Crítica: Águas Rasas (The Shallows, 2016)
Águas Rasas pode entreter uns ou ofender a inteligência de outros.
Ficha técnica:
Direção: Jaume Collet-Serra
Roteiro: Anthony Jaswinski
Elenco: Blake Lively
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (25 de agosto de 2016 no Brasil).
Sinopse: como forma de revisitar o passado da Mãe, Nancy (Blake Lively) decide pegar ondas em uma praia erma. Enquanto a jovem desfrutava do local um tubarão a encurrala. Ela precisará lutar pela própria sobrevivência.
No Cinem(ação) já tivemos a crítica do Cauê Petito e o podcast #195 sobre Águas Rasas. Contudo, como o meu texto destoará das análises já feitas, achei válido publicar a verdade absoluta minha opinião. Enquanto meus colegas deram em torno de 3 estrelas, eu não consigo enxergar mais do que 1 para aquele que considero um dos piores filmes do ano. Então correndo o risco de saturá-los, aqui vai mais um pouco de Águas Rasas…
No começo há um jogo de palavras em inglês e em espanhol que quem tem um conhecimento básico dos dois idiomas pode se divertir. Essa cena, que nada mais é do que um diálogo entre a protagonista (americana) e um motorista (mexicano), serve para introduzir a personagem e nos situar naquele universo. Tal momento é uma ilha de criatividade em meio a inúmeras besteiras no resto do longa.
A partir daí temos closes ginecológicos na personagem. Algo completamente datado e mesmo eu considerando o visual belo fiquei ofendido com tantas tomadas explorando o corpo da atriz Blake Lively. Há também sequências de surfe, após e durante aquela questionável opção. Sendo apenas um clip aventuresco e ficaria melhor em um canal de esportes.
Ainda sobre a Lively, farei o comentário semelhante ao que o Rafael Arinelli fez no cast #192 de Esquadrão Suicida: nenhuma cena gerou dificuldade além que qualquer outra atriz de um nível básico não desempenharia. Tanto na ação quanto no drama não houve momento que eu pensasse: “deem um Oscar para essa mulher”. Portanto, de fato não é um problema, mas digno de elogio tampouco…
Vale o destaque negativo (mais um) de um efeito especial amador na montagem do rosto da Blake Lively em um corpo de uma dublê. Tal elemento, o efeito especial, aliás, percorreu Águas Rasas do início ao fim. Os animais, notadamente golfinhos, águas vivas e a baleia, estão artificiais – seja na representação em si, seja no contexto proposto. Já o astro da festa, o tubarão, mesmo na maior parte convencendo (já que ele não aparece) tem um momento capital no fim que soa tristemente hilário.
Triste, principalmente, são as soluções do roteiro. Suspensão de descrença é aquilo que ativamos ao ver um filme que foge da realidade. Ninguém vai ver um filme de herói e dizer que ele não presta, pois o protagonista voa. Ou então ninguém afirma que Rei Leão é fraco, pois o Timão fala. Essas coisas você aceita e curte o resto.
Contudo, aqui temos uma sucessão de fatos que se pretendem verossímeis (como a desculpa que da nossa heroína sendo médica, por exemplo), mas são furos, preguiça ou incompetência. É notório o tratamento amigável que o tubarão tem com a nossa doutora em comparação com os figurantes. A premissa também não convence. Há um melodrama desnecessário disfarçado de complexidade. O arco da Nancy é tão profundo quanto o título nacional sugere. O fechamento dele nos brinda com uma pieguice cretina.
Algumas paisagens exuberantes – incluindo os dotes da atriz, alguma tensão, algumas sacadas de câmera, que realmente demonstram algum gênio criativo, ficam afogadas em meio a um mar de algo que prefiro não dizer para não ofender os leitores (tal como fui ofendido com esse filme).
Resumo
Águas Rasas tem algumas paisagens exuberantes – incluindo os dotes da atriz, alguma tensão, algumas sacadas de câmera, que realmente demonstram algum gênio criativo, ficam afogadas em meio a um mar de algo que prefiro não dizer para não ofender os leitores (tal como fui ofendido com esse filme).