Black Mirror | The Entire History Of You (Toda A Tua História)
Black Mirror é uma minissérie do Reino Unido, escrita e roteirizada por Charlie Brooker, que procura mostrar o potencial maligno de tecnologias existentes (ou próximas da existência) em nossa sociedade.
Com um olhar extremamente crítico e pessimista para o futuro, traz perspectivas assustadoras, já que usa conceitos sociais e culturais já praticados e os eleva a máxima potencia. Sua estreia mundial foi em 4 de dezembro de 2011 e já possui duas temporadas, um episódio sazonal (especial de Natal) e terceira temporada confirmada para estreia.
E esta é a terceira postagem sobre os episódios da série, falando sobre o terceiro episódio da primeira temporada, The Entire History of You.
Para ler sobre o primeiro, The National Anthem, clique aqui. E sobre o segundo, Fifteen Million Credits, aqui.
Também tivemos o Indic(ação), com a minha participação, falando sobre o sucesso britânico e outras produções de sucesso disponíveis na Netflix.
A partir deste ponto, este artigo contém revelações sobre enredo e acontecimentos da drama, continue lendo por sua conta e risco.
The Entire History of You (Toda A Sua História)
Um dos poucos episódios que não foi escrito pelo criador da série e sim por Jesse Armstrong, que também escreveu um dos episódios de Veep, da HBO. Inclusive, o roteiro deste episódio foi adquirido por Robert Downey Jr. para ser adaptado para as telonas.
Elenco: Toby Kebbell, Jodie Whittaker, Tom Cullen, Jimi Mistry.
Um dos meus episódios favoritos, o melhor da 1ª temporada. Ao invés de se voltar para o social e relações do indivíduos com o mundo ao seu redor, ele se concentra na relação entre as pessoas, a nível pessoal, e como novas tecnologias interferem na nossa interação com o outro.
Em um futuro próximo, uma nova tecnologia toma conta de tudo. Chama-se “Grain”, um chip implantado atrás da orelha e que grava suas memórias, permitindo replay, zoom, leitura labial e exibição em TV ou projetor. Nesse futuro próximo, todos usam o grain e ele é referencia até em controles de aeroporto, registro de denuncias policiais e entrevistas de emprego.
A história foca em Liam Foxwell (Toby Kebbell), um jovem advogado, e sua esposa Ffion (Jodie Whittaker). Ele é extremamente ciumento e fica incomodado ao ver sua esposa conversando com outro homem em um jantar de amigos.
Cada vez mais convencido de que há algo errado, ele repassa a noite do encontro com seu grain até encontrar brechas que o suportem na teoria de que sua esposa está sendo infiel (ou que pelo menos estava flertando com o rapaz).
Ele vê as próprias memórias, obriga Ffion a lhe mostrar as dela e até vai a casa de Jonas (Tom Cullen), o suspeito amante, e o ameaça para ver as dele.
Eu, que já viajo em possibilidades nas minhas aulas sobre relacionamento e sites redes sociais, o quanto eles atravessam nossas relações de maneira positiva ou negativa, fiquei aterrorizada com esse episódio e o quanto ele penetra na sua pele. Situações que ficariam enterradas para sempre não estão mais tão seguras nos limites do passado. Até instintos que antes não existiam passam a estar presentes, afinal, antes não se existia o meio para ver, saber ou confirmar uma desconfiança, ficava a cargo das partes confiar um no outro para seguir o relacionamento.
Porém, as possibilidades dessa nova tecnologia dão o meio, entregam o passado em formato de vídeo para ser assistido e reprisado quantas vezes forem necessárias. O quanto de apenas confiança você precisaria para acreditar que uma ida ao bar do seu namorado foi apenas um happy hour? E não um encontro malicioso? Ele poderia apenas te mostrar e pronto, fim do problema. Ou um filho rebelde, que foi proibido de sair de casa por um tempo, os pais só precisam conferir sua memória para saber se aliviam ou não o castigo.
O marido desconfiado confirmou seus medos, sua mulher havia dormido com outro, inclusive sua pequena filha provavelmente não era sua. Porém, estar certo não trouxe nenhum tipo de satisfação ou felicidade. Pelo contrario, ele se encontra miserável sozinho em casa. Na mesma casa que vivia feliz com sua outrora esposa e filha. Revivendo, revendo, reprisando, cada momento que havia passado com elas através do seus grain. Elas estão lá, atormentando-o.
As memórias lhe trazem sofrimento, mas enquanto elas estiverem a sua disposição ele as visitará. E se essa opção não existisse, seria mais fácil? Sem a possibilidade de rever as memórias, seria mais suportável?
E então, finalmente, Liam retira sua memória artificial com auxilio de uma lâmina de barbear.
Mas você? O que você faria?