Crítica: Ben-Hur (2016)
O novo Ben-Hur se destaca no Brasil por ter Rodrigo Santoro no papel de Jesus.
Ficha técnica:
Direção: Timur Bekmambetov
Roteiro: Keith R. Clarke e John Ridley (baseado no romance de Lew Wallace)
Elenco: Jack Huston, Morgan Freeman, Toby Kebbell, Rodrigo Santoro, Nazanin Boniadi, Ayelet Zurer
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (18 de agosto de 2016 no Brasil)
Sinopse: Judah Ben-Hur (Jack Huston), rico e nobre judeu contemporâneo de Jesus Cristo (Rodrigo Santoro), é acusado injustamente de traição e condenado à escravidão por Messala (Toby Kebbell), seu irmão de criação. Após sobreviver, ele vai em busca de vingança contra as injustiças, ao mesmo tempo em que presencia a ascensão de um novo líder e a tirania dos Romanos contra seu povo.
Os filmes são produtos de seu tempo. O clássico “Ben-Hur” de 1959, primeiro (e um dos poucos) a vencer 11 Oscars, era grandioso como o cinema de sua época, vagaroso como as suas produções contemporâneas, e estrelado pelo astro Charlton Heston, símbolo quase intocável da beleza masculina e virilidade nos anos de seu auge.
Hoje, “Ben-Hur” (2016), do diretor cazaque Timur Bekmambetov, é ágil e quente, tem emoções pululando na tela, mastiga informações, e traz personagens mais humanos – até mesmo os divinos.
Com o propósito de não ser um “remake” do filme de 1959, mas uma nova adaptação do romance de 1880, o longa tem uma cena inicial que pressupõe um diálogo com seus filmes antecessores: ao prever a corrida de carruagens, é como se soubesse da expectativa do público e a prometesse logo no começo.
Logo depois, ainda que tenha uma narração em off que flerte com o épico, este “Ben-Hur” se mostra mais terreno, e é isso que faz com que mereça o selo de “produto do seu tempo”. Jack Huston consegue dar vida a um Judah Ben-Hur mais jovem e exaltado – além de muito mais semelhante fisicamente ao que os judeus teriam sido na época. Também temos uma trama muito mais interessada em ressaltar os conflitos entre os romanos e os judeus como um dos temas abordados, além de mostrar um Jesus (Santoro) muito humano e próximo do povo, diferente do que foi feito no longa mais famoso.
Santoro, aliás, é possivelmente o melhor ator em cena, já que dedica ao personagem seu já conhecido empenho na composição corporal e vocal. Huston também está intenso, enquanto Morgan Freeman faz a si mesmo no papel de Ilderim e Nazanin Boniadi consegue ser apenas uma Esther equilibrada. Particularmente, gosto dos momentos de dualidade e das variações de sentimentos demonstradas por Toby Kebbell como o antagonista Messala, mesmo que este não seja seu melhor papel.
Se o design de produção, a fotografia e os efeitos visuais são apenas bons, ao menos Bekmambetov consegue extrair momentos felizes da narrativa, como a proximidade da câmera diante dos corpos, das janelas e dos barcos na cena das galés, e até mesmo da corrida de bigas, que consegue ser intensa e divertida, ainda que com imperfeições. Desta forma, o diretor consegue deixar sua marca ao longo da trama. É uma pena que o figurino deixe a desejar devido a roupas que parecem cuidadosas demais para a época, bem como a trilha sonora, que poderia ser razoável se não fosse o que é mostrado nos minutos finais.
Por falar em minutos finais, este é o momento em que cai a qualidade do filme, graças ao excesso de melodrama, cenas desnecessárias e uma canção que nada combina com a trama.
Assim, podemos entender que este “Ben-Hur” tem um propósito diferente do clássico – assim como também é diferente do filme mudo de 1925, da animação de 2003 e da minissérie britânica de 2010. Trata-se de um filme que repensa a presença de Jesus, fala do perdão de forma a se voltar para a harmonia dos povos, e processa as cenas de ação com a energia do diretor asiático e as possibilidades tecnológicas atuais.
“Ben-Hur” não é uma obra-prima e jamais se aproxima da importância do épico que paira sobre a sua produção, mas tampouco é um desastre. E, mesmo se fosse, não faria mal nenhum ao clássico, já que novas adaptações jamais apagam da história qualquer filme anterior. Ao divertir e entreter – mesmo de forma mediana – sem a preocupação de ser grandioso e entrar para a história, o filme não deixa de simbolizar um produto de seu tempo. Afinal, em tempos de hiperconexão, entretenimento instantâneo e transformações na velocidade da luz, não há muito espaço para o épico sagrado e eterno.
Resumo
“Ben-Hur” não é uma obra-prima e jamais se aproxima da importância do épico que paira sobre a sua produção, mas tampouco é um desastre. E, mesmo se fosse, não faria mal nenhum ao clássico, já que novas adaptações jamais apagam da história qualquer filme anterior. Ao divertir e entreter – mesmo de forma mediana – sem a preocupação de ser grandioso e entrar para a história, o filme não deixa de simbolizar um produto de seu tempo.