"O Cavaleiro de Copas" - (2015) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Artigo

“O Cavaleiro de Copas” – (2015)

Knight of Cups: Escrito e dirigido por Terrence Malick.

Um deserto, uma paisagem. O vento sopra, a estrada vomita cascalho, melancolia, solidão. A lembrança da memória, um espasmo de felicidade que dura pouco mas dura o que tem que durar. O belo guarda-chuva se abre nas mãos nipônicas sob o ar veloz de um carro, sorrisos vão e vêm; faróis, sons, ruídos: é o narrado que narra a narrativa sendo o passado, o presente. As imagens que desenham o sonho do rei parecem pesadelos não acontecidos, é a penumbra sombria que preenche seu vazio. A conversa entre personagem/ficção dialoga com quem vê – tanto ator quanto espectador –  e também, há a troca de alguma forma de sentir entre ambos; dão à realidade do filme a sua própria veracidade, isto é, o afastamento inerente ao enredo de quem o interpreta é de fato crucial na tentativa de desvendar os paradigmas do ser humano; o que é dito não diz respeito à persona na tela, mas em quem reflete-se como num espelho na tela que reproduz à história. “Meu filho, você é exatamente como eu. Você não consegue se entender? Não consegue montar o quebra-cabeças? Justamente como eu”.
A estranheza se dá por completo. Os fragmentos de vida que nos rodeiam nos deixam mais sós, estranhos, indiferentes, pasmos de ser. O encontro de estrangeiros como num desencontro de conhecidos. Rosa pink; viagem lunar; sexo: experimentar a vida. Pássaros que voam no mar fechado por vidros junto às palavras soltas de separação de um casal que nunca existiu ou que um dia virá existir, porém é o dilema da vida por si só o tema do mundo que vemos ali: quando que é ficção e quando é realidade? E quando não se deseja algo, mas só o desejo momentâneo da experiência desse algo, quer dizer então, que na verdade, não se sabe o que quer? Deserto e mar são vertigens, desabafos do desconhecido; a cidade clareia o que não se sabe. A cegueira, a surdez, a podridão e sujeira dos pensamentos aleatórios que divagam sobre o nada e sobre ninguém; fala-se de coragem para encarar o que se é em si e para si na vida: “[…] dê sentido a minha vida”.
Caixa de homens que sobe andares espelhados que cintilam o ambiente natural sem ar condicionado. Álcool, desilusão e nudez castigada pela escolha ou necessária pelo desejo: banho de champagne, loucura, abraços ferozes de quem busca por si mesmo; o dinheiro esconde por debaixo dos lençóis um pouco do que se procura, é como uma dormência sonolenta mas em parte com vida, contudo, morta; similar à sabores: a vida cada dia nos dá um e nem sempre é aquele que mais gostamos ou que aspiramos; há de se queixar com o oposto, com aquilo que nos afasta de nós, de nossos apetites, paixões.
 Um sorriso. Um andar diferente. Approach.
“ – Qual o seu nome?”
“ – Helen. Qual o seu nome?”
“ – Rick. Você conhece alguém aqui?”
“ – Não! É uma surpresa pra você?”
 A multidão embaraçosa abraça os risos, os brindes, à musica tocada ao fundo; é como estar só ao redor de tanta companhia que nada se vê, nada se cria, nada se dá; fome de algo que não se sabe o que é ao redor de superficialidades as quais nos envolvem: a vida seria então circunstâncias?
“[…] what can run but never walk, some word have I found but never talk.”
 Amor, emprego, riqueza. Aceitar um sim pelo não. Dizer sim para o não que se aproxima: Atravessar o que nos nega. Chegar ao sim que tu verás um S nestes dias cegos. Estar perdido não significa perder-se por completo no tempo. Perceber a velhice dando-se conta de que o passado passou, que ficou na verdade um mero resquício de si mesmo quando jovem, como um espelho de não mudança: desilusão.
“Who are you?”
Um pigmento de solidão no mundo. Um estrangeiro. Porém quando há o toque, o suave carinho, um nobre suspiro de reconhecimento no outro: esperança temporal. É como sonhar de olhos abertos, talvez sem querer enxergar o que se vê, ou melhor, o que não vê; são imagens, divagações de um querer sem querer, embora não possamos viver nesse casulo esperançoso; mesmo assim, sonhar é bom. Sedução e desespero. Estacionamentos verticais. Acúmulo de coisas, luz negra, música, desamparo no que se paga pra se ter o que se quer; apego ao finito.
 
What’s your story?”
O império do desejo: ambição. Quanto mais se tem, mais se quer ter. Grandiosidades para além do que se é; projetar-se no comprado, no que se é dono, no inexorável, inominável. Por que não?
 
“How do I begin?”
Amando.
Nota: 5

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