E o Oscar (infelizmente) não vai para…
A partir da 82ª edição do Oscar, a de 2010, o número de candidatos na categoria principal, a de melhor filme, aumentou de tamanho. Se antes eram apenas 5 filmes, agora é possível ter até 10 concorrendo. Isso abre possibilidades para ótimos filmes entrarem no páreo, mas também para alguns nem tão bons figurarem.
Contudo, tal como no ano passado, apenas 8 estão na lista. Esse número seria justificado caso não tivéssemos bons longas no período. Mas definitivamente não foi o caso. Vou citar 10 filmes que ficaram de fora do prêmio principal, dois deles sequer foram lembrados em quaisquer categorias.
Sempre vale o aviso do amiguinho: essa é uma lista pessoal, provavelmente a tua será diferente (posso ter colocado um filme que você detestou ou ainda deixado de fora algum genial. A parte dos comentários está aberta para colocarem o ponto de vista de vocês e, com educação, será bem-vindo sempre).
Todos os citados tem crítica e/ou podcast no site, então caso se interessem pela análise completa (em geral as críticas sem spoiler) é só clicar nos títulos. Aproveitem, discutam e, quem não viu, assistam:
A melhor animação do ano (mas que deve perder o Oscar para Divertida Mente). Traz uma narrativa peculiar, extremamente simbólica e com uma das melhores cenas de sexo que eu vi no cinema. É de um incômodo realismo e de uma loucura surreal. Traz pelo menos dois personagens que temos vontade de explorá-los ainda mais. Um tratado sobre a mente humana. Vale o aviso de que não é uma animação infantil.
Filme de estreia na Netflix, e ela começou de modo marcante, mas foi completamente ignorada no Oscar. Um amargor fulminante na narrativa de uma criança envolvida nas mazelas de uma guerra civil. Fotografia exuberante e sarcástica. Duas das melhores atuações do ano com o Idris Elba como o Comandant e Abraham Attah como Agu, em uma das melhores atuações infantis que eu já vi.
Uma das opções mais estranhas da academia já que este é um filme com “cara de Oscar”. Relacionamento entre duas mulheres em meados dos século passado em uma das principais histórias de amor recente, dando um novo peso ao gênero romance. Kate Blanchett e Rooney Mara em uma dobradinha praticamente perfeita, atuações e personagens envolventes, sensuais e fortes. Design de produção, figurino e fotografia que te transportam para a época.
O filho de Apollo Creed é treinado pelo Rocky Balboa. Poderia dar errado, mas o filme deu muito certo. E o sétimo filme do Garanhão Italiano nos brinda com uma homenagem aos predecessores e dá um belo ponto de partida para uma nova sequência. Pequenas e grandes referências em todos os aspectos. Além de ter a provável melhor atuação de Stallone na carreira. Trilha, planos sequências nas lutas e roteiro são os pontos fortes aqui.
O provável vencedor da categoria de animação e indicado na de roteiro original poderia estar tranquilamente dentre os melhores do ano. Um grande retorno da Pixar. Tornou concreto os sentimentos dentro da nossa mente. Saímos do filme nos perguntando qual sentimento nos dominou em determinada situação. Uma bela metáfora sobre o rito de passagem para a vida adulta na figura do amigo imaginário. Uma das melhores piadas do ano, a que envolveu fatos e opiniões. Filme que atinge os pequenos e grandes de forma diferentes e ambas muito precisas.
Ex Machina- Instinto Artificial:
Sequer exibido nos cinemas nacionais temos aqui um drama, ficção científica e suspense da melhor qualidade. Uma aula de roteiro com uma trama envolvente, personagens complexos e diálogos inteligentíssimos. Questionamentos de um futuro bem atual sobre como lidamos com as informações e inteligências artificiais.
A história de um menino em busca do pai poderia ser contada de várias formas. Mas Alê Abreu optou pela arte no sentido estrito. Uma doçura açucarada de todas as cores e sensações na animação brasileira indicada ao Oscar. Narrativa sensorial brincando com todos os sentidos de uma forma sinestésica. Crítica ao nosso modo de vida pipocando por todos os lados.
Tarantino sendo Tarantino. Para muitos bastava eu parar aqui, para o bem ou para o mal. O longo longa de um diretor odiosamente amado nos traz tantos elementos que é uma tarefa ingrata resumi-los aqui: diálogos sensacionais, personagens dúbios e complexos, claustrofobia ampliada, formação do povo americano, trilha de rara qualidade. E claro: violência, sangue, flashbacks e elementos escondidos na obra mais madura (não necessariamente a melhor) do Quentin.
O nacional que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro e, injustamente, ficou de fora do top 9 seguramente é uma das melhores coisas do nosso cinema recentemente. Riquíssimo em críticas sociais a partir dos confrontos entre os personagens e de detalhes como câmera, cores e uma piscina que é um locus de tal importância que praticamente se torna um personagem. E a Regina Casé se apresentando de forma brilhante para aqueles que só a conheciam pelo programa de TV.
Star Wars – O Despertar da Força:
As expectativas que já eram altas foram atingidas e superadas. Tal como Creed, o sétimo filme da ópera espacial é extremamente referencial, principalmente em relação à Nova Esperança, mas também traz um vigor à série que pode significar muito anos de deleite para os fãs. Novo personagens carismáticos (Ray, Finn, Paul e claro BB8) e velhos amigos retornando de forma bem digna (Han Solo, Chew, Leia e Luke…). Mérito por usar efeitos práticos e em favor da narrativa. Estourou nas bilheterias americanas e mundial.
Mais do que dizer que este ou aquele filme poderia ou não estar na lista, algo que ocorre praticamente todos os anos, o que vemos aqui é uma diversidade rara na indústria. O que prometia ser um ano de retornos furados ou franquias caça-níqueis temos um sopro de pluralidade que permite diferentes públicos serem agraciados com obras de qualidade. E frases como “que época boa para ser cinéfilo” se tornam cada vez mais comuns.