Crítica: Mundo Cão
Mundo Cão é um filme nacional com altos e baixos, mas que pode valer o ingresso.
Ficha técnica:
Direção: Marcos Jorge
Roteiro: Marcos Jorge e Lusa Silvestre
Elenco: Lázaro Ramos, Adriana Esteves, Babu Santana, Milhem Cortaz, Thainá Duarte, Vini Carvalho e Paulinho Serra
Nacionalidade e lançamento: Brasil, 2016 (17 de março)
Sinopse: a história se passa em 2007, em São Paulo, e foca na família de Antônio Santana (Babu Santana) e no cotidiano dele no trabalho na zoonese de São Paulo. Em paralelo há Nenê (Lázaro Ramos) um ex-policial corrupto que usa de influência para cometer crimes e gerenciar caça-níqueis. Quando os caminhos de ambos se cruzam temos a nossa trama.
Nesta quinta-feira, 17/03, estreia nas telonas o longa nacional Mundo Cão. O filme nos traz um bom elenco, um roteiro que oscila e uma direção que falha.
A trama é bem envolvente, mas há várias sub-tramas (cada personagem tem um arco que, apesar de convergirem, peca pela falta de desenvolvimento) e esse problema de identidade, sem saber o que contar, atrapalha um pouco a experiência.
O roteiro possui bons diálogos, principalmente quando trata de conversas cotidianas (como a do casal conversando no quintal) ou quando envereda para o humor (nas ótimas passagens no caminhão), usando uma linguagem fluida e descompromissada. Contudo algumas soluções são simplórias, inverossímeis ou óbvias demais.
Como eu disse anteriormente, os personagens tem arcos interessantes e uma certa profundidade dramática (mesmo com falhas). Cada um tem uma personalidade diferente e/ou contraditória que os tornam marcantes naquele microcosmos. Santana é explosivo e carinhoso. Dilza (Adriana Esteves), esposa dele, é religiosa fervorosa e vende calcinhas no salão de beleza. Nenê é cruel com quem passa no caminho dele, mas é amoroso com os animais. Os filhos também tem papeis fundamentais no desenvolvimento central.
Se os personagens estão bons muito se deve às atuações. Milhem Cortaz faz um papel comum na carreira (parece sempre que é o mesmo personagem) e o realiza de forma competente. Lázaro Ramos que evolui ao longo da trama – a primeira cena dele teve algo na interpretação que me incomodou, mas as últimas estão no nível que esperamos do Sr Ramos. Adriana Esteves ê vontade de um trocadilho… funciona no tom que a personagem pede – dramática e simples na dose certa. O jovem Vini Carvalho, o filho mais novo, se mostra confortável no papel e age com naturalidade em vários momentos (mesmo quando o personagem é colocado em situações um pouco artificiais). Thainá Duarte, a Isaura (filha do casal), cresce bastante na segunda metade da trama, de uma forma surpreendente até, com uma atuação física bastante peculiar e por vezes sutil.
Mas o destaque mesmo vai para o protagonista Bubu Santana (que fez o Tim Maia no longa de 2014). Um carisma e desenvoltura que encantam e é sem dúvida a melhor coisa do filme. O Santana personagem tem várias camadas e é exigido de diversas formas. O Santana ator dá conta de todas elas. Você se diverte e emociona. Além de sentir uma verdade muito grande ali. Quantos pais não são como aquele? Trabalhador, preguiçoso, amoroso, chefe de família, conselheiro e que quer passar o amor do time que torce para o filho? O futebol, aliás, está presente de um jeito importante no contexto da trama.
Os pontos negativos caem na conta da direção. As passagens de tempo de forma macro não são bem executadas e ficam confusas. Para pequenos momentos o diretor utiliza um recurso que lembra as velhas apresentações em power point (usado por exemplo em Star Wars) que é completamente desnecessário. Há uma cena que choca (no bom sentido) no meio do filme e é realmente surpreendente. Fora isso a obviedade prepondera. A edição do filme atrapalha o ritmo e a trilha é boa, mas não dialoga bem com a trama. Ele insiste em uma comparação do homem com o cão que na primeira vez é engraçadinha, mas depois fica repetitivo. Alguns desses elementos são releváveis, mas é a direção do bom Marcos Jorge (vide o elogiado “Estômago”) é o ponto mais fraco aqui.
A mensagem envolvendo os cães e o marco que foi uma lei estadual (12.916/08) que protege os animais, proibindo a matança arbitrária, e um subtexto importante. Então quem for muito ativista e torcer o nariz para algum ponto do longa pode ficar tranquilo que o tom é pró-animais.
Mundo Cão falha, tem altos e baixos, mas uma história que nos prende, diverte e até emociona. É cinema nacional acima da média das produções rasas que por vezes chegam ao grande público. Não é uma obra prima, mas vale o ingresso.
O trailer, depois de 1:10, revela alguns detalhes da trama que podem comprometer a experiência. Aprecie com moderação: