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Crítica: O Escaravelho do Diabo

O Escaravelho do Diabo tenta resgatar a nostalgia, mas falha em vários aspectos.

Ficha Técnica:
Direção: Carlo Milani
Roteiro: Melanie Dimantas e Ronaldo Santos
Elenco: Thiago Rosseti, Bruna Cavalieri, Marcos Caruso, Cirillo Luna
Nacionalidade e lançamento: Brasil, 14 de Abril de 2016

Sinopse: um assassino em série tem como alvo pessoas ruivas. Alberto, um intrépido garotinho, resolve ajudar a polícia nas investigações para impedir que mais mortes aconteçam.

O Escaravelho do Diabo

O livro O Escaravelho do Diabo, escrito pela Lúcia Machado de Almeida em 1972, fez parte da infância de algumas gerações. A coleção Vaga Lume como um todo traz boas lembranças aos que tem em torno de 30 , 40 anos (talvez se recordem de A Droga da Obediência, O Mistério das Cinco Estrelas, Éramos Seis, etc).

Muitos terão o sentimento de reencontrar um velho amigo no longa que esteará nesta quinta. O texto tem algumas alterações e licenças poéticas (vemos o protagonista usando Skype, citando CSI e outras firulinhas que não fazem mal a ninguém e trazem o longa para a atualidade). Mas a boa trama que conquistou o público, durante mais de 20 edições do livro, continua lá.

Todavia, não há muito que se elogiar além da aventura/suspense policial envolvendo Alberto e o povo da cidade do Vale das Flores. Sem querer parecer Professor Pasquale, mas há um erro grave na placa com o nome da cidade: “Bem-vindo à Vale das Flores”. Galera, não se usa crase antes de palavra masculina… uma longa que tem como alvo o público infanto-juvenil poderia ter esse cuidado.

A grande falha em O Escaravelho do Diabo recai nos ombros da direção. Carlo Milani fez vários trabalhos para a TV, como por exemplo, a novela América em 2005. Na primeira cena já vemos um cemitério estranho, mais claro que deveria e uma movimentação de câmera bem desagradável. Além disso, algumas entradas de personagens em cena de forma abrupta e toda a abordagem do ponto de vista do assassino, com cenas estilizadas atrapalham, e muito, o andamento da trama.

Outro fator que ele errou a mão foi na direção dos atores. Infelizmente os jovens Thiago Rosseti e Bruna Cavalieri deixam muito a desejar, algo que já é notado no trailer e ao longo do filme se agrava. Tiago, que faz o protagonista Alberto, não tem carisma e se relaciona com os outros atores de forma muito forçada. Bruna, que interpreta Raquel (“namoradinha” de Alberto) está perdida em cena e praticamente não acerta uma. Sem querer isentar os atores, coloco o problema também na conta da direção e da escolha do casting.

Os secundários não ajudam a subir o nível. Tem dois atores em especial que são completamente desastrosos: Cirillo Luna, que faz o irmão de Alberto, e o ator que faz o namorado da Verônica, irmã de Raquel. Já Marcos Caruso, talvez o principal nome do elenco, tem bons momentos, mas mesmo ele alterna trejeitos caricaturais demais e, mesmo o personagem exigindo esse ar mais cômico, tem muitos momentos que ele passa do tom. Jonas Bloch, outro ator de renome, não acrescenta muito, mas pelo menos não atrapalha. Quanto ao assassino, mesmo aparecendo pouco ele consegue ser inacreditavelmente ruim. Em suma: foi uma das piores direções de atores que eu vi em um filme profissional.

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A trilha “grita” muito e entra para explicar algumas coisas da história, com as letras que “auxiliam” na narrativa. Não é um grande problema, mas me incomodou. A edição é ágil, as 1h30 passam rápido. A fotografia alterna momentos ok, com cenas fracas.

Como falei, o roteiro é bom. A veterana Melanie Dimantas e o estreante Ronaldo Santos fazem um trabalho digno aqui. Queremos saber quem é o assassino e as motivações para essa estranha opção (de matar ruivos). Há momentos hilários, principalmente envolvendo o Caruso. O desenlace é meio clichê (e pessimamente filmado), mas não é de todo ruim.

O Escaravelho do Diabo definitivamente não agradará aos fãs nostálgicos e não sei se encontrará o público dentre os mais novos. Sinto muitíssimo por não terem melhor aproveitado o material fonte e o bom roteiro escrito para a adaptação. O cinema brasileiro que teve boas produções recentes, como Zoom, Mundo Cão, Boi Neon, Meu Amigo Hindu, etc desta vez, lamentavelmente, não foi bem.

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