"Valsa com Bashir" - (2008) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Artigo

“Valsa com Bashir” – (2008)

Colorido amarelado. Preto e branco. Nos olhos há raiva, foco, determinação. Corre-se junto com quem junto corre: em busca daquilo focado, do indeterminado que determina a voracidade da corrida. O grunhido rouco das vozes penetra junto à batida da caixa que soa junto à trilha sonora, naquele lugar, naquele ponto onde tudo vai se dar por fim realizado. Não há obstáculo, não tem nada que possa murar e cimentar o que tem por força íntima o contrário, o invasivo, o destemido.

É da janela que tudo configura-se como num espasmo de silêncio e de confissão de um homem cansado de uma noite não dormida. O que se pensa acerca das imagens e sons daquela frenética procura pela realização de um objetivo, participa de um momento passado, de uma lembrança ou uma memória que não se apagou com o tempo. O passado presenteia o presente com ele mesmo. Não há presente vivido e pelo contrário, uma vivência passada numa dada experiência de vida também passada, mas como se fosse atual. A melancolia do que se viveu um dia traz consigo o embaraço de ter pertencido ou ter feito parte daquilo que agora provoca tais sensações; não há fuga, já aconteceu, não se apaga o feito; a consciência e o medo bloqueiam e afastam o horror daquilo que não se quer ter como lembrança, porém, o que pode não ter sido ou não ter acontecido, também, pode estar diante de um dilema inerente à uma memória fabricada por outros acontecimentos da vida, até, criações a partir de uma ilusão num delírio. A memória nos leva, na verdade, para onde precisamos ir.
Nada-se diante de um barco embebedado de medo. O tamanho do nadador é o tamanho infinito do sonho que o põe em cena. É o seu medo que torna o sono vivo diante daquela imagem que não existe. A salvação de si se dá pelo confronto com aquilo que poderia via à tona; as chamas vão de encontro consigo e refletem nos seus olhos o laranja avermelhado do fogo a comer tudo que o alimenta: “The terrible silence of death”
A triste imagem do abandono, da destruição, da não esperança, da solidão, mas o que se lembra, é de um rosto amigo, de alguém que ali estava e compactuou consigo toda à desilusão de um mundo que pode ser destruído pelos homens; basta querer. É da lembrança desse rosto que o questionamento simboliza a procura por respostas diante de um sonho de morte via latidos e guerra: 26 cachorros. É específico quando se tem em mente um passado desvinculado da “felicidade”.
bashir
“I felt calm and at peace. Just me and the sea.”
O abandono de si mesmo perante à vida, à morte, à tudo que um dia fez sentido esfalece em pensamentos durante um nado calmo nas águas lentas de um relento aconchegante. Com medo mas com uma sensação de segurança, antagonismos se intercalam entre sensações difusas, inexistentes, reais. A poética do piano, das luzes do sol penetrando a floresta, asseguram o caminho para a morte como num devaneio. A calmaria do fim reflete o retrato mórbido do passado sangrento que agora se via estagnado diante ao nada. A visão do passado torna-se presente num instante de segundo, isto é, como numa pausa, através do aparato imagético e não real que ali se instaurava, uma realidade que alguns dias atrás e durante meses volta a vida, mas ali, um pouco antes desse instante, era remoto. São os sussurros, os barulhos, as bombas, as explosões, os gritos da correria que trazem à superfície tudo aquilo de real e que ocorre no mundo fora do espelho de um corredor de um aeroporto.
Nota: 5

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