Crítica: O Conto dos Contos
O Conto dos Contos conta, conta, mas só encanta aos olhos.
Ficha técnica:
Direção: Matteo Garrone
Roteiro: Massimo Gaudioso, Matteo Garrone, Ugo Chiti, Edoardo Albinati
Elenco: Salma Hayek, Vincent Cassel, Toby Jones, John C. Reilly, Bebe Cave
Nacionalidade e lançamento: Itália, França e Reino Unido, 2015 (12 de maio de 2016 no Brasil)
Sinopse: histórias de três realezas de reinos vizinhos. Uma rainha que está disposta a tudo para engravidar e recorre a uma profecia de um feiticeiro. Um rei lascivo que se encanta por uma idosa achando que era uma jovem. E um outro rei que tem uma fixação por insetos e tem que arranjar um marido para a filha.
Um monstro marinho que engravida a rainha. Uma pulga adestrada que cresce enormemente. E uma idosa que gruda a pele para parecer mais jovem. Esses elementos bizarros são os menores dos problemas de O Conto dos Contos.
Longas de fantasia requerem que você ligue a suspensão de descrença, pois irá se deparar com algo surreal. O Senhor dos Anéis (trilogia), O Mágico de Oz (1939) e O Labirinto do Fauno (2006) são três dos exemplos máximos do gênero e que usam o elemento fantasioso em prol da narrativa.
O Conto dos Contos é composto pelas três histórias descritas na sinopse deste texto. Elas têm ingredientes que despertam o interesse e são de fato, no mínimo, curiosas. Todavia nenhuma tem força para sustentar-se de modo narrativamente sólido. Há diversas cenas que fazemos um olhar de interrogação ante ao que está se passando em tela.
A fantasia aqui descamba para um horror, quase gore. Isso por si só, claro, não seria problema, mas ele quase assusta, quase seduz e quase choca. Todavia não chega a se estabelecer em nenhuma dessas vertentes.
Outro problema é que todas as histórias tem motes que você pensa: “isso pode ser bom”. Porém logo tem a expectativa quebrada. Caso você encare isso como uma “brincadeira” do diretor e veja o filme como uma grande sátira e recheado de alegorias, pode ser que a tua experiência flua melhor. Para mim simplesmente não funcionou.
Os três membros da realeza que protagonizam as respectivas histórias têm pecados vários. De fato não podemos culpar o roteiro por apresentar tipos comuns. Os personagens são inusitados, mas o resultado e o desenvolvimento deixam bastante a desejar.
Indubitavelmente a fotografia e o design de produção (cabelo, maquiagem, cenários) estão esplendorosos e impressionam. Há uma feiura bela em alguns personagens que nos instiga. Já os cenários estão belos belos mesmo. As cores se combinam gerando uma pintura, não é difícil imaginar quadros com as cenas deste filme. Os efeitos, um nível abaixo, também funcionam muito bem. Essa parte técnica encanta o olho, mas faz a cobertura de um recheio vazio.
Os atores, de um modo geral, oscilam entre o convincente e o forçado – caindo mais para esta segunda categoria. As primeiras cenas do primeiro castelo são um exemplo. Os diálogos hora parecem simplesmente decorados e em outras há um certo esforço de interpretação. Não querendo isentar os atores, mas o texto no filme como um todo não ajuda… Há frases que beiram o ridículo.
O ritmo não é exatamente um problema. Mesmo eu não apreciando o que se passava na tela não fiquei entediado. Contudo, as mais de duas horas pesam negativamente no cômputo final. A sensação é de que o diretor quis proporcionar uma grandiloquência que não se dá somente no aspecto visual. Só que quanto mais ele gritava, menos eu voltava para o filme.
Em O Conto dos Contos cada exótica história produz uma outra história tão sem pé nem cabeça quanto. A velha máxima de começo, meio e fim parece que foi aprendida parcialmente pelos roteiristas e diretor. O início é valoroso, mas o desenvolvimento é capenga – e muito – e os desfechos dão a sensação que simplesmente não existem. Do mesmo modo que somos visualmente atraídos para aquele universo, somos igualmente expulsos sem maiores explicações.