Crítica: Rock em Cabul
Rock em Cabul tenta passar uma boa mensagem, mas acaba ficando muito água com açúcar.
Ficha técnica:
Direção: Barry Levinson
Roteiro: Mitch Glazer
Elenco: Bill Murray, Bruce Willis, Kate Hudson, Zooey Deschanel, Leem Lubany
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2015 (02 de junho de 2016 no Brasil).
Sinopse: um malandro empresário musical recebe a proposta de trabalhar no Afeganistão. Chegando lá as coisas ficam mais complicadas que ele esperava.
Rock em Cabul é essencial? Não. Ano que vem estará nas premiações? Provavelmente também não. Quando lembrarmos de Bill Murray será o longa que virá à mente de imediato? Tampouco. Mas nem todo filme precisa revolucionar o cinema e traçar um novo paradigma. Rock em Cabul cumpre o que promete: diversão e aborda (ou tenta) o choque cultural.
O roteiro apresenta simplicidade e situações improváveis A linearidade e algumas cenas que ficaram em excesso no corte final são os pontos fracos e trazem problemas que tornam o filme pior do que ele poderia ser. Não fica evidente, logo de cara, qual a história a ser contada. Quando entendemos fica aquela sensação de que foi baseada em fatos reais – e de fato foi levemente inspirada. A opção de romancear o ocorrido e tornar mais palatável é passível de críticas, porém tal artifício me incomodou menos aqui do que em outros que usam a mesma fórmula.
O grande motivo, creio, foi a presença de Bill Muray (Caça-Fantasmas, Feitiço do Tempo, Encontros e Desencontros). O humor dele mescla um sutil (às vezes nem tanto) trabalho corporal com tiradas rápidas e uma certa expressão dúbia de desdém e preocupação. Quem contracena com ele recebe a bola redondinha e tem o momento nitidamente melhorado.
Além do mérito de Murray, a parte técnica tem destaque pela trilha. A diversidade de sons e ritmos vai do lírico, perpassa muito rock e chega até o pop mais pop. Todas as canções bem marcadas na trama e indo além de um mero adorno. A música, como o título sugere, tem papel focal na narrativa. A trilha aliás é responsabilidade do brasileiro Marcelo Zarvos.
A história central é, ou era pra ser, sobre Salima uma afegã que luta contra tabus culturais e tenta participar de um show de calouros, no estilo American Idol. Todavia, o roteiro aponta para tantos lados que o foco se perde. Incontáveis, e desnecessárias, subtramas permeiam toda a obra. O personagem do Bruce Willis, por exemplo, fica meio solto. A ponta dele é tão irrelevante, e ao mesmo tempo presente, que a atuação fica quase inavaliável, basicamente ele é só figurativo.
Outro problema é o gênero de Rock em Cabul. Ele não se assume nem como comédia e nem como drama. Claro que Bill Murray e as situações absurdas levam o tom mais para o lado cômico. Porém a todo momento parece que a mão do diretor Barry Levinson (do ótimo Rain Man) quer dar um ar melodramático. Em suma: a comédia funcionou e o drama ficou superficial e clichê.
Rock em Cabul se encarado despretensiosamente pode gerar algum entretenimento, todavia fica um gosto amargo de algo que poderia ser melhor. Se é muito fã de Murray vale para reencontrar o ator, caso contrário não se sinta mal por deixar passar este filme.