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Crítica: A Juventude

A Juventude concorreu ao Oscar em Melhor Canção, mas poderia estar para melhor filme.

Ficha Técnica:
Direção e Roteiro: Paolo Sorrentino
Elenco: Michael Caine, Harvey Keitel, Paul Dano, Rachel Weisz, Jane Fonda e Roly Serrano
Nacionalidade e lançamento:  Itália, França, Suiça, Reino Unido, 2015 (31 de março de 2016 no Brasil).

Sinopse: dois amigos octogenários, Fred Ballinger e Mick Boyle, estão hospedados em um cosmopolita hotel de luxo. Fred é um maestro aposentado e Mick um diretor que tenta filmar um filme-testamento. O modo como eles se relacionam com a arte e com os outros exóticos hóspedes e funcionários do local rende diversas aventuras recheadas de comédia e drama.

A Juventude

A Juventude é uma obra prima que, creio, infelizmente passará batido por muita gente. Mesmo a indicação ao Oscar não deve alavancar as bilheterias. Mas você leitor do Cinem(ação) não pode deixar escapar essa oportunidade.

Pegue o Maradona, o Hitler, a Rainha da Inglaterra, um monge budista e a miss universo e junte-os no mesmo ambiente. Parece aquelas piadas genéricas do tipo: “um argentino, um português e um americano estão no avião…” . Porém aqui a coisa funciona, de um modo meio louco é verdade, muito bem. Todas essas figuras, ou a representação delas, se relacionam com os protagonistas em alguma medida rendendo diálogos sensacionais repleto de bom humor e até uma certa filosofia (por vezes de buteco, mas filosofia).

A história gira em torno do drama de Fred Ballinger. Ele é um consagrado maestro que ficou conhecido pela obra “Simples Song” e, por mais que tenha feito muitas outras obras, o público insiste que ele toque aquela (uma das integrantes desse público é a Rainha da Inglaterra, que quer um show particular). Algo semelhante ocorre com um outro personagem, o Jimmy Tree (no caso deste, foi interpretando um robô em filme blockbuster). Fred ainda tem um drama pessoal que vamos conhecendo ao longo da história.

Em paralelo, o amigo de Ballinger, Mick, reúne uma equipe de jovens roteiristas para tentar finalizar um filme. Finalizar é a palavra certa aqui. Eles empacam na última cena, onde um personagem está no leito de morte, e tentam criar o final ideal para o longa (o que desencadeia um brainstorm divertidíssimo).

Harvey-Keitel-e-Michael-Caine-in-Youth

Quando os dois senhores estão juntos em tela rendem diálogos sensacionais. Desde coisas banais (que para eles não é tão banal assim) como quantas vezes eles urinaram, até conversas deliciosas sobre infância, amizade e relacionamentos. Fred também tem ótimos momentos com Jimmy ao dialogarem sobre arte de um jeito um tanto metafórico e igualmente sublime. Aliás, o filme tem muita metalinguagem, alegoria e perspicácia.

Como podem ver, o longa traz muitos assuntos e não para por aí… no meio deles (e do filme como um todo) tem a exploração de elementos duais como: claro e escuro, som e silêncio, onírico e real, memória e esquecimento, além, é claro, juventude e velhice. Arte também vem representada em vários sentidos e contemplada em diversos fazeres artísticos: cinema, literatura, música, dança… e praticamente tudo isso permeado por uma tensão sexual (que às vezes é apenas sugerida e em outras efetivada de fato, nas duas formas presentes de maneiras deliciosamente incômodas).

A Juventude

O som deste filme é qualquer coisa de esplendorosa, fazendo jus ao protagonista maestro. A música, “Simple song #3”, que rendeu a indicação ao Oscar é interpretada pela soprano Sumi Jo (que aparece no filme como ela mesmo), poderia ter levado a premiação. Ela é muito superior, tanto musicalmente quanto na relação com o filme, à canção “Writing’s on the wall” do 007. Mas os méritos auditivos não se restringem à trilha. A mixagem de som está fantástica. Tem hora que ouvimos o sininho no pescoço de uma vaca ou o cantar dos pássaros e sem atrapalhar o que está em primeiro plano (e às vezes esses sons são o primeiro plano).

A câmera do diretor italiano Paolo Sorrentino, que também assina o roteiro, é muito inteligente e se movimenta de um jeito pró-ativo. Alternando planos abertos, closes e planos médios no momento certo dando um dinamismo muito interessante a momentos que poderiam ser maçantes. Em alguns instantes há cortes meio bruscos que podem nos tirar da imersão e transformar os arcos e mini esquetes, mas é fácil comprar a ideia e embarcar no filme.

Aproveitando para falar de um pequeno problema: as cenas psicodélicas/oníricas demais, esse sim me incomodou um pouco mais. Algumas poderiam ser retiradas, mesmo entendendo o propósito delas estarem ali. Nessa hora lembrei de uma frase dita no próprio filme: “A leveza é uma tentação e uma perversão”.

Com tantos personagens é lógico que teríamos um número considerável de atores. E que atores! Michael Caine, com um pouco mais de tempo em tela que qualquer outro, passa sentimentos e sensações variadas e convence em todas: irônico, emocional, maduro. Harvey Keitel, pra variar, também está excelente. Ele traz um alívio cômico (como se esse filme precisasse…) em quase todas as aparições, mas também entramos no drama dele. A Juventude também conta com Paul Dano, Rachel Weisz (a Evelyn do A Múmia), a rainha Jane Fonda e Roly Serrano, um ator argentino, que faz muito bem o Maradona (há uma diálogo sobre a canhota dele que me fez rir alto na sala).

A Juventude_ Maradona

Mas será que os meus elogios são exagerados? A sessão que eu vi estava com metade da lotação e a reação do público (que vinha rindo e assistindo de forma a apreciar o que estava em tela) nos 20 minutos finais me impressionou. Todo mundo ficou vidrado e eu não escutava um pio. O corte final foi no momento certo e, quando os créditos subiram, as pessoas simplesmente não se levantaram admiradas com o que acabaram de presenciar. O burburinho geral depois era de aprovação (mas ressalto que era um público mais velho, talvez adolescentes não se sintam tão agraciados).

Obviamente que indico muito e corra para os cinemas, pois A Juventude, que entra agora na segunda semana de exibição, não deve ficar muito tempo em cartaz. E acompanhando o nível do filme, o trailer está muito bom. Conta em linhas gerais a história, mas não estraga nenhuma cena… confiram:

 

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