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Crítica: As Sufragistas

As Sufragistas narra a luta das mulheres para ter direito ao voto no Reino Unido, no início do século passado. Mostrando o movimento pela igualdade que, após anos de discussões pacíficas, tornou-se mais contundente depois de sucessivas perdas por vias políticas, agindo, por vezes, até fora da lei. Nos brindando com a frase: “Se isso [brigar pelos nossos direitos] é contra a lei, então a lei é imoral”.

Acompanhamos a transformação de Maud Watts (Carey Mulligan). Ela começa querendo estar alheia ao processo e vai sendo introduzida na efervescência política. Maud acaba lidando com conflitos familiares, no trabalho e no engajamento da luta feminista. Essa jornada tripla faz com que a gente sinta empatia pela personagem e que torçamos por ela. Já que está com bastante tempo em tela e a história é conduzida sob o prisma da personagem, essa identificação é muito bem-vinda. Contudo, é necessária a ressalva de que a Mulligan, faz uma interpretação um pouco inconsistente – deixando a desejar em algumas cenas- mas ainda assim correta.

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Falando ainda das atuações temos a Helena Bonham Carter como Edith Ellyn, uma forte entusiasta do movimento e que está disposta às últimas consequências para atingir o objetivo maior. Carter dá um tom muito mais intimista do que estamos acostumados a ver. Os (bons) exageros da saudosa Bellatrix Lestrange, de Harry Potter, são deixados de lado e vemos uma faceta pouco comum da atriz. Já a atriz favorita de muitos, Meryl Streep, aparece pouquíssimo. Não estou a par dos bastidores, mas dá a sensação que ela emprestou o prestígio mais por apoio à causa do que pela atuação em si. Vide o fato dela estar presente nos cartazes. Há algumas outras personagens, mas com presenças funcionais, algumas com um pouco mais de destaque, mas no todo sem relevância digna de nota.

Os personagens masculinos, em menor número – como não poderia deixar de ser, são prejudicados por atuações fracas e um mau desenvolvimento dramático em algumas passagens. O inspetor que conduz a investigação (Brendan Gleeson) é um tanto previsível o conflito interno gerado não convence. O marido de Maud, Sonny Watts (Ben Whishaw), gera um confronto até interessante com a protagonista, mas a atuação de Whishaw tem cacoetes que incomodam e algumas falas desnecessárias. Já o filho do casal, o jovem Adam Michael Dodd, emociona e, apesar de não ser espetacular, cumpre bem a função.

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A diretora Sarah Gavron, não tem tantos trabalhos no currículo e a inexperiência pode ter atrapalhado. Destaco, negativamente, o ritmo e o tom do filme. Algumas cenas não são exploradas em sua plenitude. Falta algo de impacto como vemos em “Os Miseráveis”, onde Fantine (Anne Hathaway) é encurralada pelas colegas no trabalho. Parte do roteiro se repete desnecessariamente e temos alguns momentos que explicam demais. O roteiro, de Abi Morgan, não traz grandes surpresas, sendo bem óbvio e conveniente em vários momentos.

Os pontos positivos em As Sufragistas, além da importância do tema, fica pela parte de fotografia, design de produção e figurino. Somos bem situados no tempo e espaço propostos. E apesar ter ressaltado algumas cenas incômodas anteriormente, justiça seja feita: há duas de grande vigor emocional e que são lindamente construídas. Uma da Maud, com o marido e o filho, mais para o final do filme. E outra, também no ato final, e novamente com a Sra. Watts, mas agora com o inspetor Arthur Steed. A discussão deles é brilhante. Confrontando duas ideologias, vemos, por parte do inspetor, os argumentos, que hoje são datados, mas que fazem sentido para a época.

As Sufragistas entrega, como filme, menos do que poderia. Mas é uma aula (infelizmente não de cinema) que merece ser vista. Tomara que a sétima arte continue ajudando a tornar do tema do ENEM de 2015, “A persistência da violência contra a mulher na sociedade”, algo apenas escrito nos livros de História e não uma realidade cotidiana.

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