Crítica: Uma Noite em Sampa (2016)
Uma Noite em Sampa mostra como um ônibus parado pode gerar uma viagem e tanto.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Ugo Giorgetti
Elenco: Otávio Augusto, Cris Couto, Andréa Tedesco, Flavia Garrafa, Roney Facchini, Suzana Alves, Agnes Zuliani
Nacionalidade e lançamento: Brasil, 26 de maio de 2016.
Sinopse: uma caravana se desloca do interior do estado de São Paulo para uma noite de cultura na capital, mas o motorista some e causa uma peculiar reação.
A recepção que Uma Noite em Sampa terá vai depender se você estará aberto para comprar ou não essa viagem de Ugo Giorgetti. O diretor que tem trabalhos como Jogo Duro, Festa, Sábado, Boleiros entre outros, traz uma tragicomédia bastante inusitada.
Um grupo que mora nos arredores da cidade de São Paulo compra um pacote turístico com direito a ônibus para a capital, ver uma peça do Otávio Augusto, um jantar e, claro, a viagem de volta. Ao sair do teatro, todavia, o motorista do ônibus não é localizado. O cidadão teira ido beber? Roubado os pertences do grupo? Ou até mesmo morrido? Esses são alguns dos questionamentos levantados pelos excursionistas largados na noite sombria e misteriosa da capital paulista.
Os tipos presentes são caricaturais. Até mesmo a fala soa forçada. Alguns diálogos beiram o absurdo (algumas vezes apenas ruins mesmo). Dentre o otimista, a cega, a contadora de causos, o casal infiel e tantos outros, há manequins. Isso mesmo que você leu… manequins. Parte dos personagens são formas estáticas, contudo as demais personas dialogam (em monólogos, evidentemente) com eles.
A proposta em Uma Noite em Sampa é uma total alegoria. Naquele cenário único, um microcosmos dentro da macrocidade, vemos críticas a diversos aspectos desde a culpabilização do outro, passando pela necessidade da classe média de manter as aparências e indo até a percepção que se tem da própria cidade. Além daquela que considero o ponto focal: a inércia. Tudo intencionalmente exagerado.
O resultado é satisfatório? Mais ou menos. Somos conduzidos por pontadas de brilhantismos ao mesmo tempo que carecemos de sutileza. Algumas metáforas ficam evidentes demais e enfraquecem a nota final. A última cena é o exemplo mor disso.
As atuações hiperteatrais com diálogos marcados, quase que ritmados – mas sem ritmo, dão o tom burlesco. Mesmo considerando o fato de ser uma comédia e com um estilo todo próprio, aquele recurso por vezes incomoda. O ridículo que Giorgetti quer expor às vezes acaba sendo uma armadilha e o bom andamento derrapa em alguns diálogos e maneirismos desnecessários.
Se os personagens são inertes, o mesmo não pode ser dito da reação causada. As desventuras são envolventes e ficamos atentos a quaisquer movimentos. Isso foi possível graças à atmosfera criada. Além da noite desconhecida, tem-se transeuntes, instabilidade dos integrantes do peculiar grupo e um diz que me diz que confunde. Sem dúvidas, também, uma alfinetada nas opiniões que são formadas a partir de outras manifestações sem embasamento.
Uma Noite em Sampa tem um humor de costumes e caricato. Mesmo com uma movimentação da câmera e cortes que deixam claro a mão do diretor, ambos ajudando na ambientação, o filme funcionaria melhor como uma peça de teatro. Até o tempo, 70 minutos, um pouco mais curto que o usual o afasta de outros longas. Para uma obra cinematográfica fica apenas em um patamar mediano. Critica, diverte e o público não passa incólume, mas Uma Noite em Sampa grita muito, causa um estranhamento além da conta e falta vigor. Todavia, para se ter uma experiência pouco usual pode valer a ida ao cinema.