Crítica: Tacones Lejanos – De Salto Alto
Tacones Lejanos é o décimo segundo filme dirigido por Pedro Almodóvar e que ganhou o prêmio César de Melhor Filme Estrangeiro em 1993.
Ficha Técnica:
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar
Elenco: Victoria Abril, Marisa Paredes, Miguel Bosé
Nacionalidade e lançamento: Espanha, 1991
Sinopse: O filme conta a história de Rebeca (Victoria Abril), uma jovem mulher cuja mãe é a estrela pop Becky (Marisa Paredes), que mais se interessa pela mídia que pela família. Ela espera a mãe num aeroporto, após 15 anos sem vê-la, e alguns flashbacks aguçam a memória da jovem.
Se você gosta de Pedro Almodóvar, precisa ver Tacones Lejanos. Também conhecido como “High Heels” e até por “De Salto Alto”, o longa do espanhol tem a trava bem desenvolta, cheia de detalhes e de situações dramáticas que só ele consegue trazer.
O longa fala, sobretudo, do valor de um relacionamento entre mãe e filha. O amor incondicional é colocado em pauta diversas vezes, principalmente no começo e no fim do filme. Tudo começa quando Rebeca espera pela sua mãe num aeroporto. Elas estão brigadas, mas o reencontro das duas começa a desenrolar várias situações enigmáticas, principalmente quando o marido de Rebeca, Manuel (Féodor Atkine) encontra Becky após tantos anos. E aí, deixa de ser enigmático pois Almodóvar remonta a memória de que Manuel e Becky eram na verdade namorados anteriormente.
As coisas começam a ficar cada vez mais estranhas quando os três vão para um espetáculo de drag queens que o amigo de Rebeca apresenta (Miguel Bosé). Letal, como é conhecido na casa, tem uma amizade muito grande por Rebeca e uma admiração enorme por Becky, tanto é que sua performance é totalmente dedicada a estrela pop. Sim, no caso, aqui seria como se ela fosse a Madonna da Espanha.
No próximo parágrafo o texto apresenta SPOILERS! Se não quiser ler, tudo bem, pule para o tópico As cores de Almodóvar. 🙂 (não, mentira, lá tem spoilers também!)
Descobrimos que Letal (o amigo) na verdade é uma drag cheia de tesão… E a cena de sexo entre ele e Rebeca faz qualquer um abrir a boca. Depois descobrimos que o marido de Rebeca é assassinado. Ela e a mãe dão depoimento para um tal de Juiz (que descobrimos mais tarde ser o próprio Letal (?)) alegando que são inocentes – nessa hora Becky confessa que mantinha um caso com Manuel e que não queria mais nada com ele… Sim, o genro pegava a sogrinha. Até aí, ok. Quando volta a trabalhar, Rebeca – que é apresentadora de um noticiário televisivo – surta e se diz culpada pelo crime. AO VIVO. E aí não dá para entender qual é a dela, nem a do Juiz, nem a da mãe, nem de ninguém.
Mas afinal, de quem será a culpa? Não, este spoiler eu não vou dar porque o filme é realmente delicioso de ver.
As cores de Almodóvar
Sim, ele gosta de cores. Mas duas delas são suas preferidas neste filme: vermelho, azul e branco. No início do filme Rebeca aparece de branco e sua mãe, vermelho. Ironicamente, as duas vão usando “trocando”as cores até o encerramento do longa. Ironicamente, nada. O trabalho de figurino, arte e fotografia só não ganham de Vólver (tá, sou suspeita. Já vi Ata-me, A Pele que Habito, Tudo sobre minha mãe, Abraços Partidos, Amantes Passageiros… enfim). Mas afinal, por que essas cores?
Lembram-se de que em O Sexto Sentido todas as cenas possuem um elemento em vermelho? Pois bem, em Tacones Lejanos os azuis e vermelhos são usados para contrastar com tantos cinzas e tons pálidos. Basicamente, essas cores aparecem em roupas que as personagens principais estão usando ou em algum item da mise-en-scène em que elas se encontram. O vermelho aqui sempre mostra a força, a coragem, a audácia. (Qual é a cor mesmo que a pequena Rebeca está usando quando troca os remédios no banheiro? Sim, vermelho / Qual é a cor que Rebeca está usando para dar a “notícia do marido” em cadeia nacional? Sim, vermelho). E o branco nada mais aparece como a submissão, a tristeza, a falta de “algo”. Sim, repare na pequena Rebeca de novo, na primeira cena. Depois quando ela encontra com a mãe no aeroporto. Na última cena. Entendeu?
Tá, branco e vermelho ok. E o azul? Olha, pelo pouquíssimo que sei de cores na minha vida, sei que azul simboliza universalmente calma, tranquilidade e até mesmo tristeza (já ouviu a expressão “I’m feeling blue?”, então). O azul aparece diversas vezes para contrastar exatamente a “dicotomia” que ele cria entre as cores citadas anteriormente. No azul, o vermelho BERRA, parece sangue, dá a sensação de que vai explodir. Já o branco parece que MORRE, perde força, causa nostalgia.