Crítica: A Lenda de Tarzan (2016)
A Lenda de Tarzan alterna bons, talvez ótimos, momentos com outros que falham consideravelmente.
Ficha técnica:
Direção: David Yates
Roteiro: Adam Cozad, Craig Brewer
Elenco: Alexander Skarsgård, Margot Robbie, Samuel L. Jackson, Christoph Waltz
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (21 de julho de 2016 no Brasil)
Sinopse: após passar algumas temporadas em Londres, vivendo como um lord, Tarzan regressa à selva para resolver uma questão diplomática, mas aventuras que ele não espera e interesses escusos o aguardam.
Após 987679 versões de um dos personagens mais icônicos da história, a de 2016 poderia soar desnecessária. Apesar de ter alguns momentos interessantes, a presente expressão é esquecível. Um grande mérito, contudo, é estabelecer aqui o pontapé da história anos após o rei da selva viver no habitat. O começo da história que conhecemos é mostrado em flashbacks diluídos em todo o filme.
A trama de A Lenda de Tarzan em si é simples, mesmo que às vezes fique confusa, de um lado uns querendo enriquecer às custas de exploração e de outro o nosso herói tentando salvar a si mesmo, a amada Jane e a região do Congo. A situação local não é problematizada devidamente, a aventura toma o centro das atenções. A priori isso não é um problema, mas o cenário fica genérico e os personagens pueris. Não há senso de urgência, estabelecemos pouca empatia e a mensagem de confluência com a natureza fica forçada.
O filme inteiro patina em vários aspectos. As atuações são um exemplo. Alexander Skarsgård, que faz o Tarzan, demostra uma fisicalidade impressionante – até demais, depois de 8 anos vivendo como Lord, ele retorna para a floresta como se nunca tivesse saído de lá… A relação dele com os animais proporciona cenas belas. Já o carisma do ator, para passar o drama pessoal, não convence e distancia o público do protagonista.
Christoph Waltz faz o que estamos acostumados a ver Christoph Waltz fazendo. Longe de ter uma atuação ruim, mas soa redundante. O personagem dele sim é fraco. Samuel L. Jackson está divertido e solto, porém também no piloto automático. A presença do George Washington Williams é o alívio cômico de um longa meio sombrio, só que o poderia ser exatamente um alívio acaba se tornando irritante e um tanto inconveniente.
Já a minha namorada Margot Robbie encanta como Jane. Sim, a beleza dela ajuda – e muito. A Jane aqui quase rouba a cena e traz momentos mais marcantes que o próprio Tarzan. Ela se recusa a posição de donzela indefesa e mesmo em uma situação complicada mantém a força. Como quase tudo que escrevi neste texto tem um porém, não seria diferente aqui: mais para o final do segundo arco os gritos pelo Tarzan cansaram um pouco. O saldo, no entanto, é positivo.
Falando de algumas cenas boas, sem dar spoiler é claro, ressalto a primeira, que junto com o letreiro inicial, contextualizam o público e marca bem a pegada do filme. Toda a relação mais “familiar” entre Tarzan e os bichos ou povos locais possibilitam bons momentos – como a na fogueira. E a sacada de como trouxeram o clássico grito de forma revisitada e arranca boas gargalhadas. O bordão “mim tarzan, você Jane” também foi posto de forma diferente e bem referenciada.
Já o CGI teve altos e baixos. A cena do clímax, com vários animais, ficou gritante como destoou o uso negativo da tecnologia. A floresta, apesar de também ser meio falsa às vezes, tem alguns cenários belos. Agora os animais causam espanto positivamente. Tal como tinha acontecido com Mogli, o cuidado com o design dos bichos salta aos olhos e é a melhor coisa do filme.
A fotografia ajuda na divisão dos ambiente e foi bem utilizada. Tanto na parte fria do começo do filme, quanto para denotar diversos sentimentos ao longo da obra. O contraste entre sombrio e caloroso são bem definidos e tornam o espetáculo visual um ponto favorável aqui. A movimentação de câmera se deslocando mostra um bom trabalho direção neste sentido.
E que fique claro que foi nesse sentido, o de ambientação. A direção no todo não soube manter o ritmo – prejudicado por uma montagem ruim – e o interesse. A condução dos atores, como disse, também foi irregular. Faltou, portanto, uma mão mais pesada para além de um visual. Algumas soluções fáceis e que exigem um bom grau de suspensão de descrença também atrapalharam o todo.
A Lenda de Tarzan poderá ter dificuldades em encontrar o próprio público. Crianças e novos fãs poderão ficar entediados ou deslocados. O mais velhos sentiram um gosto de mais do mesmo em alguns momentos e de estranhamento em outros. Como obra única, o filme apresenta alguma personalidade, mas um tanto vazia e esquecível.