Crítica: Amor por Direito (Freeheld)
Amor por Direito tem um tema importante, ótimos atores e emociona, então o que deu errado?
Ficha Técnica:
Direção: Peter Sollett
Roteiro: Ron Nyswaner
Elenco: Julianne Moore, Ellen Page, Michael Shannon, Steve Carell
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2015 (21 de abril de 2016 no Brasil)
Sinopse: a história real do casal Laurel Hester e Stacie Andree. Após uma questão envolvendo Laurel, elas decidem lutar por direitos iguais em uma cidade conservadora.
Muita gente escolhe filmes pelo tema. Problema algum nisso. Outros medem a qualidade de um longa por quantas vezes riu ou chorou na sala de cinema. Também válido. Contudo, acho importante separar esses elementos. Há muitos outros aspectos que podem, e devem, ser levados em consideração.
Amor por Direito nos brinda com um casal, formado por duas ótimas atrizes (Julianne Moore e Ellen Page), carismático e que faz com que degustemos cada conversa entre elas.
A primeira metade do filme mostra desde o flerte, passando pelos primeiros encontros e conversas casuais entre a dupla. Uma, a Laurel (Moore), é policial, ótima no que faz. A outra, Stacie (Page), é mecânica, ofício que orgulhosamente aprendeu com o pai. Idades diferentes (na vida real a diferença das atrizes é de 26 anos), profissões diferentes e personalidades fortes.
Tudo isso torna a relação delas bem agradável para o público. O começo foi um pouco corrido é verdade, mas relevamos diante do desenvolvimento tão orgânico. Até então a questão do preconceito é abordada de forma tangencial e o foco fica nas duas.
Ocorre um evento com Laurel que implica na luta delas para serem reconhecidas como um casal com direito iguais às dos casais héteros. O filme desmorona a partir daí (não pelo tema, mas pela forma como foi conduzido). As protagonistas perdem tempo em tela e dão lugar ao parceiro de trabalho de Laurel, o policial Dane Wells (Michael Shannon).
Essa opção foi um tanto estranha. Sei que por ser baseado em fatos reais, pode ser que a história original tenha se desenrolado com um papel mais atuante dele, enquanto elas, por motivos justificáveis, tenham ficado apagadas. Porém, em tela, isso não funcionou…
Além disso, entra um personagem que representa um ativista da causa gay, o Steven Goldstein (Steve Carell), que traz consigo uma gama de esteriótipos e clichês, em uma atuação bem afetada de Carell. O alívio cômico que o personagem traz à trama até funciona, o público ri. Mas como composição de personagem foi um tanto infeliz.
A luta pelos direitos iguais é mostrada de forma maniqueísta e pouco problematizada. Os debates são rasos e de condução óbvia. Neste ponto do enredo, aliás, conseguimos antever todos os movimentos e temos zero de surpresa.
O policial Toohey (Anthony DeSando) está ali só para ser “mau”. As opiniões preconceituosas dele são forçadas. Tenho consciência de que existem (muitas) pessoas assim, mas em tela ficou um personagem raso e com frases feitas. O mesmo se aplica, em menor medida, aos membros da assembleia da cidade.
O texto nessa segunda parte cai consideravelmente, vemos discursos lineares e sem força narrativa. Outro elemento que enfraqueceu no plot final foi o ritmo. No começo, a alternância do desenvolvimento da relação com os anseios individuais das personagens funcionou. No final, a mudança do confronto político para o drama pessoal do casal ficou completamente fora do tom.
Justiça seja feita: a Julianne Moore dá um show do começo ao fim. E é o único ponto do filme que não cai. A Ellen Page praticamente não tem material para trabalhar na segunda metade. O Michael Shannon mescla frieza e emoção de um jeito que é ok (nada espetacular, mas não estraga o andamento).
Amor por Direito poderia ser um filme 4, até 5, estrelas. Tamanha foi a tragédia da metade para o final que a nota caiu drasticamente. Não creio que as duas partes foram feitas pela mesma pessoa.
Mas fica o alerta: você vai chorar e vai levar uma mensagem positiva do filme, mas cuidado com os apelos à emoção… O trailer tem spoiler, para aqueles que não se incomodam em saber os detalhes da trama, segue o vídeo: