“House of Cards” – Chapter 41
Decisões, conchavos, mentiras, ilusões. Todas essas qualidades pertencem aos seres humanos e são parcelas, que em certa medida, acabam se expondo nas ações do personagem, no caso, de Frank. A política é um ambiente estranho, árduo e penoso de se adequar, sem contar que o círculo que engloba tal relacionamento, muitas vezes, acaba dando voltas numa nuvem de mistério e dúvida.
As leis naturais existem independentemente dos homens já que há a necessidade do fogo aquecer, da pedra cair, da água umedecer. Não há a possibilidade de tais fatores acontecerem de forma contrária, como o fogo não queimar ou a pedra não cair, contudo, é possível que isso aconteça a partir do momento que haja alguma força externa à natural que a sobrepuja de seus caminhos necessários, e esse movimento se dá pela ação violenta a qual é contrária às leis da natureza. Neste caso, o impossível de acontecer torna-se possível, visto que só há possível quando há deliberação e escolha, só se pode falar propriamente no possível para as ações humanas. (Chaui, Marilena.) A abordagem do possível e do impossível, assim como, do contingente, do acaso, e do necessário, diz respeito ao fato de que não pode haver escolha sem pensamento. A razão determina nossas ações, como ao violentarmos o natural jogando uma pedra para cima, mesmo que ela, por força de sua natureza, caia em seguida. Ou seja, sabemos que ela cairá, entretanto, a jogamos por deliberação própria e corremos o risco de sermos atingidos por ela ao voltar ao seu curso natural de ação. É neste caminho, pois, que pode-se haver uma reflexão política a respeito das ações do homem, e neste momento, não mais no estado natural do seu ser, porém em sociedade.
Essa reflexão, acredito ser plausível no caso de Frank Underwood, uma vez que seria demasiado difícil separar o joio do trigo. Sua vida é a política. Sua vida é o poder. Sua vida são suas escolhas deliberadas racionalmente, como ser humano. Estar ciente de suas ações e de seus percalços dizem respeito ao que ele é e acredita como certo a se fazer.
Ao começar a quarta temporada, já estava a par do que estaria por vir, mesmo porque, para quem segue a narrativa desde o início, temos uma bela impressão de que talvez muitas coisas virão a dar errado para Frank, mas isso não passa de um devaneio hipotético de minha parte. Neste episódio, em específico, e por isso o escolhi para aqui dialogar um pouco sobre ele, e é por isso que acabo escrevendo, ou seja, pelo que me atrai e me desconcerta, que me tira do eixo e em fim, me faz pensar. O momento em que situo tudo isso, é particularmente na minha opinião uma das melhores cenas da série, e isso pondero no sentido artístico. Gosto muito quando há a “quebra da quarta parede”, isto é, quando o personagem retira-se da ação performática mas ao mesmo tempo não; contudo, de uma forma diferente, não mais com um afastamento para com quem assiste mas para e diretamente para quem o vê. Isso se dá numa cena não muito longa, quando ao fazer seu pão com manteiga de amendoim, uiva suas vontades e suas crenças a partir de uma história que se passou nos seus tempos de adolescência, a qual, percebemos nesse solilóquio, não fora das melhores.
Nota: 5