mas aqui se justifica pelo simples fato de que o mundo visto em Mortadelo e Salaminho – Em Missão Inacreditável, é um mundo estagnado no tempo, um retrato de valores e pensamentos vindos direto de sua fonte de inspiração: as histórias em quadrinhos de Francisco Ibáñez.

Ibánez é o mais famoso cartunista espanhol no mundo. Ele tem a mesma relevância na Espanha que Maurício de Souza possui aqui no Brasil, e Mortadelo e Salaminho são tão famosos quanto a Turma da Mônica por lá. No entanto, os personagens e quadrinhos de Ibáñez nunca realmente explodiram nas terras tupiniquins, mesmo que tenham sido impressos ao redor do mundo, ganhando inclusive um desenho animado com uma versão na Inglaterra (!).

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Francisco Ibáñez e suas criações

E o que se vê nos quadrinhos originais é exatamente isso: um humor físico e politicamente incorreto. É tudo de um exagero, de um anarquismo cômico brilhante. E a animação dirigida por Javier Fesser (que já havia dirigido um filme da dupla, Mortadelo E Salaminho – Agentes Quase Secretos com atores reais em 2003 ) reproduz perfeitamente todo o estilo e essência da obra. Nenhum grupo está a salvo das piadas de Ibáñez. Ele e o filme são muito conscientes disso.

A parte visual é excelente. Além da já mencionada fidelidade ao material original, a qualidade da animação em si, com texturas e atenção aos detalhes, não fica muito atrás das animações de estúdios maiores.

Outro acerto é a dublagem nacional, com os ex-CQCs Marco Luque e Lucas Salles se destacando. Luque, com sua voz grandiloquente representa perfeitamente o líder Salaminho e sua auto-importância, enquanto Lucas Salles faz bonito em seu primeiro trabalho de dublagem como Mortadelo.

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Como já mencionado, o destaque de Mortadelo e Salaminho – Em Missão Inacreditável fica para seu humor pastelão, politicamente incorreto e exagerado de todas as formas, no melhor estilo espanhol. O filme é ousado, irreverente e não pede desculpas por isso. Em relação aos exageros (como no caso das secretárias), fica claro que seus personagens estão imóveis no tempo, no seu próprio universo. Como a Turma do Chaves (o qual o humor do filme lembra muito), os personagens de Mortadelo e Salaminho convivem num universo onde as coisas eram “mais simples (com ênfase nas aspas)” e o que importava, realmente, era o número de gags e piadas por minuto. É necessário um pouco de supervisão dos pais, é claro. A maioria das crianças ainda não possui as “ferramentas morais” para olhar de forma sarcástica a objetificação das personagens femininas e a “zoação” com Ofélia, afinal de contas.

A real infelicidade é que o filme pode não alcançar tantas pessoas nos cinemas. Os personagens não tem um design “fofinho”, como a maioria das animações em cartaz, e ele está sendo exibido apenas com exclusividade nas redes de cinema Cinépolis. Pesquisem os cinemas disponíveis.

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Numa época em que esse tipo de homenagem tão fiel e particular a alguma obra é feita geralmente após o falecimento de seus criadores, é muito bom que Ibáñez, com seus 80 anos, ainda esteja vivo para assistir e se divertir com a mais recente representação cinematográfica de seus “filhos”. E ele deve estar orgulhoso.

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